É, acordei. Ai meu Deus, o que eu fiz? Não lembro nada sobre ontem a noite. Eu simplesmente não me lembro. Saí do trabalho e enquanto esperava o ônibus, recebi uma ligação de um dos meus amigos me chamando para sair. Depois de ter chego lá apaguei. Eu acho que bebi demais. E quando acordei mais cedo vi uma carta abaixo de minha porta:
"Prezada Kelly, em relação ao que disse ontem em uma ligação às nove da noite, lamentamos ao dizer que está despedida. Algumas palavras ofenderam seu chefe, e isso desencadeou uma série de desabafos dele ao RH da empresa. Esperamos que consiga superar de forma maravilhosa. Com atenção, Departamento de Relações Humanas da Revista Californication."Ótimo. Fui despedida. Que medo do que disse ontem. Ai meu Deeeeeuuuus. Bem, só me resta chorar, e muito.
Após chorar, tomar sorvete e assistir a um filme de cachorro, eu estou pronta para sair e procurar ajuda de amigos, já que me meteram nessa. Acho que vou ligar pra mimha mãe, e avisar do ocorrido. Que merda. Ok. Vamos lá.
- Alô.
- Oi, nossa quando tempo que não nos liga senhorita! O que houve?
- Que isso? Por que acha que aconteceu algo? Bem, pior que aconteceu. Eu fiz merda enquanto bêbada e fui demitida.
- Pa... Ra... Béns. Vai saber o que você fez.
- Nem eu quero saber. Mas olha, se souber de um lugar onde estejam procurando por emprego, me avisa.
- Pode deixar. Aliás, tem uma floricultura aqui perto. Abriu agora e estão precisando de ajuda.
- Mas aí teria que me mudar. Acho melhor não. E nem sei mexer com planta. Então acho que vou procurar algo mais por aí.
- Não acha que esta cidade é demais pra você filha. Mal conseguia ir para o trabalho. Sempre procurando no GPS.
- Mãe, já disse que San Francisco não me faz tão bem. Aliás nem gosto de praia.
- Você não gosta é do seu corpo.
- Nossa. Essa doeu. Beleza, uma amiga acabou de bater aqui na porta então, te ligo mais tarde quando achar algo. Até.
- Até.
Acabei de levar uma tapa na cara com alguns comentários e minha mãe. Mas estou acostumada. Agora tenho que aturar comentários e mais comentários.
- Ooooii. Nossa, fiquei sabendo que foi despedida!
- Tá, mas porque o bolo?
- Ué, você me pediu ontem pra te fazer um bolo, mas como estava a noite, eu fiz hoje e manhã.
- Meu Deus. Não percebeu que eu estava bêbada?
- Amiga, eu não sei perceber isso porque todos os meus amigos falam comigo bêbados.
- Precisa de novos amigos. Tá, então vamos aproveitar o bolo, pegar a lista de empregos e começar a mandar meu currículo.
- Sério, não tem nada mais pra fazer não?
- Ou, pode ir comigo até o centro, eu estou vendo uma vaga em um café do lado do parque e da entrada do metrô. Imagine, quanta gente saindo do metrô com vontade de tomar um cafezinho.
- É, não sei se isso seria um ótima opção pra você, mas fazer o quê.
Depois de uns quatro pedaços de bolo, fomos até o centro e procuramos esse café, que abriga minha única esperança.
Subimos a escada do metrô e descobrimos que estavam prestes a fechar as postas de vez. E la se vai minha esperança. A última que morre agora foi a primeira a se suicidar.
Ok, foi mal, um pouco pesado mas é a verdade nua e crua. Eu tenho poucos escolhas agora. Ou me desculpo com o pessoal do RH, ou eu me mudo pra San Francisco.
Mas, olha só, meu orgulho parece grande demais para me desculpar. E San Francisco parece uma ótima escolha. Se bem que todos meus problemas lá ja devem ter ido embora.
Espero que ainda estejam contratando na floricultura. Ou eu posso procurar por outra coisa. Talvez uma banda, mas eu não sei ficar nada, nem rumo na vida.
Ou então uma boate, posso servir drinks e virar a noite fácil, mas eu não teria paciência para os bêbados. Acho que vou pensar em algo lá.
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Rosera - Espinhos Não São Novidade
DragosteUma floricultura. Uma cidade ativa. Uma mulher preocupada. Um homem zen. E rosas pra regar.