_ Jake? – sussurrei com dificuldade, me arrependendo em seguida do ato mal pensado. Minha garganta estava completamente seca, fazendo com que a voz rouca fosse como uma faca afiada brincando de se arrastar por minhas entranhas. Arquejei.
Uma terrível crise de tosse teve início de forma doentia assim que ameacei erguer minhas pálpebras. Meus pulmões ardiam impetuosamente. O que estava acontecendo?
De repente, um pano úmido foi pressionado contra meus lábios de forma rude e desesperada. Gosto adocicado invadiu meu paladar, fazendo com que saliva irrompesse por toda a extensão de minha boca.
A tosse parou. Abri os olhos.
Primeiro veio a dor ocasionada pelo brilho forte do local em que estava. Depois, o choque de realidade.
Estávamos em meu quarto. As mesmas cortinas, as mesmas paredes, os mesmos móveis... Tudo como era antes, exceto por uma máquina hospitalar que marcava meus batimentos ligada a meu braço e instalada estrategicamente ao lado de minha cama. Mamãe, papai, tio Marcel e tia Ana. Quatro? Espere... A líder... Onde...?
O colchão abaixo de mim pareceu transformar-se em espinhos. A cor se esvaiu de meu rosto e vertigens alucinantes invadiram meu sistema nervoso.
Batalha. Morte. Aurora. Jake. Perda de consciência. A líder me salvou. Morreram por mim. Estou livre. Meu pai ferido.
As lembranças me bombardeavam de forma desregrada, completamente fora de ordem, deixando-me a terrível missão de organizá-las o mais rápido possível a fim de entender em que ponto de minha vida havia sido desligada.
Confusão transbordava de minha expressão.
_ Acho que preciso de um tempo a sós com minha filha... – murmurou minha mãe.
Tio Marcel e tia Ana assentiram e, antes de saírem, acenaram para mim e baixaram a cabeça. Papai beijou-me a testa e se retirou também.
Formei uma linha com os lábios assim que escutei o ruído da tranca fechando-se e apertei os olhos, evidenciando minha sede e minha dificuldade em falar.
Mamãe entendeu imediatamente. Voltou-se a uma garrafa localizada logo atrás de si e encheu um copo d'água. Em seguida, entregou-me, sentando-se a meu lado e me encarando.
_ Você dormiu por uma semana inteira... – sussurrou ela com expressão indecifrável.
A água que descia por minha garganta ameaçou voltar. A cor de minha face se esvaiu. Um terrível arrepio tomou minha espinha.
Engasguei.
_ O-o quê...?
_ Sim, uma semana inteira.
_ Meu Deus, por quê?
_ Seu pai disse que você estava sendo purificada, mas não é isso que interessa agora. O que importa é que há muita coisa que precisa saber... Muita coisa...
_ Então diga-me! – implorei, sentindo o coração acelerar.
_ Estou com medo de contar... Você pode não estar completamente recuperada e...
_ Mãe, estou ótima! – afirmei. – Por favor, não enrole. Do que se trata?
_ Perdas, minha filha... Tivemos algumas perdas. – seu olhar tornou-se distante, quase aéreo, provavelmente pela tristeza que invadia sua alma ao ter que me contar tais fatos.
Engoli em seco e assenti, encorajando-a a continuar.
Após um longo suspiro, mamãe focalizou a parede e bombardeou-me:
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O Ciclo de Sangue - A Escolha da Herdeira (livro 02)
FantasiClara tem 16 anos e já treina com os Luminescentes desde que se entende por gente. Entretanto, não é bem isso que seu coração deseja. Vivendo insatisfeita, Clara se revolta e muda de lado, surpreendendo e desestabilizando a todos, inclusive sua mãe...