XIV

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Cheguei em casa naquela noite pouco sentindo meus pés. Era mais um dia pesado de gravações onde começamos nosso trabalho junto ao raiar do sol e terminamos bem após sua partida. Eu passei quase quinze horas nos estúdios e não que estivesse reclamando, mas precisava confessar que minha profissão cansava. E muito.
O apartamento estava em um silêncio gostoso, a porta meio aberta da varanda, sempre esquecida por meu marido, deixava entrar uma brisa leve e gostosa daquela noite de outono. Dei alguns passos até a mesma e aspirei um pouco daquele ar puro antes de fecha-la totalmente e seguir para a cozinha. Pensei em preparar um chá ou talvez, um suco de frutas, mas o relógio na parede marcava quase onze da noite e de qualquer maneira, as frutas secas que meu marido embalava para mim toda manhã me tiravam a fome entre uma gravação e outra. Falar nisso, onde ele estava? Olhei ao redor do cômodo e uma mamadeira vazia pousava em cima da bancada, se o conheço bem, ele e nossa bebê agora estão deitados na varanda do meu quarto, ela em seu peito e reclamando baixinho pedindo pela "mamã" e ele, a consolando e acariciando suas costinhas. Era uma cena comum nos últimos três meses quando os dentinhos começaram a nascer e mais comum ainda desde que ele a pegou pela primeira vez há exatos dez meses atrás. Nicolas era um pai excelente, a única coisa que não fazia à nossa filha era amamentá-la com seu próprio seio, pois até mesmo quando lhe dava mamadeira, eu podia ver a conexão no olhar de ambos. O mesmo olhar, o mesmo tom de azul esverdeado que eu tanto amava.
Subi as escadas enquanto massageava minha nuca, a primeira porta que encontrei foi do quarto da minha menina e ela estava apenas encostada, sinal que Catarina estava lá dentro. Abri devagar sentindo o ar fresco e a luz baixa sobre mim, o cheirinho de talco e camomila invadiu minhas narinas e me aproximei do bercinho na ponta do pé. Ela dormia como um anjo, sua chupeta de girafa fazia movimentos leves na boquinha e sua mãozinha gorda se abria e fechava, se bem conhecia minha filha, não demoraria a acordar. De qualquer maneira, arrumei sua coberta bordada e sai tão lentamente quanto entrei.

- Ei. - Ouvi a voz que tanto esperava. Nicolas vestia apenas seu shorts de dormir e tinha o tórax nu, os olhos estavam pequenos, mas o sorriso continuava o mesmo. - Até que enfim você chegou. - Ele se aproximou passando os dedos por minha cintura, sob a fina camada do macaquinho azul, senti meus pelos arrepiarem levemente.

- Fiquei te procurando lá embaixo. - Cheirei seu pescoço aspirando tudo de bom que aquele cheiro trazia para mim.

- Estava preparando seu banho, da maneira que você gosta. Hoje mais cedo passei na loja que gostamos e comprei os sais para repor nosso estoque. E um brinquedinho para colocar na geladeira e a Cat morder, os dentes estão judiando da nossa bichinha. - Dei um pequeno sorriso triste passando meu nariz pelo seu, eu queria poder acalenta-la o dia inteiro, deixar mamar o quanto quisesse até aquele incomodo chato ir embora. - Eu sei o que a senhora está pensando.

- Não sabe não. - Provoquei.

- Sei sim. Está se culpando por não estar aqui para acudi-la quando precisa. - Só fiz baixar a cabeça, mas seus dedos ergueram-na pousando em meu queixo. - Você é uma mãe maravilhosa. Catarina está passando por uma fase, assim como vai passar por outras. Lembra das cólicas? Era eu quem chegava tarde aquela época e não podia nina-la da maneira que queria. E as noites que ela trocou por causa da viagem? Nem no Brasil eu estava para te ajudar de madrugada.

- Acho que estamos aprendendo, né? - Finalizei com um suspiro.

- Todos os dias, meu amor. - Selou meus lábios e fiz questão de aprofundar nosso beijo. Como sentia falta do meu marido! Seu toque me fazia ir as nuvens, mesmo o mais inocente deles. Sua proximidade, sua quentura e amor eram como calmantes em um dia agitado como o de hoje. - Seu banho está pronto.

- Como sabia que eu estava chegando? - Perguntei enquanto ele me virava e caminhávamos juntos em direção ao banheiro.

- Tenho meus informantes. - Deu um último cheiro em meu pescoço antes de bater levemente em minha bunda. – É toda sua.
- Olhei para a banheira estilo ofurô à nossa frente e sua água parecia reconfortante, o cheiro límpido e gostoso pairava por todo banheiro, eu podia ver pequenas bolinhas vermelhas boiando e identifiquei como minha essência favorita, a de rosas frescas. Fiz um coque em meu cabelo e retirei calmamente a roupa passando o macaquinho por meus pés e fitando o espelho enquanto olhava meus seios dentro do sutiã rendado. Estavam cheios novamente, quase dobrando de tamanho com os originais. Olhei através do reflexo e meu marido desviou os olhos do celular por alguns segundos, neguei com a cabeça enquanto sorria. Apesar de o deixar sedento, eu pouco deixava Nicolas tocar em mim quando os mesmos estavam explosivos, o medo de acidentes e passar uma possível vergonha na frente dele me dominava. Tirei a peça sentindo-os pesados e um pouco doloridos, mesmo tirando uma boa quantidade antes da penúltima cena com a bombinha que sempre carregava na bolsa, eles continuavam cheios. Me curvei para retirar a calcinha e entrei na água morna. Meus músculos aos poucos iam relaxando, fechei meus olhos tombando a cabeça no pequeno encosto que improvisamos e logo senti suas mãos desfazendo os nós do meu pescoço e ombros. Respirei fundo tentando aproveitar cada segundo, pequenos gemidos involuntários saíam de meus lábios quando seus dedos tocavam em uma parte mais tensa. Definitivamente, tinha o melhor marido do mundo. Mas nosso momento não durou muito, como eu bem previa, um chorinho vindo do celular do meu marido, programado com aplicativo de babá eletrônica e mini câmera, me fez abrir os olhos e dar outro suspiro, mas desta vez, frustrado. - Aproveite mais um pouco, amor. Vou ver o que posso fazer. - Nicolas falou se levantando, não sem antes deixar um beijo em minha nuca.
Fechei novamente as pálpebras sentindo falta da massagem que recebia ainda há pouco. Com um pouco de sorte, meu marido conseguiria fazer Catarina dormir novamente. Poderia ser apenas a chupeta que caiu ou ela estava sonhando alto, como fazia as vezes. Minha expectativa diminuiu um pouco quando ele passou pela porta com uma bebê gordinha de fralda e blusa de manga que fazíamos de pijama e um pezinho gordo de fora, os dedinhos coçavam os olhos pequenos e azuis claros, um bico se formava na boca vermelhinha. - Não teve jeito, ela quer a mamãe. - A cara de travesso do meu marido me fez sorrir e vê-la acordada pela primeira vez naquele dia, não sendo por fotos ou rápidas chamadas de FaceTime, encheu meu coração. - Mas ela espera você terminar, não espera meu amor? - Catarina soltou um pequeno som impaciente no colo do pai.

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⏰ Última atualização: Dec 06, 2019 ⏰

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