Capítulo XIII ○ Jaebeom

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— Como você já pôde ver, aquela ali era a porta de entrada, não tem nada especial nela, é só uma porta de entrada.— Youngjae aponta para a porta por onde acabamos de entrar, antes de continuar andando em direção ao próximo cômodo, a sala. —  Essa é nossa sala de estar, como o próprio nome já diz, foi feita para nós estarmos nela, mas na maior parte do tempo ela não é usada.

— Por que não? — O garoto se vira para mim e parece pensar um pouco a respeito, provavelmente procurando a informação lá no fundo de seu cérebro, mas então parece desistir ao não encontra-la.

— Na verdade eu não sei, ela só não é usada. — Ele explica, antes de apontar para alguma coisa dentro da sala de estar. Sigo a direção para onde ele aponta e encontro um abajur quebrado que foi todo colado novamente, como um quebra-cabeças. Porém, esse quebra-cabeças estava com as peças todas colocadas no lugar errado.— Usei esse abajur pra matar uma barata uma vez, ou pelo menos eu pensava que era uma. Meu melhor amigo disse que tinha visto uma barata perto do sofá, mas no fim era só uma azeitona preta. Meu pai fez Yugyeom e eu colarmos peça por peça antes da mamãe chegar do trabalho, um trabalho árduo que eu nunca vou me esquecer.

— Por que deixaram ele ai mesmo estando todo quebrado?

— É uma bela obra abstrata e um lembrete para que quando uma barata aparecer, você pense duas vezes para ter certeza que é uma barata mesmo antes de jogar um abajur nela. — Ele sorri, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo e depois volta a andar, fazendo um sinal com as mãos para que eu o siga. — Do nosso lado esquerdo temos a sala de jantar, em seguida a cozinha e lá nos fundo o lugar onde ficam as máquinas de lavar e o banheiro principal do primeiro andar. Do lado direito temos a sala, onde você já esteve, aquela porta de vidro que leva para o jardim, onde tem a piscina e a área de lazer. E ali é a escada, e em baixo da escada nós temos a porta que leva ao porão.

— Vocês tem um porão? — Olho indignado para a porta onde Youngjae disse ser o porão, porque pra mim isso só existia em filme, não consigo acreditar que exista mesmo na vida real. Youngjae apenas faz uma cara estranha antes de responder, como se me julgasse.

— Sim, e nós temos um sótão também, mas você nunca deve ir em nenhum dos dois lugares. — Ele avisa, de repente com a voz um pouco seria demais, e eu engulo em seco, só com um pouquinho de medo.

— Por que não? — Eu realmente não queria saber a resposta, mas minha curiosidade sempre foi maior que o meu medo, por isso que as vezes eu me fodo bonito.

— Ah, você sabe... — O garoto luz sorri estranho, suspirando em seguida. — É escuro e tem muita poeira, você não ia conseguir parar de espirrar. Meu pai só desce no porão quando a energia acaba, a caixa de energia fica lá em baixo.

— Ah, é por isso. Nossa, por um momento eu pensei que você diria que alguém morreu lá ou coisa do tipo. — Suspiro aliviado, mas Youngjae da uma risadinha, baixando a cabeça por algum motivo. — Espera, alguém morreu na casa?

— Se eu disser que sim você vai ficar traumatizado?

— Não.

— Então sim. — Ele sorri, de uma forma meio nervosa e eu fico olhando para seu rosto esperando que ele diga que é só uma brincadeira para me assustar. Mas ele não diz nada, ao invés disso, começa a brincar com os dedos.

— Isso não é uma brincadeira, é?

— Não, eu nunca bricaria com algo assim. — Ele dá de ombros de novo. —A antiga dona da casa se suicidou no sótão. Ela era muito solitária, então só descobriram o corpo quando começou a feder.

— E vocês não tem medo de morar aqui? Na casa onde uma pessoa morreu? — Ele franze as sobrancelhas, parecendo confuso.

— Isso aconteceu a sei lá, uns 20 anos? e ela morreu, não pode machucar ninguém.

