Seria mentira dizer que não há absolutamente nada que eu goste na minha escola. É claro que tem! E também é claro que o que me faz permanecer no colégio Saint Clair é a última coisa que eu deveria gostar nele.
- Clarissa, você vai se atrasar! - Grita a minha mãe do andar debaixo.
São cinco e quarenta e cinco da manhã. Eu já deveria ter saído há uns quinze minutos, mas ainda estou terminando de me maquiar. Primeiro dia de aula pede um pouco mais de cuidado.
Termino de passar a última camada de rímel, desligo a chapinha da tomada e ajeito a saia azul marinho pra que ela pareça um pouco mais comprida do que realmente está, não estou afim de escutar meu pai enchendo o saco logo cedo.
Fui criada na igreja católica. Literalmente. E sei de cor todo moralismo pregado ali dentro. Nada contra, só faz muito meu estilo. Já o da minha família... Acho que se meu pai não tivesse conhecido minha mãe, ele teria virado padre. E se a minha mãe não tivesse conhecido meu pai, provavelmente não seria nenhuma santa, mas ela odeia que eu diga isso. Eu odeio quando eles mandam em mim.
- Filha, precisamos sair! - Agora é meu pai quem me chama.
Checo pela última vez a minha aparência no espelho. Excelente. É, modéstia nunca foi muito a minha praia.
- Pronto! - Digo entrando na sala.
- Você está linda. - Comenta minha mãe quando me vê chegando.
- Mas essa saia... - Contrapõe meu pai.
- Eu sei, está curta. Acho que eu cresci um pouco nessas férias, prometo que vou comprar outra. - Minto. Será que eles sabem que eu não vou!?
- Claro... agora vamos. - Responde minha mãe. É claro que eles sabem.
Dez minutos depois, chego na escola. Claro que eu poderia fazer este caminho à pé e ainda assim sobraria tempo pra tomar um café na Le Vins, uma lanchonete com cara desses cafés gringos que fica logo ao lado do colégio, mas meus pais gostam de participar do meu dia. Na verdade, essa é a única hora que eu vejo os dois.
Minha mãe é médica. Não uma médica, simplesmente, ela é a melhor neurocirurgiã do estado. Já ganhou prêmio e tudo. Trabalha tanto, que às vezes eu até esqueço como é tê-la em casa. Já meu pai, é um advogado renomado da área trabalhista. Ele quase sempre ganha. Acho que tenho mais memórias do meu pai me colocando pra dormir, do que da minha mãe, mas, ainda assim, também não são muitas.
Tanto faz, dá muito trabalho ser a filha perfeita na frente deles. O melhor é que a gente se veja pouco, pelo menos até eu juntar dinheiro suficiente pra sair de casa e não ter mais que ser quem eu nunca fui só pra agradá-los.
Nos despedimos, eles me desejam um bom início de semestre e eu saio do carro, aceno até que eles viram a esquina, quando não posso mais vê-los volto a saia pro lugar certo. Agora sim o ano pode começar.
Me viro pra entrar no Saint Claier e pronto, lá está o meu motivo.
Henri DeLamar. 17 anos. Repetente pela segunda vez, o que faz com que agora ele esteja na minha sala. Herdeiro da maior rede de shoppings do país. E o garoto mais lindo que eu já vi na vida. Ah, o mais problemático também.
Sabe quando dizem que ter tudo não é tudo? Acho que ele entende isso como ninguém. E eu queria entendê-lo. Mas isso seria suicídio social. Opa, acho que eu ainda não falei que sou uma das garotas mais populares daqui, não é!? Quer dizer, agora, no terceiro ano, eu sou oficialmente a mais popular.
Melhor aluna. Melhor filha. Melhor amiga. Bonita, ou extremamente padrão, como quiser... Sempre envolvida com as pessoas certas, líder das ações sociais, oradora da turma, namorada do capitão do time da escola e mais tudo o que você conseguir imaginar de extremamente chato. Prazer, essa sou eu, Clarissa Viera. E essa é minha vida. Aposto que você não vai se emocionar.
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O (meu) garoto errado
RomanceClarissa é aquela garota que todo mundo gostaria de ser, mas ela não acha isso tão emocionante. Rodeada de falsos amigos e de uma vida em que ela sente que não foi feita pra ela, a única coisa que tem feito sentido nas sua manhãs no colégio Saint C...