Two

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Cold Hearted - Alex Holtti

As aulas estavam prestes a começar.
O primeiro dia de aula. No primeiro ano do ensino médio.
Eu não queria ir para aula. Não queria ver pessoas. Mas eu tinha opção? Não, não tinha.

Todos os dias, eu ficava pensando no abraço que Choi Soobin havia me dado. Aquilo, de alguma forma, me afetou.
Mas depois daquele dia, não o vi mais. Ele tinha dito que morava perto da minha casa, mas do mesmo jeito, sem notícias dele.

Antes de sair de casa, tomei três pílulas de antidepressivos. Não queria ter crises durante as aulas. Pelo menos, não naquele dia.
– Eu devia ter pego o número do Choi Soobin. – falei para mim mesmo.

Procurava por minha sala no colégio. Sala 1-A. Era no último bloco. Por que tão longe? Merda.

Quando eu entrei na sala, havia três alunos. E para minha sorte, todos estavam sentados na frente. Pelo menos, eu poderia escolher o meu lugar de sempre. A última carteira da parede.

Me sentei e abaixei a cabeça.
Muitos pensamentos negativos caíam sobre mim.
Não tinha um dia que não pensasse em morrer.
Inferno.

Ouvia cada vez mais vozes na sala. A maioria, feliz. Animados pelo primeiro dia de aula. E tinha eu, querendo que acabasse o mais rápido possível.

Senti alguém levemente cutucar minha cabeça.
Ergui o olhar e vi alguém.

– Choi Soobin? – disse sem reação.

– Não acredito que estamos na mesma escola! – o garoto do cachecol vermelho disse sorrindo. – Que coisa incrível!

Ele sentou no lugar vago à minha frente.
Senti o cheiro de seu perfume. Cheiro de algo cítrico.

– Foi fácil reconhecer você. – Choi apontou para meu cabelo, que era tingido de azul escuro. – Como tem passado? Está bem?

– Tenho estado na mesma de sempre, obrigado por perguntar, Choi Soobin.

– Me chame de Soobin. Aposto que seremos muito próximos! – ele sorriu fraco, mas ainda assim, deixava suas covinhas à mostra.
Aquele sorriso, despertou algo em mim. Só não sabia o que era.

Durante a aula toda, Soobin perguntava se eu estava bem. Eu não sabia se ele realmente estava se preocupando comigo ou se estava fingindo.

O remédio não estava fazendo efeito. Meu coração palpitava forte. Um sentimento negativo se abateu sobre mim. Meus olhos estavam úmidos. Eu já estava ofegante.

A sala estava uma bagunça que me admirei de Soobin perceber meu estado.
Ele virou para trás rapidamente.

– Ei, qual o problema? – ele parecia preocupado.

– Nada. – abaixei o olhar, tentando me manter calmo. Tentativa falha.

– Vamos ao banheiro. Eu falo com o professor. – ele disse se levantando.

Eu não tive como negar ou recusar. Não queria passar a vergonha de me verem assim na sala.

Eu andava tropeçando pelo corredor. Não havia ninguém. Apenas eu e Soobin.

Em um breve momento, minhas pernas falharam, porém Soobin estava ao meu lado. Em um ato rápido, ele me segurou.

Em passos rápidos, ele me dirigiu ao banheiro. Uma das luzes piscava, e o teto fazia um barulho estranho, dando um ar assustador.

Entrando no banheiro, Soobin trancou a porta.
Me soltei dele e me apoiei na pia de mármore do banheiro.
Minha garganta doía de tanto segurar a vontade de chorar.

Me olhei no espelho. Meu rosto estava péssimo. Por isso Soobin estava perguntando se eu estava bem.

– Eu sou um merda. – eu disse e não consegui segurar as lágrimas. Elas caíam como pedras. Cada uma fazia meu coração doer mais. Abaixei a cabeça.

Soobin se aproximou de mim e me abraçou. Seu abraço era forte.

– Você não é um merda. – ele falou abafado. – Você é uma pessoa incrível. O único amigo que eu fiz em muito tempo. Você me dá um propósito para ser feliz.

– Um propósito? – eu disse em meio a suspiros.

– Sim. Eu quero cuidar de você. Por mais que você seja um ano mais velho, eu senti como se você fosse um irmão para mim.

Aquilo se chocou contra meu peito de uma forma que eu não poderia descrever. Eu nunca tive irmãos, e muito menos pais presentes em minha vida.

– Como você sabe que sou mais velho?

– Andei pesquisando.

Ficamos um tempo abraçados. Eu chorando, e Soobin me confortando.

– Está melhor? – ele perguntou.

– Não sei, para falar a verdade. – eu disse e me afastei dele, finalmente. – Eu estou com dor de cabeça. – Sorri fraco.

– Você quer ir embora? Eu explico sua situação para o diretor. Ele com certeza irá te liberar. Aí já aproveito para ir junto. – ele deu um sorriso fofo.

– Pode ser.
Ele bagunçou meu cabelo e abriu a porta.

Soobin me disse para esperar do lado de fora da sala do diretor enquanto falava com ele.

Ele demorou quase dez minutos até enfim sair da sala.

– Prontinho. – ele sorriu. – Deixa que eu pego seu material lá na sala. Só me espere lá na porta da saída.

– Uhum.

Fiz o que ele pediu. Me dirigi à porta de saída.
Não a abri. Apenas fiquei olhando a parte de fora. O pátio da escola. Até que ouvi passos vindo, apressados. Pensei ser Soobin.

Me virei e vi a figura de uma garota. A primeira coisa que reparei foram a sua maneira de se vestir. Lembrei que vi ela na minha sala. Ela usava uma saia curta de estampa de onça, uma camiseta curta preta colada e um alto alto rosa.

– Ei, você. – ela disse irritada.

Eu não disse nada. Apenas fiquei a encarando.

– Você e o Soobinzinho têm algo juntos?

– Não. – eu disse frio.

– Eu acabei de encontrar ele enquanto saía da sala e perguntei se ele queria sair comigo hoje. Ele disse que tinha algo para fazer com um garoto chamado Yeonjun. Aposto que esse garoto é você. Eu vi vocês dois conversando durante a aula inteira. – ela parecia um animal prestes a atacar.

– E? – eu disse sem paciência.

– E... Eu gosto do Soobin! – ela disse batendo o pé no chão. Fez um estalo alto. – Você está roubando ele de mim, seu merda.– ela se preparou para pular em mim, mas para minha sorte, Soobin apareceu.

– O que está acontecendo aqui? – perguntou simpático.

O Cachecol VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora