Last breath

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  "O sorriso é o paraíso no inferno." nada pode ser mais verdadeiro do que estas poucas palavras. Um 'eu te amo'? Pode ser, mas só de ver aquele sorriso eu simplesmente me sinto amado, sem uma mísera palavra ser proferida, eu me sinto o ser humano mais vivo na Terra.

Escuto um sino ao longe e meus pensamentos sobre você se tornam pensamentos secundários, mas nunca saem da minha mente. Meu corpo congela ao vê-lo ali com ela, eu já deveria estar acostumado a te ver assim, afinal você só sabe meu nome por sempre vir aqui e ser sempre eu quem o atende, não é como se fossemos desconhecidos, mas também não somos amigos. Amigos. Queria eu ao menos ser isso, pelo menos poderia ver seu sorriso bem mais do que vinte minutos por dia.

 "O de sempre, senhor?" perguntei dando meu melhor sorriso, como sempre dava, mas ele estava sério de mais hoje. "Apenas um café preto e puro." eu nunca havia visto ele assim, sua expressão me dizia que ele estava muito nervoso. "E a senhorita? O que deseja?" virei o rosto a mulher que olhava fixamente para o homem a sua frente enquanto lágrimas se formavam em seus olhos, "Apenas uma água, por favor." olhou diretamente em meus olhos. Seu rosto sorria, mas seu olhar me pedia socorro como se o mundo estivesse acabando ali mesmo naquele instante. Minha alma pesou, fiquei parado por longos segundos até acordar do transe que os olhos claros daquela mulher me puseram. Sai dali e pude escutar ao longe a voz do dono de meus pensamentos pronunciar-se dizendo "Você está me fazendo parecer o cara mau, e você sabe muito bem que não sou eu." virei por instantes e vi ele morder o canto do lábio inferior. Seria sexy se aquela cena não estivesse tão pesada aos olhos de quem quer que olhasse. Me afastei e fui pegar seus pedidos.

 Aqueles dois minutos para o café ficar pronto pareciam uma década. Voltei a mesa e encontrei a mulher com um rosto manchado pela maquiagem borrada, ela apenas olhou para o vidro da janela "Se lembra que foi em um dia de neve que viemos juntos aqui pela primeira vez?" o silêncio se fez presente, coloquei seus pedidos na mesa e estava para sair se não fosse por mãos que seguraram a barra de minha blusa. Ele. "Se lembra da última vez que estive aqui, certo?" assenti com a cabeça e entrelacei minhas mãos em sinal de nervosismo, "se lembra que cheguei as doze em ponto e que fui embora quando o café estava fechando?" me lembrava muito bem, foi há cinco dias atrás, ele chegou com um buquê gigantesco e me pediu que entregasse 'o de sempre' só quando a pessoa que iria lhe acompanhar chegasse, mas ela não chegou e ele não parava de olhar para o celular, foi meio triste vê-lo daquela forma "me lembro sim, você se sentou nessa mesma mesa e me pediu para que apenas entregasse o pedido quando sua acompanhante chegasse. O senhor chegou com um buquê lindo e estava muito bem vestido, como sempre" disse essa última parte baixinho, mas acho que ele escutou. Olhou para mim como se tentasse descobrir todos os meus segredos. "Naquele dia de neve, nós acabamos nos trombando no meio da rua e você me ofereceu um café em pedido de desculpas. Aquele foi o melhor dia da minha vida, eu conheci você naquele dia." ela disse ainda olhando a janela. Eu apenas fiquei ali, não sabia o que fazer. Eu saio ou não? Tinha algo que me dizia pra continuar ali, mas era difícil para mim vê-lo sofrendo. "Lembro me muito bem. Aquele dia já foi importante para mim, mas hoje..." ele fez uma pausa e pude jurar que o vi secar uma lágrima de muitas que insistiam em cair, mas ele as segurava. Eu via isso. Eu já passei por isso, eu sei muito bem o que ele estava sentindo. "hoje esse dia se tornou o dia que mais me arrependo de ter vivido." ele deu uma risada meio tristonha "Por quê?" disse e deixou sua lágrimas caírem. Ela simplesmente se virou e o encarou, seu olhar era indecifrável "Eu não sei, eu..." o homem a minha frente se exaltou um pouco e se levantou da cadeira onde estava "Então eu devo saber? Quem mais deve saber além de você? Será que devo ligar pra ele pra saber o por que?", agora todas as minhas perguntas haviam sido respondidas. Eu não podia acreditar que aquela mulher havia feito algo desse tipo. "Céus, não! Você está louco? Sente-se." ela disse colocando as mãos em uma das mãos que ele mantinha na mesa.

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