Heriberto à viu sair e foi para o seu quarto. Entrou no banheiro, ligou o chuveiro e entrou de roupa e tudo. Queria que a água levasse toda aquela dor e vazio que estava sentindo, mas não aconteceu. Ela permanecia ali, lhe torturando, lhe dilacerando a alma. Não sabia como iria suportar todo aquele martírio, de ter ela ao seu lado, de saber que no mesmo instante em que descobriu sua filha, estaria caminhando para uma parte bastante dolorosa. Iria cremar o corpo daquela menina, que em tão pouco tempo conquistou seu coração e agora havia sido arrebatada, de uma dolorosa forma.
Victoria se arrumou e o esperou sentada no sofá, nem de longe parceira a mulher bela e decidida. Estava parecendo um espectro do que um dia foi, seus olhos não tinham brilhos, seu lábios estavam apagados e seu corpo tremia pelo choro abundante.
Após o banho Heriberto se vestiu e saiu indo para a sala, onde encontrou Victoria no sofá.
Heriberto: Acabei de ligar para a funerária - a olhou - pedi para que eles organizassem tudo... Victoria - sentou ao seu lado e segurou sua mão - eu sei que quer vê-la... mas não faz isso... não se martirize mais do que já está - abaixou à cabeça - ela está irreconhecível - suspirou - foi bastante doloroso vê-la daquela forma... vamos cremar nossa filha - fechou os olhos chorando - vamos deixá-la descansar - falou triste.
Victoria: Eu... não quero ver... quero ter a imagem do sorriso dela, aquele sorriso que sempre teve o poder de me dar forças, de me levar a outro mundo... o sorriso dela me lembrava o seu - ela fechou os olhos e viu sua menina na sua frente - a amo tanto... minha única filha... minha família... Emma era quem me dava forças para levantar todos os dias... pensei que sair daqui - ela respirou fundo - que te perder, tinha me causado um buraco na alma... mas nada se compara a dor de se perder um filho - ela colocou as mãos no rosto - me perdoa... eu nunca deveria ter ido...
Heriberto: Imagina a dor que estou sentindo - levantou do sofá - não tive se quer a oportunidade de saber que ela era minha filha... de poder lhe abraçar... lhe dizer o quanto a amo... me destruiu Victoria... me tirou o que de mais precioso tive na vida... foi tão egoísta - a olhou chorando - conviveu com ela por anos... lhe viu crescer... ouviu ela te chamar de mamãe... à levou a escola... cuidou dela quando esteve doente... esteve em suas conquistas... mas eu... eu não tive se quer à oportunidade de falar o quanto lhe amava... o quanto sonhava com o momento em que seria pai... pai de uma mulher tão inteligente... esforçada... de uma menina meiga... dócil... mds - colocou as mãos no rosto abafando o grito de dor.
Victoria: Sim... sou culpada de tudo isso e nada do que eu diga ou faça, vai aliviar a sua dor...- ela passou as mãos no cabelo - apenas que eu quis protegê-la... protegê-la do seu pai... e da sua noiva... quando eu soube que estava grávida, te liguei... queria convesar e ela atendeu... disse que você tinha seguido a vida, que eu não era nada e que iam casar... ela estava aqui... aqui onde eu cheguei a considerar meu lar... mas nada do que eu diga vai justificar... vamos nos despedir dela e seguir... ela sabia que você era seu pai... estava esperando só o momento certo para lhe falar... ela te amou Heriberto, antes mesmo de saber... quando ainda era uma menina, ela leu sobre uma das suas descobertas e disse que queria ser como você.
Heriberto: Que noiva Victoria?... sempre fui sincero com você, a Bárbara não era e nunca foi nada minha... nada... deveria ter me procurado... ter insistido... um filho é um filho... nada vai justificar o que você fez... mesmo que eu tivesse me casado com outra, ela seria minha filha... minha menina - passou a mão no rosto - aqui era seu lar... ao meu lado... mas caiu nas provocações do meu pai... sempre te falei o quanto queria aquele homem longe de mim... agora é tarde para me dizer o quanto ela me amou... ela está morta... morta... e não foi ela quem me falou isso... foi você - secou seu rosto lhe olhando - agora tudo que me resta... é a lembrança de uma menina, que chegou em meu hospital, dizendo que era fã do meu trabalho - sorriu triste - pouco à pouco foi se tornando alguém bem mais especial... era uma amiga... muitas vezes imaginei como seria se fosse nossa filha... e ela era... mas o destino interrompeu bruscamente o momento em que a teria em meus braços.
Victoria ficou calada, ele estava certo por isso. Iria encerrar esse capítulo doloroso da sua vida, descobrir quem fez isso com a sua menina, fazer quem quer que fosse pagar e voltaria para a sua solidão, agora duas vezes mais forte. Ela levantou e foi até a porta, só queria sair dali, quem sabe correr gritar e extravasar esse desespero que tomava conta do seu peito.
