Estive a trabalhar num infantário, durante 15 anos. Neste infantário, muito aconteceu, quer de bem, quer de mal.
Uns ligeiros contratempos, fizeram com que Cristiano, não fosse como sempre para casa da avó. Esta ficou doente e sem conseguir ir buscar o neto. A mãe, estava presa e o pai, impedido de o ter. Restava a irmã, que vivia portas meias comigo. Era uma 6a. feira. eu tinha aulas na Gil Vicente. Pelas 19h30, fechei tudo enquanto o Cristiano andava atrás de mim. Mandeio-o ir buscar a mochila e lá fomos nós, rua acima em direção á Graça. Ele de mão dada comigo, pois passava a ter a grande responsabilidade de ter uma vida nas minhas mãos.
O Cristiano, tinha 7 anos, um pouco reguila, mas muito atento, meigo e bem bonito!
Entrei com ele na Gil Vicente. Na entrada, avisei o segurança, que o menino não podia sair da escola sem mim. Ele tinha um jogo chamado diablo, onde ele tinha de se entreter sozinho. Nunca na minha cabeça, passou a ideia de levá-lo para casa, fechá-lo á chave e ir para as aulas. Seria uma grande responsabilidade da minha parte. Tinha que tomar conta dele, como se de meu filho se tratasse.
Ele ficou no corredor das aulas e antes, disse-lhe que fosse para o quintal e que não saisse de lá, a não ser para vir ter ali, áquele corredor, pois a auxiliar, já sabia. Fui para as aulas mais ou menos descansado. No intervalo, estava ele no corredor sentado, cansado e com sono. Eu, fui chamá-lo, leveio-o ao bar para comer qualquer coisa e depois, foi comigo para a sala de aulas. Leveio-o para o fundo da sala e dizendo-lhe para por a cabeça nos braços e dormir, que depois o ia acordar para irmos embora.
Chegamos a casa, fiz mais qualquer coisa para se comer, depois, mandeio-o á casa de banho fazer xixi e deitar-se. Tinha a televisão no quarto. Disse-lhe para tirar as meias e as cuecas, para as lavar, já que não tinha mais roupa nenhuma dele e tinha de ser lavada sempre!
O fim de semana, de manha dei-lhe o pequeno almoço. Fiz a cama, tomei o pequeno almoço e fomos dar um passeio. Fomos até ao bairro alto, tirar fotos. Vi nele, o Cristiano diferente do infantário. Fomos para casa, estava lá a irmã dele na sua casa na porta da frente. Disse-lhe que fosse lá dar um beijo á irmã e aos bebés dela, enquanto fazia o almoço. De tarde, fomos até Belém. Fomos nos elétrico. Ele todo contente! ia no banco á minha frente, daqueles individuais. Leveio-o ao jardim, á beira rio e lá andámos até casa.
Em casa, jantámos, ele brincava até á hora de ir para a cama. Eu, lavava a loiça e mais tarde, fomos dormir. Já de madrugada, ouvi na casa da irmá dele, os bebés a chorar. Um de 8 meses e outro de 18 meses. Não estava ninguém para os calar. Os pais, tinham saído e os deixado a dormirem. Ao que soube, tinham ido para a discoteca e chegaram pelas 5h da manha. Enquanto eu olhava o Cristiano, que dormia profundamente ao meu lado, pensava que também ele, poderia estar ali sozinho na casa ao lado, sem mais ninguém a não ser os sobrilhos.
De manha, acordeio-o e fomos para o chuveiro. Começava uma aventura para ele e ao mesmo tempo para mim. O chuveiro ficava no corredor, onde era uma partilha entre os vizinhos daquele patamar. De repente, não me lembrava que não havia água quente e que ele, um miudo de 7 aos, nao podia deixar de se lavar. Não podia andar porco e ainda por cima, saberem que estava sob minha responsabilidade. Não havia outra forma. Tomámos banho juntos. Laveio-o, ensaboeio-o, tirei-lhe o sabão com a água fria e eu tb. Ele, tremia como varas verdes. Enroleio-o numa toalha e disse-lhe, que não havia água quente, mas não podia o deixar ir sem se lavar. Quase me emocionei e só faltou lhe pedir desculpa por isso!
Fomos entáo rua abeixo em direção ao infantário para mais um dia de brincadeiras para ele e aulas e para mim, de trabalho. Ao fim da tarde, tudo se ia repetir. Irmos os 2 de volta para a Gil Vicente, onde ele ia para a minha aula, fazer alguns trabalhos de casa, acabando sempre por adormecer. As professoras e auxiliares, também estavam a simpatizar com ele.
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Ingratidão
Non-FictionEsta história conta-se pelos episódios que se vão passando ao longo da minha vida. Gente que passou pela minha vida, que deixaram marcas e que nunca mais voltaram a querer amizade, depois de tudo o que fiz por eles.