Capítulo 5

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Lys

Alberto provavelmente estava surtando, já havia me mandado tanta mensagem que eu nem sabia mais o que responder, então passei a ignorá-las momentaneamente.

_ Filha, quer dar uma volta no  mercado? _ minha mãe não tinha nem vestígios da mulher de antes, ela está totalmente feliz.

_ Como andam as coisas aqui? _ pergunto enquanto dirigimos até o mercado.

_ Tem chovido bastante e o clima está agradavél, engraçado que não sinto nem um pouco de saudade daquele clima gelado dos estados unidos _ eu não respondi, minha mente estava vagando por algumas lembranças do passado _ filha?

_ Desculpe mãe, nem prestei atenção, estava lembrando do Charlie _ minha mãe me olha triste _ como será que ele seria? Ele estaria com 30 anos, e ia adorar. Eu queria tanto mãe, ter tido a oportunidade de ter salvo ele, mas eu não consegui, o dinheiro que dei, queimou junto com ele, o que prova que dinheiro não significa nada, e que eu tinha que ter feito outra coisa, tipo ter denunciado aquele monstro que se  dizia meu pai por todas as vezes que ele chegava em casa e te batia e abusava de mim _ minha mãe sabia o que aquele traste fazia, mas ela não era a mulher que é hoje, ela tinha medo por mim e se ela entrasse no meio era capaz dele me matar.

Uma vez ela até tentou, ele bateu nela e a amarrou e fez tudo que quis comigo e depois me bateu até me deixar inconsciente, quando minha mãe me pegou e levou para o hospital com a justificativa que tínhamos sido assaltadas ele foi pouco depois, eu ia contar na hora que ele chegou, fingindo estar no telefone dizendo que eram os amigos dele na polícia e que eles já iam atrás do falso suspeito e que não ia ficar assim, a "filhinha" dele não ia passar por isso e ninguém ia fazer nada, e as enfermeiras encantadas por ele ser protetor e carinhoso, mas o auge do cinismo dele foi quando ele falou pra minha mãe: "não quero que o Charlie ande por aí com esse perigo que tá, vou contratar segurança pra família toda" e as enfermeiras perguntaram porque e ele fingiu um falso orgulho dizendo que Charlie era gay e que por mais que fosse fácil ele aceitar para as pessoas na rua talvez não fosse, mas a questão é que ele já havia mandado matar meu irmão. Enquanto as enfermeiras caiam de amor minha mãe e eu estávamos morrendo de medo, se ele tinha essa frieza Deus sabe lá o que ele seria capaz de fazer.

_ Eu penso nele as vezes, lembro do sorriso dele, de como ele tinha vida, e lutava pelo que queria, de como nos tivemos que esconder o namoro dele com o Léo, e coitado do Léo, já tinha 18 mas perdeu a vida por amar, logo depois que chegamos na Hungria, eu liguei para a mãe dele, ela disse que estava tudo bem, e que ela jamais ia nos condenar por culpa daquele monstro, todo mundo sabia o que a gente passava. Menos eu.

_ Olá minhas garotas mais lindas. _ Freddie é o atual marido da minha mãe, é incrível como ele é maravilhoso com ela e comigo, se ele tivesse sido meu pai, as coisas teriam sido diferentes.

_ Onde você esteve Fred? Sentimos sua falta _ minha mãe fala e ele sorri. Ele olha para ela com uma plenitude desigual, a devoção dele me lembra Alberto.

_ Fui buscar uns queijos para seu Zé. _ eu sorri e eles me olham curiosos e com uma pergunta silenciosa no olhar.

_ É que eu acho engraçado a forma como vocês se tratam aqui, é tão... livre, eu gosto disso, minha mãe já parece uma brasileira nata.

_ Ah filha, é impossível não amar esse lugar e querer ter uma vida pra sempre aqui, e agora você também está segura _ engoli seco, se ela soube dos últimos acontecimentos e que eu não estou aqui apenas por medo de ser amada pelo Alberto _ e eu tô mais feliz do que nunca _ continua _ e quando o Alberto vem?

_ Não sei ainda mãe, mas posso perguntar. _ eu conheço minha mãe, ela não vai me dar sossego até que Alberto venha, mas eu terei que enrolar mais, preciso de tempo.

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