Capitulo XIX ○ Jaebeom

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Assim que entro no quarto de Youngjae me sinto ser instantaneamente teletransportado direto para um mundo novo, cheio de fantasia, sonhos e felicidade. O quarto, completamente diferente do que eu imaginava, tem todas as suas paredes preenchidas por pôsters e fotos, o teto pintado da mesmo cor que a porta, com pequenas estrelas espalhadas por todo ele, e livros, muitos livros, meticulosamente arrumados em lugares aleatórios. E tudo isso, cada mínimo detalhe, mesmo que bem pequeno, quando somado junto torna o quarto de Youngjae o quarto de Youngjae. É como ele, é ele.

Mas o que mais chama minha atenção no lugar, depois do céu estrelado e os pôsters de bandas, filmes e musicais da Broadway, é o lindo piano branco localizado em frente a uma enorme janela de vidro, que dá vista ao jardim e a piscina. O enorme instrumento, delicadamente polido, dá ao quarto um ar refinado e de extrema elegância, e chama toda a atenção do mundo para si, fazendo com que você fique encantado e cegado com tamanha beleza.

Youngjae se senta na cama enquanto eu ando pelo quarto e observo de perto os mínimos detalhes que passam despercebidos quando olhados de longe. Tudo, desde as miniaturas de animes aos nomes dos livros que estão empilhados por aqui e por ali, assim como as estrelas no teto e alguns discos jogados na estante um pouco descuidadamente, tudo, cada coisa no quarto, mesmo que pequena e insignificante olhada de longe, tem a personalidade de Youngjae em cada mínimo detalhe.

Aproveito também para observar melhor as fotos nas paredes, quase todas de Youngjae, minha mãe, o pai dele e um outro menino, que suponho eu ser o amigo de quem ele tanto fala. As fotos são vivas, felizes, quase te fazem sentir os sentimentos que eles sentiam nos dias em que elas foram tiradas. Todas são incríveis, delicadas, brilhantes, mágicas, todas são como o dono delas.

E tem fotos de outra pessoa também, uma mulher, sentada em frente ao mesmo piano branco que se encontra perto da janela ou em um jardim completamente florido e feliz. Sorrindo, brilhando, iluminando tudo, quase uma versão feminina do menino luz. No momento em que a vejo eu sei exatamente quem ela é, acho que por conta do sorriso, que é completamente idêntico ao de Youngjae, ou então a forma como ela brilha, como ele. Ela é a mãe dele.

— Seu quarto é bem legal. — Youngjae sorri ao me escutar proferir tais palavras, talvez um pouco orgulhoso de si mesmo, ou então só porque ele gosta de sorrir mesmo. E eu me sento ao seu lado na cama, percebendo só ai que desse ângulo eu tenho total visão do mural de fotos que conta a história da vida dele, desde novo até agora.

— Eu imaginei ele e meu pai, SonHee e Yugyeom me ajudaram a dar vida a imaginação sendo a mão de obra. —Ele explica, olhando para frente assim como eu, quase como se ele também pudesse ver as fotos do mural, e talvez ele pudesse, em sua cabeça, não exatamente igual, mas da forma dele.

— Fizeram um bom trabalho, gostei dos pôsters e do céu, combina com você. — Ele sorri. Um lindo sorriso, que faz com que eu queira que ele sorria sempre, só porque o sorriso dele parece tornar o mundo um pouco melhor e menos doloroso.

— Como você pode saber se combina comigo ou não? Acabamos de nos conhecer. — O tom de voz dele não soa rude, ele apenas realmente quer saber a resposta. E eu? Eu não tenho ela, apenas sentia que o quarto parecia exatamente como ele é, como se os dois fossem a mesma coisa, só que em formas diferentes. Youngjae era a pessoa e o quarto era um quarto, mas os dois tinham a mesma personalidade, causavam as mesmas sensações.

— Eu não sei, só sei.

— Confuso.

— Eu sou assim. — Ele dá uma risadinha e eu quase sorrio também. Era quase impossível não sorrir quando se estava perto dele, mas eu ainda não conseguia sorrir. — Seu piano também é legal.

— Era da minha mãe. — Olho para o instrumento na mesma hora que Youngjae, e ele parece meio triste automaticamente, então eu entendo, mesmo sem ele dizer com todas as letras, que a mãe dele está no mesmo lugar que meu pai. — Ela morreu quando eu tinha 7 anos.

— Eu sinto muito. — E eu sentia mesmo, como alguém que acabava de sentir essa mesma dor, eu sabia exatamente como era horrível, então sim, eu sentia muito por ele. E também sentia muito por mim, por todas as pessoas que já passaram por isso um dia. Por ora, eu sinto muito pelo mundo inteiro.

— Eu já me acostumei com essa dor, mas obrigada mesmo assim. — Ele responde genuinamente agradecido, e pela primeira vez, desde que o conheci, eu vejo o quão forte ele é.

— Você acha que um dia eu vou me acostumar também?

— Sim, uma hora ou outra todo mundo se acostuma. Nunca para de doer, mas com o tempo se torna mais aturável. — Suspiro com a resposta e volto a olhar para o mural de fotos felizes. Nas fotos, pelo menos, a felicidade é eterna. Nelas você captura os momentos importantes e perpetua eles para a eternidade. Você é feliz para sempre. E sim, Youngjae está certo, com o tempo a dor fica menos forte e eu espero me acostumar com ela logo, porque por enquanto parece que ela me dilacera completamente por dentro, e isso é uma merda.

— Vou me acostumar com a saudade também?

— Sim, mas a saudade é boa, te faz lembrar, lembrar é bom.

— Por que? — Youngjae fica pensativo por um tempo, pensando e repensando no que responder, e eu não o apresso, deixo ele pensar. E então, quando ele vira o rosto para mim e parece que ele pode me ver mesmo morando no escuro, eu me preparo para ouvir a reposta, e ele, bem, ele responde.

— Você sabia que o brilho das estrelas demora anos luz pra chegar na terra? Por isso quando ele chega, algumas das estrelas responsáveis pelo brilho já morreram faz tempo. Mesmo assim, mesmo depois de mortas, o brilho delas continua brilhando por muito mais tempo. As pessoas que já foram embora são como as estrelas, o brilho delas vai continuar brilhando enquanto você se lembrar, por isso a saudade é boa, a saudade te faz lembrar, e lembrar faz as pessoas que já foram embora continuar brilhando por muito mais tempo, dentro de você. — Youngjae sorri e dessa vez eu sorrio também, ele está certo, ele está totalmente certo, e agora eu sei, sei que meu pai foi embora, mas ele é uma estrela agora, e ele vai continuar brilhando enquanto eu viver, dentro de mim, nas minhas memórias.

— Obrigado, Youngjae.

— Você me agradece muitas vezes.

— Você está certo muitas vezes. — Sorrio e escuto ele dar uma risadinha, adorável, como o quarto e como sua personalidade.

Blind • 2Jae (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora