Capítulo 11

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Eram exatamente 20:43 quando eu terminei de passar um gloss cor de cereja nos lábios e verificar com uma rápida olhada no espelho o meu look de hoje à noite.

Eu vestia um cropped vermelho de crochê e um short de malha preto da adidas. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo e coloquei brincos em formato de cereja nas orelhas.

Minha mãe deu dois toques na porta antes de abrir.

-Não volte tarde, está bem? Qualquer coisa me ligue que eu vou na hora te buscar.
Assenti, sorrindo.
-Amy irá também? Ela poderia dormir aqui, não acha?
Coloquei a tarraxa do brinco e amarrei os cadarços da minha bota preta que comprei em uma liquidação da Colcci.
-Eu não sei se ela vai, mãe. - peguei meu celular e respondi a mensagem de Kristin que dizia estar em frente à minha casa. Dei um beijo em minha mãe e depois no meu pai que estava em sua poltrona indiana da sala.

-E aí, garota? Animada pra experimentar coisas novas?
Estranhei a expressão "coisas novas" mas acabei rindo e aceitando sua proposta. Ela me ofereceu um cantil de bolso que cheirava a álcool puro e mais outra coisa que eu não gostaria de saber o que é.
-Bebe.
Dei um gole e a bebida queimou minha garganta e eu gostaria de um copo d'água enorme bem gelado.
-Mas que porra é essa aqui?
Kristin deu de ombros e começou a dirigir.

A Dixie Tavern parecia um bar gótico com uma mistura de Indie Folk. Cheirava a charutos, cerveja e Liza tinha razão, cheirava a maconha também.
Entre as cortinas vermelhas após a entrada, inúmeras lâmpadas de leds pendiam do teto. Minha pele ficou com um tom azul, misturado com verde e eu me senti como se fosse um alienígena. Lá em Eugene, tínhamos algumas boates, mas nenhuma parecida com esta. Dezenas de pessoas dançavam com o som alto que o dj tocava. Avistei uma menina com pulseiras florescentes verde e azul, e no seu rosto alguém havia desenhado dois corações com tinta neon laranja.
-Eu vou buscar uma bebida! -Kristin gritou por cima da música e foi para o outro lado do salão, se inclinando na bancada do bar.
Senti alguém me tocar e vi Cristina ao me virar, junto com Jane e...Amy.
Ela estava com duas pulseiras neon e cada braço e seu cropped branco aparentava ser azul diante da luz negra. Eu devo ter ficado olhando-a por muito tempo, pois Cristina pigarreou alto demais.
-Onde está Kristin?!
Apontei para o bar, onde a garota loira voltava com dois copos enormes de cerveja, tomando cuidado para não derrubar.
-Vocês chegaram rápido!
Cristina apontou para Amy.
-Passamos para buscá-la.
Kristin me entregou um copo e eu bebi metade em um só gole.
-Então a capitã do time resolveu aparecer!
Amy sorriu e deu de ombros. Percebi uma leve vermelhidão em seu queixo e quase me belisquei por ter sido tão estúpida mais cedo.
Você vai tomar isso? -Amy pegou o copo de Kristin e bebeu o conteúdo em um só gole, escorrendo um pouco para os cantos de sua boca.
As meninas deram um grito de entusiasmo e observei Amy levantar uma sobrancelha para mim.
O Dj começou a tocar uma música eletrônica conhecida e Cristina puxou Amber, que chegara logo depois, para dançar. Ela rebolava sua cintura contra as costas de Amber, que balançava os braços no ritmo da música.

Olhei para Amy, que permanecia encostada na parede, observando as meninas.
-Então você resolveu aparecer? -fiquei de frente para ela, balançando o corpo para frente e para trás.
-Eu não vim por sua causa.
-Eu sei.
Amy suspirou e pôs uma mecha do cabelo atrás da orelha.
-Meu pai apareceu lá em casa e eu quis sumir daquele lugar antes que a briga começasse.
Meu coração pesou e eu me aproximei mais um pouco, tomando cuidado com meus movimentos.
-Eu sinto muito.
Quando Amy não disse nada, eu falei novamente.
-E me desculpe pelo seu queixo.
Ela abaixou a cabeça e depois a levantou.
-Eu vou buscar mais bebida.
Depois de Amy sair, peguei meu celular do bolso e entrei no Instagram . Jake tinha postado alguns stories e eu resolvi clicar para ver. No primeiro, ele aparecia no que parecia ser um bar. Havia uma mesa de sinuca atrás dele e avistei Mason Byers do time de futebol americano jogando. No segundo, Jake aparecia com o braço ao redor de uma garota. Era Dakota Silvers, sua ex-namorada líder de torcida. Respondi com: "O que Dakota está fazendo aí?". Minutos depois seu antigo story tinha se apagado e aparecia "conteúdo não disponível".
Vai tomar no cu também, pensei.
Enquanto Amy voltava com mais um copo de cerveja, passei entre as cortinas e saí para o lado de fora da boate. O vento frio pinicou meus braços e eu estremeci, desejando um casaco. Senti meu telefone tremer na minha pochete, mas o desliguei. Não queria ouvir mais desculpas de Jake em relação àquela garota. Eu estava saturada. Estava saturada do Jake, de Eugene, de Portland, da Fox, de Amy e toda sua baboseira. Eu estava farta de tudo isso!
Senti alguém sentando ao meu lado e percebi que era ela.
-Por que não está lá dentro se drogando como Kristin e Amber?
Balancei a cabeça.
-Prefiro ficar aqui do lado de fora.
-O que aconteceu?
Suspirei. Eu não ia contar à Amy que meu namorado pretendia me trair pela segunda vez, não é mesmo? Eu nem queria estar falando com ela.
-Só estou cansada.
Amy pegou no meu braço e se aproximou.
-Você não está cansada. Só precisa de uma bebida. Eu vou te dar uma.

E ao entrarmos novamente, avistamos Kristin Lincoln e um cara tatuado com uma blusa da Lacoste se beijando. A coisa parecia muito nojenta mas ela parecia gostar.
Depois de uma dose de vodca, eu me sentia incrivelmente melhor. O álcool já corria pelo meu sangue eu me sentiam energizada. O Dj tocou Bad Idea da Girl in Red, uma das minhas cantoras favoritas e eu surtei, puxando Amy para a multidão de pessoas que dançavam.
-Eu amo essa música! - gritei para Amy.
-Eu também! - ela respondeu e chacoalhamos nosso corpo no ritmo da música. Sentindo o álcool surgir efeito, pus meus braços ao redor de Amy e senti seu corpo estremecer diante do meu toque. O refrão da música zumbia em meus ouvidos mas eu só prestava atenção nos olhos verdes da garota que estava na minha frente. Sua boca se abriu em surpresa quando eu me aproximei e encostei minha testa na dela. A emoção do lugar, da música e dos nossos corpos eram surreais. Minha respiração soava ofegante e eu acabei tropeçando nos meus próprios pés, batendo meu nariz contra Amy. Nós rimos e ela colocou uma mecha rebelde do meu cabelo atrás da orelha.
-Você está doidinha.
Assenti várias vezes, esfregando nossos narizes um contra o outro. Senti meu corpo amolecer e Amy apertou minha cintura um pouco mais forte.

Senti nossas respirações se acelerarem e a música se tornar apenas um zumbido bem baixo.

BROKED - Concluída Onde histórias criam vida. Descubra agora