Já estava em seu quarto, deitado e quase dormindo, quando escutou gritos vindos do andar de baixo.
Gritos estes que de início estranhou muito, já que estava sonolento e quase dormindo, até que uma onda de medo começou a tomar conta de si, já que a cada minuto que se passava, os gritos ficavam cada vez mais e mais altos.
Os gritos começaram como sussurros distantes, quase irreais, mas se tornaram rapidamente ensurdecedores. Cada segundo parecia mais longo, e o som cortante de vidro se quebrando reverberava pelas paredes, fazendo o coração de Hyunjin saltar em seu peito. O medo não era apenas um sentimento - era uma presença, esmagando-o com uma força invisível. Suas pequenas mãos, já suadas, tentavam desesperadamente cobrir os ouvidos, mas os gritos penetravam, ecoando em sua mente. A escuridão do quarto não oferecia consolo, apneas ampliava a sensação de que algo terrível estava prestes a acontecer.
Era apenas um garotinho de 8 anos, não sabia o que fazer, estava com medo e assustado. Então, rapidamente se levantou e se escondeu atrás da porta, tampando os seus ouvidos e tentando se concentrar em qualquer coisa, menos naquela gritaria.
O que não adiantou muita coisa, pois já sentia suas lágrimas descendo por suas bochechas, enquanto que quanto mais escutava os gritos, e agora barulhos de vidro se quebrando, mais assustado ficava, e consequentemente, mais forte seu choro também ficava, até começar a perder o ar e soluçar desesperadamente.
Hyunjin acordou de repente, como se fosse tivesse sido arrancado à força de um pesadelo por mãos invisíveis. Seu corpo inteiro tremia, e o suor escorria de sua testa, misturando-se às lágrimas ainda frescas em seu rosto. Por um breve momento, Hyunjin não soube onde estava. O quarto ao seu redor parecia girar, as sombras nas paredes dançando como se o pesadelo tivesse invadido o mundo real. Seu peito subia e descia de forma irregular enquanto tentava puxar o ar para os pulmões queimados. Ele passou a mão trêmula sobre o rosto, tentando afastar as imagens do pesadelo, mas os ecos dos gritos ainda estavam lá, ressoando em sua mente, como fantasmas que se recusavam a desaparecer. A escuridão do quarto o envolvia, mas, dessa vez, era real - silenciosa e sufocante.
Mais um pesadelo. Mais um dos muitos que sua mente o fazia reviver, momentos ruins e desesperadores que aconteceram em sua infância.
Momentos estes que fazia questão de tentar esquecer, de deixar aquilo apenas no passado e seguir em frente, mas não conseguia, sua mente não deixava. Ficava o torturando quase todas as noites, fazendo com que lembrasse do que passou e de como se sentiu.
Era como se essas memórias fossem gravadas a fogo na sua alma, cada detalhe vívido e cruel. Por mais que ele tentasse afastá-las, como se empurrasse uma porta pesada para impedir a entrada de algo sombrio, as lembranças sempre encontravam um fresta para entrar. Bastava fechar os olhos para reviver tudo de novo: o som dos gritos, o terror que congelava seus ossos, a sensação de estar sozinho e sem controle. O passado o assombrava com a mesma força de antes, como se o tempo não tivesse amenizado a dor, mas apenas a escondido sob camadas finas, prontas para rasgar a qualquer momento.
E isso era uma coisa que o destruía, principalmente por saber que não havia muito o que fazer, além de chorar e torcer para conseguir dormir novamente sem mais um pesadelo vindo em seguida.
Ele sabia que ninguém podia entendê-lo completamente. Para os outros, eram apenas sonhos, ecos de algo que já tinha acabado. Mas, para ele, eram feridas que nunca cicatrizavam, que sempre se abriam um pouco mais a cada vez que sua mente o jogava de volta naquele lugar escuro. Hyunjin se sentia impotente, preso num ciclo interminável de lembranças dolorosas que o sugavam para baixo. E, quando o sol finalmente nascia, ele se sentia exausto, como se não tivesse dormido de verdade em anos.
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Cores • Changjin
Teen FictionEm um mundo sombrio e desolado, Hyunjin vive mergulhado em sua própria escuridão, lutando contra demônios internos que parecem insuperáveis. Cada dia é um fardo, e ele se sente à deriva, sem qualquer razão para continuar. Até que, inesperadamente, c...