O natal por aqui sempre foi muito agitado, e como eu só tinha uma família, achava que isso acontecia com todas as outras. Estranhamente, com dez anos eu descobri (indo passar o Natal com a família da minha melhor amiga) que as festas de final de ano na minha família eram simplesmente catastróficas, e que se o Papai Noel fosse real, a minha avó ficaria sem presentes. Quando eu finalmente comecei a entender as coisas, eu e mamãe apelidamos o natal e o ano novo de "A reunião".
O dia mais temível do ano inteiro, por mim, pela mamãe e pra todas as novas visitas. Era o dia no qual juntávamos toda a nossa enorme família ao redor de uma mesa, com o intuito de celebrar alguma coisa específica, mesmo sabendo que celebrar era a última coisa que fazíamos.
— Duda! Eu tô falando com as paredes? — mamãe berrou no meu ouvido, me mostrando dois vestidos vermelhos.
— Desculpa, mãe. Eu me distraí. — me distraí listando motivos concretos pra não irmos à reunião desse ano, quis acrescentar.
— Eu percebi. Tá pensando em quê? - os cantos de sua boca subiram, como se tivesse ganhado na loteria, eu sabia o que significava — Você tá pensando em alguém? Tá apaixonadinha, é? — ela usou uma voz irritante.
— Nossa, como você adivinhou? Eu estou completamente apaixonada pela ideia de que um dia a gente não vai chegar atrasado em algum lugar. — falei, mostrando o horário no relógio.
Eu sabia que ela se atrasava para ter menos tempo para discutir com a vovó, mas era uma completa perda de tempo, já que vovó ficava a festa toda reclamando da falta de comprometimento da mamãe.
— Você é igualzinha ao seu pai, sabia? — ela bufou, fazendo uma careta. Papai apareceu logo atrás dela, com os braços cruzados.
— Eu adoraria ficar aqui e discutir sobre os defeitos que eu dei pra nossa filha, mas a Duda tem razão. E a Aisha tá com fome. — meu pai entrou, Aisha estava pendurada em seu pescoço.
— Tá, me dá cinco minutos. — ela empurrou meu pai para fora do quarto, fechando a porta — Duda, qual desses me deixa com cara de mãe responsável que não deixa você sair de casa? — ele colocou os vestidos na frente do corpo.
— Mãe, pra agradar a vovó é simples, é só olhar pra o vestido que você mais gostar, e então escolher o outro. — tirei, seu vestido favorito das mãos e ela sorriu.
— Esse cérebro? — ela tocou minha cabeça — Você herdou de mim, garota.
Ela vestiu o vestido tubinho, que ela detestava, e calçou os sapatos com pressa. Minha mãe podia ter todos os defeitos do mundo (eu duvidava que tivesse algum), mas ela inegavelmente fazia de tudo pra agradar a vovó, mesmo que ela não merecesse nenhum esforço.
Olhei no visor do celular, pela quinta vez em um minuto, e não havia uma mensagem se quer. Estranhei que Henry não tivesse mandado um bilhão de coisas, ele estava agindo estranho.
— Tá todo mundo arrumado? — mamãe perguntou, assim que entramos no carro.
— Sim. — respondemos em uníssono.
— Todo mundo sabe as regras, não é? — mamãe perguntou, puxando o vestido pra baixo.
— Vamos logo, eu tô com fome! — Aisha disse.
— Seja o que Deus quiser!
O trajeto até a casa da vovó sempre era muito esquisito, por conta da grande tensão que aquele dia carregava. Papai sempre distraía mamãe com perguntas que ela se empolgava muito pra responder, desse jeito ele dava um jeito de ela esquecer o que estava acontecendo, e focava em acalmá-la sem que ela notasse. Eu o admirava muito por isso.
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O Irmão Da Minha Melhor Amiga 3
De TodoContinuação do livro O irmão da minha melhor amiga. Assim como nos contos de fadas, Kate e Alissom haviam se apaixonado. Fruto desse amor, mas não dá maneira tradicional, surgiu sua filha mais velha: Duda. Uma menina doce, gentil e muito focada... f...