Descobertas inesperadas

Capítulo 3

As semanas passaram exatamente do mesmo jeito, acordava cedo e ia treinar até tarde. Tudo seguia a mesma rotina diária sem nenhuma alteração. Só havia um lugar que não estava mais igual, minha mente. Meus pensamentos não me deixavam em paz, me esforçava nos treinos para tentar parar o fluxo deles, mas era meio impossível já que o responsável pela minha mente estar tão confusa também estava lá treinando.

Desde Otabek viera a Rússia para morar e treinar até o próximo Campeonato Mundial que aconteceria ali na capital russa, um turbilhão de sensações e emoções virava dentro do meu estômago. Em parte essa era uma das razões de porque eu ficava até tarde treinando, para tentar silenciar minha mente, quem sabe treinando até a exaustão física tivesse um pouco de paz. Mas não estava dando muito certo já que ele também treinava ali, falava comigo, compartilhava comentários e pequenos sorrisos de companheirismo. 

Ficava repassado na mente como num filme sendo rebobinado o dia que nos conhecemos, em que ele simplesmente me perguntou se eu iria ser amigo dele ou não, dizendo que eu tinha olhar de soldado, devia ser pelo fato de que desde pequeno precisei ajudar financeiramente o que restava da minha família e não tinha tempo nem sequer vontade de fazer amizades, queria apenas ser o melhor e isso não mudou. 

E depois dessa lembrança vinha a dele me salvando verdadeiramente do exercito de garotas loucas do meu suposto fã clube que me seguiam e farejavam como um cão onde quer que eu fosse, é assustador, como se não bastasse os idiotas que tenho que aguentar o dia todo. E nesse ponto eu recordava nitidamente ele chegando na sua moto e me tirando dali, não esperava mesmo por aquilo, involuntariamente a lembrança de estar abraçado as costas dele enquanto ele pilotava a moto me fazia corar. 

O que tudo aquilo significava? Por que caralhos eu não conseguia tirar aquele garoto da cabeça?
— Aconteceu alguma coisa, Yurio? 

Yuuri me despertou dos meus devaneios, estava deitado no sofá da sala encarando o teto com a tv ligada passando os créditos de algum filme que havia terminado. Nem percebi que já devia estar ali há umas boas horas.

— Tô bem. 

Respondi automaticamente, o japonês me encarou parecendo avaliar minha resposta, fui salvo pelo celular dele que começou a vibrar, ainda bem porque não queria conversar com ninguém no momento. Vi ele pegar o celular para ler a mensagem e dar um sorrisinho idiota apaixonado, só podia ser mensagem do Victor. Algo estalou na minha cabeça, a voz de Victor me veio claramente na mente quando ele perguntou alguns dias atrás com quem eu estava conversando no celular porque estava sorrindo para a tela. PUTA QUE PARIU. PUTA MERDA. PUTA MERDA. 

Não, de jeito nenhum que eu ficava com essa mesma cara falando com o... Não. Coloquei as mãos no rosto, cobrindo a cara e apoiando os cotovelos no joelho.

Eu estava gostando dele. Mas o que foi que acabei de pensar, que afirmação é essa, cérebro imbecil. Eu estava gostando dele? Droga. Estava. мой бог. Meu Deus. Senti a respiração se acelerar respondendo as batidas no peito. Primeiro, como eu iria encarar ele agora? E segundo, será que... Ah quanta idiotice. Eu iria saber se ele gostasse de mim. Desviei os olhos pro meu pulso onde a pulseira que ele me deu ainda estava e senti um martelar mais forte dos batimentos. Talvez. 

Fui pro quarto atrás do meu celular que deixei carregando e o peguei para olhar as mensagens. Congelei vendo que Otabek me mandara alguma coisa. Porra. Para de agir assim. Bufei e abri a mensagem rapidamente. 

"Yuri, você vai estar ocupado mais tarde? Quer vir pra cá ver filme?"

O QUÊ? MAS QUE PORRA, ELE TÁ ME CHAMANDO PRA SAIR? Calma, tinha mais coisa escrita, não surta, Yuri. Termina de lê.

"... Phichit quer fazer uma noite de filmes, ele chamou o Seung Lee, mas acho difícil ele aparecer. Enfim, me avisa. Vai ser as 19:30." 

Ah, tinha que ser coisa daquele cabelo de cuia. Ver filme com ele? Passo, obrigado. Mas Otabek estaria lá, a minha balança de decisão foi resolvida rapidamente. Era só uma dessas coisas de reunir as pessoas próximas pra fazer algo.