16 - Traga o fogo, vamos queimar de novo

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O idoso assistiu a casa emergindo entre as construções vizinhas, com certa expectativa no olhar. Por dentro, o lugar perdera a glória de outrora, estava sujo, malcuidado e quebrado. Chamou pela esposa, sem resposta. Chamou os filhos, também não os ouviu responder. Por último, gritou pelo elfo doméstico. Este veio sem demora, curvando-se até encostar o nariz trombudo no chão.

- Mestre Orion retornou - disse ele, com alívio. - Monstro está pronto para servi-lo, senhor.

- Prepare banho e jantar para mim.

O elfo sumiu, e o homem se viu livre para caminhar pela casa. Nem sinal de vida humana. O aposento de Sirius ainda tinha seus pertences, objetos abandonados, deixados para trás por seu dono. Sob a velha cama, havia um santuário para ele. Diversas fotografias do tempo de escola e bandeiras de quadribol. Procurou no quarto de Regulus, mas não haviam fotos ali. Itens pessoais foram retirados, mas as taças de prata e outros tesouros que ele ganhou foram dispostos sobre a lareira, sob uma camada de poeira. O quarto principal estava mais desolado que os outros, tudo fora coberto por lençóis, até o retrato, tirado no dia do casamento, do qual Walburga tinha tanto orgulho.

- Onde ela está? Onde eles estão?

- O senhor Regulus se foi depois da guerra. A senhora Walburga morreu de tristeza, logo depois.

- E Sirius? Você fez um santuário embaixo da cama.

Monstro sacudiu a cabeça, as orelhas de abano criaram uma leve brisa. Ele não parecia capaz de falar, apenas se retirou com uma reverência. Depois do banho, Monstro deu o melhor para encontrar vestes velhas usáveis. Enquanto servia a refeição, o elfo deixou um rolo de páginas recortadas de jornais e revistas. Todos mostravam Sirius, desde os 22 anos, ao lado de um jovem da mesma idade, a frente de um estabelecimento. Conforme o tempo passou, o lugar ficou mais iluminado, e os dois ficavam mais próximos. Em uma das reportagens do dia dos namorados, eles se abraçavam e beijavam, sorrindo. A legenda dizia que eram Sirius Black e Remus Lupin, proprietários do Bar Antique, eleito o melhor restaurante do ano algumas vezes seguidas. Na última foto, juntara-se a eles, uma garota linda, identificada como Emma Black. Ela devia estudar em Hogwarts agora. Monstro garantiu que o homem teria uma cama confortável para passar a noite, mas nem assim ele dormiu bem. As noites na América do Sul eram mais abafadas, e os pássaros cantavam durante seu sono na floresta.

De manhã, por acaso, uma gélida manhã de domingo, depois do café, disse que ia às compras. O elfo o reverenciou e disse que se ocuparia limpando a casa, para que voltasse a ser habitável. Ele aparatou para o vilarejo e entrou na primeira loja de roupas já aberta. O dono o encarou e empurrou a esposa em direção a porta dos fundos. Outro homem, mais velho, chegou perto do balcão, e fingiu remexer a caixa registradora.

- Lorde Black, que honra. Pensava-se que...

- Que eu estivesse morto? Sei que tipo de sortilégio assombra minha família. Agora, quanto quer pelos robes ali?

Não muito longe, Emma avançava pela rua, para o correio. Tinha preparado o modelo definitivo, para ser costurado em veludo azul brilhante. Podia imaginar Marlene exultante com sua escolha. Ao sair, foi empurrada pelo impacto com Danna Ford e Sarah McCaulie, que carregavam chocolate quente, e com as mãos de alface que tinham, derrubaram as canecas no uniforme de Emma.

- Ah, desculpe - disse Danna, suspirando de um jeito que fazia Emma querer socá-la -, mas estamos com pressa. Você entende isso, não é?

Elas deram os braços e retomaram a caminhada. Emma levantou, lamentando a camisa irrecuperável. Marchou de volta ao castelo, tinha muita coisa para fazer, não tinha tempo a perder. Um segundo. Foi todo o necessário para Orion arquitetar seu plano.

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⏰ Última atualização: Dec 02, 2019 ⏰

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