— Você nunca assistiu American Horror Story? — Youngjae nega com a cabeça, fazendo uma careta meio estranha, como se dissesse um "amigo, você é burro?", e só ai eu percebo meu erro. Me estapeio mentalmente, porque é claro, ele nunca assistiu American Horror Story, ele não pode VER. — Desculpa, eu esqueci.

— Tudo bem, todo mundo faz isso no começo, é normal. — Ele sorri, e de novo realmente dava para perceber que ele falava a verdade. Ele não falou isso para eu me sentir melhor, falou isso porque realmente está tudo bem, ele não se importa. — Vamos deixar o assunto morte de lado por enquanto, ok? Vem, vamos subir, o tour ainda não terminou. — Ele sobe as escadas e eu subo logo atrás, dando de cara com um corredor bem grande, cheio de quadros e fotos nas paredes, e muitas portas também.

— Nossa.

— É enorme né? nunca entendi porque nos mudamos pra uma casa tão grande. — Ele dá de ombros pela milésima vez no dia, antes de voltar a andar. — A primeira porta do lado esquerdo é a suíte principal, quarto do meu pai e sua mãe. Em seguida temos o escritório, a biblioteca, a sala de música, um quarto de hóspedes e outro quarto de hóspedes.

— Vocês tem uma biblioteca e uma sala de música? — Sério, não sabia que minha mãe era tão burguesa assim. Ok, eu conhecia pessoas bem burguesas, mas não nesse nivel, isso aqui é louco demais pra mim.

— Sim, cada pessoa que mora na casa tem um espaço feito especialmente para si. Meu pai tem o escritório, Sonhee tem a biblioteca e eu a sala de música, você vai ter um também.

— Eu vou?

— Claro. — Youngjae sorri, voltando a andar calmamente. Eu o sigo, mesmo que ainda esteja muito confuso com tudo isso, porque é muita coisa para assimilar em pouco tempo e eu nunca fui muito rápido no quesito assimilar as coisas. — Aquela porta lá no fim do corredor é outro banheiro, mas em quase todos os quartos de hóspedes tem um também, então ele não é muito usado. Do lado esquerdo quase todas as portas são quartos de hóspedes, menos a que fica em frente a sala de música, que é a do meu quarto. O quarto que fica do lado direito do meu é onde o Yugyeom fica quando dorme aqui.

— Por que eu vou ficar no seu quarto se tem tantos quartos de hóspedes aqui?

— O Yugy é meio chato com as coisas dele, então ninguém mexe no quarto dele se ele não estiver presente. E todos os quartos de hóspedes estão cheios de coisas aleatórias, tipo os equipamentos de academia que meu pai comprou e nunca usou. — Youngjae explica, me deixando mais confuso do que antes.

— Por que ele comprou equipamentos de academia se não ia usar?

— Ele queria ser fitness, mas lembrou que fazer isso era muito cansativo, então desistiu na primeira semana. Ele ia vender os equipamentos no eBay, mas acho que ele se esqueceu.

— Ah, agora nada faz sentido, mas tudo faz sentido.

— Fico feliz de sanar suas dúvidas. — Ele sorri, como se estivesse se divertindo em me deixar completamente confuso, e então aponta para alguma coisa no teto. Eu me arrependo de ter olhado o que ele apontou assim que vejo o quadrado com uma cordinha pendurada. — A porta do sótão.

— Preferia ter ficado sem ver ela.

— Uma hora ou outra você ia ver, ela fica na frente do quarto que vai ser seu. — Me engasgo com o vento e isso faz Youngjae rir. Eu quase rio também, mas me contenho. — O tour termina no meu quarto, te mostro ele e depois a gente desce pra tomar sorvete.

— Ok. — Ele volta a andar e eu o sigo de volta, parando quando chegamos em frente a uma porta, que diferente das outras, era azul. Um azul tão escuro que parecia quase preto, todo manchado por pontinhos brancos que pareciam pequenas estrelas. O céu estrelado era a porta do quarto de Choi Youngjae.

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