A quinta-feira amanheceu fria novamente. Eu já havia acordado há alguns minutos e me distrai olhando para a varanda do quarto. Vento forte balançando as árvores lá fora, a chuva fina, gelada e persistente. Frio não combina com Miami, mas combinava bastante com meu humor nesses dias. Peguei meu celular pessoal na mesinha ao lado da cama. O whatsapp com milhares de mensagens não visualizadas, como sempre. Soltei o ar e revirei os olhos pensando que assim continuaria no que dependesse de mim. Olhei só o topo da lista, meus contatos fixados: grupo do trabalho, Taylor, mamãe, Chris, papai, alguns amigos mais próximos... e Camila. Cinco mensagens novas dela desde ontem após aquele desastre de ligação. Bufei e me afundei nos lençóis. Melhor se não tivesse atendido. Acusações e ignorância. Senti uma pontada na cabeça, dorzinha chata desde ontem. Larguei o celular na cama e fui ao banheiro tomar uma ducha morna e escovar os dentes. Vesti um conjunto moletom, prendi o cabelo em um coque e voltei para o quarto. Estava arrumando a cama quando o celular tocou estridente fazendo minha cabeça doer ainda mais.
- Ah, que saco! Não tenho um minuto de paz! – resmunguei antes de atender – Alô!
- Lauren! – a voz de Camila dela saiu mais fina e alta que o normal – É sério isso? Você vai me ignorar?
- Ham? – olhei assustada o visor do celular confirmando que era ela mesmo. Bati com a mão na testa. – Ah, oi Camila. Acabei de acordar. Tá falando de que? – me fiz de desentendida.
- Te mandei mensagens! Desde ontem! – ela reclamou.
- Com certeza nada que não possa esperar! – já devolvi. Ouvi a morena suspirar exasperada.
- Achei tivéssemos esclarecido isso ontem.
- Muito bem esclarecido sim. – resmunguei com os olhos apertados de raiva.
- Lo, - ela respirou fundo tentando manter a calma – não faz sentido isso. Já estamos a duas semanas viajando cada uma para um lado. Estou em Nova York a trabalho, sozinha, cansada, morrendo de vontade de voltar para casa. Você sabe que, se eu pudesse, ia embora agora para te ver antes de você viajar.
- Você pode, mas não quer! – acusei. A ligação da noite passada se repetindo.
- Eu posso!? EU POSSO!? – esganiçou enraivecida – Você já me tira do sério logo cedo! – ouvia os passos dela andando nervosa de um lado para outro.
- Pode! – repeti firme.
- Não, não posso! Você sabe que não posso. – sua voz saiu mais baixa dessa vez.
- Não concordo. – cortei a fala dela, mantive meu tom ácido. – Mas o que estamos conversando então? Já está tudo resolvido.
- O que está resolvido, Lauren? O que? Pelo amor de Deus! – a voz fina demonstrava sua irritação.
- Você fica aí e eu aqui. Quando der, e se der, a gente se vê. – falei tentando soar indiferente.
- Tá de sacanagem com minha cara, só pode! – ela riu debochada – Se der!? SE DER, LAUREN!? Você... – ela fez uma pequena pausa e soltou o ar preso – você, ainda mais do que eu, sabe da correria da nossa vida, das nossas agendas! Por que está fazendo isso comigo?
- Nem tente virar o jogo! – briguei. Foi minha vez de ficar andando de um lado para outro do quarto – É claro que sei das agendas! Me desdobro em cima das nossas agendas para alinhar nossos compromissos e ficarmos juntas o máximo possível! Super entendo e fico o tempo que precisar longe de você por causa dos nossos trabalhos. Eu não gosto, mas sei que faz parte! – Eu falava rápido, sem pausa. – Mas você está aí hoje para essa maldita festa sendo que não precisava! Podia ter vindo embora ontem! Esse playboyzinho está armando de tudo para te cercar! Deu em cima de você desde o primeiro dia! E você vai na festa com ele hoje ao invés de estar aqui! – joguei para cima dela. Sentia meu rosto quente e minha cabeça latejava agora. Ela ficou em silêncio por alguns segundos.