Capítulo 1

5 0 0
                                    

É UMA CONVERSA estranha e sutil. Quase não percebo que estou sendo chantageado.

   Estamos nos bastidores, sentados em cadeiras dobráveis de metal, quando Park Sooyoung diz:

— Li seu e-mail.

— O quê? — Eu levanto o rosto e olho para ela.

— Mais cedo. Na biblioteca. Não foi de propósito, é claro.

— Você leu meu e-mail?

— Ah, eu usei o computador logo depois de você — diz ela. — Quando acessei o Gmail, entrou na sua conta. Você devia ter encerrado a sessão.

  Fico olhando para ela, estupefato.

— Mas, então... por que usar um nome falso? — pergunta ela, batendo com o pé na perna da cadeira.

  Bem, eu diria que um nome falso serve justamente para impedir que pessoas
como Park Sooyoung fiquem sabendo da minha identidade secreta. É óbvio que
funcionou perfeitamente.

  Ela deve ter me visto sentado ao computador.

  E eu devo ser um idiota monumental.

  Ela dá um sorriso.

— Enfim, achei que você fosse gostar de saber que meu irmão é gay.

— Hã. Na verdade, não.

  Ela olha para mim, e eu pergunto:

— O que você está tentando dizer?

— Nada. Olha, Park, não tenho problema nenhum com isso. Não é nada de mais.

  Só meio desastroso, na verdade. Ou quem sabe uma merda de um desastre épico, mas isso vai depender da capacidade de Joy ficar de bico calado.

— Isso é muito constrangedor — comenta
ela.

  Não sei o que responder.

— Enfim — prossegue —, é bem óbvio que você não quer que as pessoas saibam.

  Bem. Acho que não. Embora essa coisa toda de sair do armário no fundo não me assuste.

  Acho que não.

  É uma caixa gigantesca cheia de constrangimento, e não vou fingir que anseio por esse dia. Mas provavelmente não seria o fim do mundo.

  Não para mim.

  O problema é que não sei como seria para Blue. Se Sooyoung contasse para alguém.

  Blue é do tipo reservado. O tipo de cara que não esqueceria de encerrar a sessão do e-mail. O tipo de cara que talvez jamais me perdoasse por ser tão descuidado.

  Acho que estou tentando dizer que não sei como seria para nós. Para Blue e eu.

Mas realmente não consigo acreditar que estou tendo essa conversa com Park Sooyoung. De todas as pessoas que poderiam ter acessado o Gmail depois
de mim... 

   Você precisa entender que, para começar, eu jamais teria usado o computador da biblioteca, só que bloqueiam o wi-fi na escola. E hoje foi um daqueles dias em que eu não podia esperar até chegar em casa e usar meu notebook.

  Eu não podia esperar nem chegar ao estacionamento e abrir o e-mail no celular.

  Porque hoje cedo eu tinha mandado um e-mail da minha conta secreta para Blue. E era um e-mail meio que importante.

Jimin Vs. A Agenda Homo SapiensOnde histórias criam vida. Descubra agora