Capítulo 2: Qui suis-je vraiment?

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Fui para a sala de estar, sentei-me no sofá e fiquei novamente em meu estado de paralisia, olhando pro nada e vagando pela imensidão dos meus pensamentos vazios. Papai chegou, parecia tenso.

Logo, foi ao seu aposento se aprontar, enquanto mamãe descia pelas escadas. Eu há muito, tenho a nítida impressão de que o amor deles se foi. Não existe mais a troca de carícias, nem as declarações bobas de um casal apaixonado. Não sou a melhor pessoa para falar disso, pois nunca sequer beijei os lábios de um garoto. Porém, sempre fui uma tola apreciadora do velho romance dos filmes. Rosas, serenatas, e promessas sem sentido do tipo "querida, eu lhe
darei a lua!". Mamãe sentou-se ao meu lado, e em sua face, era nítida uma tristeza.

- Clarisse, vejo que finalmente criou modos e se vestiu como uma dama de
classe!

- Ora mamãe, sabes que não gosto desses termos que envolvem
uma possível superioridade minha. Nunca fui e nunca serei melhor que
ninguém!

- Minha filha, vejo que és ainda tão ingênua... essa é a lei natural da vida!
Os mais fracos, os mais fortes. Os mais ricos, os mais pobres. Isso nunca mudará!

- Então mamãe, terei de dizê-la que não pertenço à este mundo. E assim
serei até o dia de minha morte.

Fomos interrompidas por papai, que desceu as escadas aflito e foi logo para a estante de bebidas, tomar uma dose de um Whiskey Escocês.

"Temos 20 minutos até o motorista chegar, tenho de aliviar minha tensão para que tudo corra bem..." disse papai, com uma expressão que me causava calafrios.

O carro chegou, e lá estava o Sr. Dubois. Ainda não conseguia tirar os olhos daquele homem, e quando ele pegou em minha mão para me ajudar à subir no carro, senti como se minha alma arrepiasse. Um choque elétrico percorreu por todo o meu corpo, e sentei-me estática no carro, sem conseguir dizer uma única palavra o trajeto inteiro. Observava a paisagem, e ao ver um belo campo de violetas, algo estranho me ocorreu; me vi ao lado do Sr. Dubois, percorrendo o campo, de mão dadas e sorrindo.

Estaria eu me apaixonado por um rapaz que mal conheço? Ora, que tolice! Nem mesmo os garotos da escola que estudei conseguiram tal feito, mesmo convivendo com alguns deles desde minha infância... Mas algo no Sr. Dubois me chamava atenção, algo que mesmo se eu parasse pra pensar, não conseguiria descobrir.

O caminho foi sem muita agitação, mórbido. Um silêncio tomava conta do carro, pois ninguém parecia querer arriscar soltar uma palavra sequer. Em questão de 30 minutos, estávamos próximos ao salão em que papai fazia suas festas. Havia algumas pessoas chegando, mas nada de um movimento exagerado.

Desci do carro, e novamente ao pegar na mão do Sr. Dubois, aquele choque esquisito percorreu meu corpo. Por Deus, essa seria realmente eu?

ClarisseOnde histórias criam vida. Descubra agora