Heriberto saiu com ela de seu apartamento e foram até a funerária, onde já estava tudo pronto. Após assinar alguns documentos e de uns minutos a sós com o caixão da filha em um lugar reservado, ela foi levada e os dois assistiam em lágrimas o corpo daquela jovem que tanto os encheu de orgulho, se transformar em cinzas. Horas depois os dois entravam no apartamento dele, Heriberto levava as cinzas de sua filha em um delicado vaso de porcelana, em breve os dois levariam até o lugar que Emma mais gostava de ficar.
Heriberto: Fique à vontade - falou lhe olhando - vou tomar um banho... com licença - falou e foi para seu quarto.
Após colocar o vaso sobre a cômoda do seu quarto, foi para o banheiro, onde tomou um longo banho. Após terminar vestiu uma calça moletom e sentou no sofá de seu quarto, estava sem forças para nada.
Victoria olhou para todos os lados, tudo a aprisonava, tudo a prendia. Ela foi até o quarto, tirou as roupas e vestiu algo leve, já estava anoitecendo outra vez. Ela saiu, desceu e foi a um lugar que antes tinha um grande poder de lhe acalmar. Ela afundou os pés na areia e caiu sentada no chão. Ali naquela praia que ficava próximo ao apartamento de Heriberto, ela estravasou toda a sua dor, gritou... gritou até ficar quase sem voz. Com suas mãos cheias de areia, ela prometeu que encontraria quem fez isso e faria pagar. Só então, ela acabaria com esse sofrimento, não tinha mais sentido viver.
Heriberto saiu do seu quarto, procurou ela mas não a encontrou. Sabia muito bem onde lhe encontraria, ele vestiu uma blusa e saiu do apartamento, ao atravessar a pista lhe viu sentada na areia. Ele caminhou lentamente até lá e sentou ao seu lado.
Heriberto: Sempre que queria te sentir ao meu lado ou que necessitava de forças para levantar e seguir... era aqui que eu vinha - falou olhando para o mar - sempre foi aqui onde encontrei forças para levantar e seguir... mas agora... agora não estou encontrando essa força... não sei mais onde encontrar ela - suspirou.
Victoria: Não existe lugar no mundo que nos traga a paz... a mim mais ainda... você tinha razão... a culpa e a dor vão me seguir e me destruir... é um fardo grande demais para mim carregar - ela levantou e foi até a água uma onda veio e lhe molhou os pés... ela só quis se deixar levar por ela e se afogar naquele imenso mar de dor e decepção.
Heriberto levantou e se aproximou dela, à puxou com cuidado para os seus braços e fechou seus olhos se permitindo chorar. Ele não tinha vergonha em expressar o que sentia, ao contrário, se permitia deixar que ela saísse. Tentava encontrar uma maneira de extravasar, de aliviar, mas infelizmente não encontrava. Perder um filho é algo terrível, uma dor terrível e inexplicável, lhe deixará um vazio na alma, uma perturbação sem explicação. Ainda mais, sabendo que um ser humano havia cometido tal atrocidade. Ele e Victoria estavam vagando naquele imenso e profundo mar de dor, sem encontrar paz e conforto. Apesar de toda dor, não deixaria ela sozinha, sabia o quanto tudo estava e iria piorar.
Victoria se deixou abraçar e o abraçou também. Ela suspirou de olhos fechados, aí como sentiu falta desses braços, que sempre tinham o poder de lhe reconfortar.
Victoria: Acho que nunca foi esse lugar... que me trouxe paz... eram seus braços... eram eles... sempre que eu estava aqui, você vinha e me abraçava.
Heriberto: Sempre foi aqui que eu lembrava de você... de estar em paz... de te sentir... além daquela cama, esse lugar sempre trouxe recordações do que fomos um dia... do quão felizes fomos em poucos meses... mas que depois disso, vi tudo acabar... agora isso... sinto uma dor tão profunda... tão dilacerante... tudo que eu queria agora era acabar... exterminar essa dor... queria ir com ela... mas não posso... não posso descansar até encontrar o culpado por isso... até lhe punir por tirar ela de nossos braços - falava chorando - ela foi o que de melhor nos aconteceu... era tão linda... tão doce - sorriu em meio as lágrimas - quantas e quantas vezes quis lhe abraçar... gritar o quanto aquela aproximação me tinha confundido... mas me calei por medo... medo dela me interpretar de uma forma errada... eu não entendia o que estava acontecendo, mas meu coração sempre soube... desde o momento em que ela entrou em minha sala... quando me chamou de Dr... era ela... era nossa filha... tive ela ao meu lado... tive a oportunidade de lhe abraçar e não o fiz... agora estou com meus braços vazios... nada me preenche... nada me tira essa dor... tudo que eu queria era fechar os meus olhos e não acordar mais - soluçou chorando.
Continua...
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Te Amo y Te Amo - Victoria y Heriberto (Concluído)
RomanceUm amor que superou o tempo e uma perca irreparável. Uma dor que os uniu e ao fim viu a vida lhes devolver quem tanto amavam. Obs: Se você estiver lendo essa história em qualquer outro site que não seja na wattpad, te convido a ler diretamente no si...