Capítulo I
Maldito é o homem que conhece a ciência das ilusões! Um homem conseguiu fazê-la e comparou seus vícios físicos com os morais, e até os amorosos. Conseguiu isto com uma maestria inconsolável.
Seu nome era Eros, sustentado pelos pais, devia ter uns 17 anos, classe média alta. Cria ter o dom para arte e este era o aval para nunca ter planejado nada de sólido nesta vida. Fingia ser músico, escritor, pintor, filósofo e dizia até que era a reencarnação de Ovídio.
Era um belo irreparável onde apenas na segunda mirada poder-se-ia sensualizar, espáduas médias, cintura esbelta, perna grossa de acordo com o conjunto, pele bem esticada e doce; o nariz singular com uma elevação óssea no meio, caimento diagonal; olhos em vivo castanho escuro e os cabelos eram negros e cacheados.
De fato, era uma estátua esculpida por um amante da bela puberdade masculina. Um verdadeiro presságio de que aquele seria um homem desejado. Sim! Eros, era assim... Todavia como nem tudo nessa vida é belo como o protagonista, eis que ele se apaixona por uma mulher altiva de posições firmes, firmadas pelo acaso e até pela violência.
Ela tinha um demônio veloz e indecifrável em tudo que se metia. E com toda essa malícia diabólica fez o mancebo se ajoelhar como em um ritual, oferecendo seu corpo e alma a esta divindade. O nome era Yellena.
Assim se fez durante um tempo, não muito, talvez uns três meses. Yellena sempre disse que no momento em que ele não a satisfizesse mais, o deixaria sem hesitar e sem se importar.
Capítulo II
Entretanto... Eros nunca deixaria isto ocorrer, daria duas vidas se preciso fosse pra ela nunca partir. Ele já era um escravo, um mártir e ao fim, louco. Não escrevia mais nada, não pegava em seu instrumento, não tinha forças pra pensar ideias novas, nada além dela. Chegando ao fim e dependente deste amor, entregue às malhas da paixão, se agarrou a tudo que ele mais prezou na vida até agora, Yellena!
Certa vez os dois, em sua cama incessável, faziam amor pela última vez, ele sentindo a certeza de que era um ser iluminado por tê-la radiante. Já Yellena, deitada, recebia-o como um sacramento de algo adiantado pelo costume. Nada disso o jovem percebia, ébrio com toda a sua divina posse.
E assim se foi a noite toda, chamada por ele posteriormente de "A noite das ilusões", "A madrugada de enterro" e "Uma manhã de morte atrasada". Sim! Ela se foi. Sem dizer adeus, nem bilhete com batom, sem lágrimas, gritos ou rituais. Cumprira o que lhe disse. De palavra? Pelo menos fazia a sua valer, já de abandonos era uma fada e de partir corações era a deusa do desengano.
Foi-se... Como quem se vai a um lugar novo. Sem olhar para trás, sem esperança, nostalgia ou ternura, porque Yellena era do tipo que sofre de amor apenas uma vez na vida e esse amor já havia sido superado. Ele a esperou um dia, dois, três, um mês e mais alguns... Afundou-se em um oceano de lágrimas e remorsos de tudo aquilo que não fez. Culpava-se por não ter sido melhor, de não ter se esforçado mais! Tudo em vão...
Perguntas nunca respondidas, porque tudo que é Deus não há respostas, nada é exato quando se põe algo neste nível, desgraça foi ele ter isto feito.
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Dissonância dos Vícios
Short StoryUm conto de amor, vicio, virtude e fracasso. Que homem que ama em lucidez? Além do mais qual homem esquece o rosto de quem se ama, quando se põe alguém numa posição divina, a sentença é a escravidão, da carne pela adoração de outra carne.