1 - A Irônica Chuva

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Dias de chuva são capazes de tornar qualquer dia chato ou irritante nos mais alegres para a menina Daniela, que tinha dez anos de idade e carregava consigo uma energia impressionante. Ela morava com seus pais, que também eram muito jovens, numa casa modesta que se localizava em uma cidade interiorana, chamada Santa Fé, no estado de Sergipe.

A garotinha amava tomar banho de chuva quando era possível, adorava sorvete de flocos com calda de maracujá. Daniela estudava em uma escola particular, próxima de sua casa, que era considerada a melhor da cidade e todos na escola e no condomínio fechado, onde ela morava, gostavam dela. Ao menos, ninguém demonstrava querer fazer algum mal à ela.

No entanto, em um dia de chuva a apenas algumas horas da Ceia de Natal, uma tragédia aconteceu enquanto a mãe de Daniela preparava a comida para a Ceia que teria alguns familiares como convidados. O pai da garota havia saído para comprar vinho e cerveja num pequeno mercado não tão longe de sua casa e a garota ficou pulando e bebendo água da chuva como se aquele instante fosse eterno, agarrando contra si mesma a sua boneca favorita que se chamava Annabelle.

Aquele momento mágico para a pequena Daniela, infelizmente, teria poucos segundos depois um trágico fim, pois a garota saiu do jardim de sua casa sem perceber e exatamente no instante em que atravessou a rua sem ver, um carro adentrou na rua em alta velocidade e atropelou impiedosamente a menina que não teve chance de se esquivar da batida.

Ao ouvir o estrondoso barulho da batida, a mãe de Daniela, que se chamava Júlia, saiu em disparada da cozinha até a rua. Ela havia esquecido a filha sozinha do lado de fora, e devido corria chorando como se adivinhasse o que havia acontecido. Quando chegou junto ao corpo de sua pobre filha, começou a gritar ainda mais com misto de desespero pela perda de seu anjinho e ódio da criatura que cometeu aquela barbárie.

Logo em seguida, Pedro, o pai de Daniela, voltou do supermercado muito alegre quando, a alguns metros de sua casa, ele avistou sua filha desfalecida no chão e sua mulher abraçando a menina implorando que ela acordasse, que ela não tivesse morrido. Pedro jogou no chão as sacolas que carregava consigo e correu junto à sua mulher e abraçou-a, permanecendo os três ali por um longo tempo até que a ambulância chegou.

A morte catastrófica de Daniela deixou inúmeras marcas em seus pais por toda a vida deles, principalmente em sua mãe que desenvolveu depressão e síndrome do pânico, levando-a a tentar o suicídio por duas vezes. Infelizmente, no dia em que completou dez anos daquele fatídico dia, ela comprou um revólver e ao chegar em sua casa, trancou-se no banheiro e com a arma engatilhada atirou contra sua própria cabeça, colocando assim um fim na sua vida vazia e patética.

P.S.: Nunca foi encontrado nem o carro nem o motorista que o estava dirigindo no momento do atropelamento.

P.S.: Após a morte da garota, Pedro se tornou uma pessoa introspectiva e quando tentei marcar uma entrevista pra saber um pouco mais acerca da história, ele recusou e proibiu que qualquer informação pessoal dele depois do ocorrido fosse divulgada.

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