BROKED - Concluída

Capítulo 15

O despertador gritou no meu ouvido, enquanto eu colocava o travesseiro por cima da cabeça para abafar o barulho, o que não deu muito certo. Eram exatamente 7:35 quando minha mãe gritou meu nome do andar de baixo. Girei para o lado e observei Amy ainda dormindo, os lábios entreabertos e algumas mechas de cabelo no rosto. Com um impulso, eu me inclinei e beijei sua bochecha, o que fez ela acordar repentinamente.

-O que houve? - perguntou, esfregando os olhos.
Amarrei meu cabelo em um coque e coloquei as pernas para fora da cama.
-Só o despertador gritando em nossos ouvidos.
Minha mãe gritou novamente.
-E minha mãe.
Amy bufou e saiu da cama, se dirigindo ao banheiro.

Por um longo momento, fiquei olhando para meu guarda-roupa aberto, verificando o que eu usaria hoje e pensando na noite que tive com Amy Thomas.

Um relacionamento com uma garota não era tão impactante assim para mim. Meu primeiro crush foi em Victoria Digg da sétima série. Ela usava meias coloridas que iam até o joelho e sempre amarrava o cabelo em um rabo de cavalo. No dia que ficamos presas debaixo da marquise do estacionamento da escola, por causa de um temporal, Victoria soltou o cabelo e eu a beijei.

Mas Amy não sabia ao certo do que realmente gostava e eu não queria pressioná-la nesse momento delicado.

A porta do banheiro abriu e Amy apareceu de cabelo molhado e cara limpa. Ela me ofereceu um sorriso sonolento e veio até mim. Meu coração deu três batidas de uma vez só.

-Eu não trouxe roupa. Terei que usar algum dos seus conjuntos da Adidas. - ela revirou os olhos e eu bati de leve em seu braço.

Depois de nos arrumarmos, descemos e encontramos minha mãe tomando café com os cotovelos apoiados em cima da bancada. Ela deu um meio sorriso e pôs a xícara dentro da pia.

-Quero que venha direto para casa depois da escola.
Balancei a cabeça negativamente.
-Hoje eu tenho treino depois das aulas.
Senti Amy desconfortável ao meu lado.
Roxana me lançou um olhar fuzilante que dizia "não me obrigue a brigar com você na frente de outras pessoas".
Revirei os olhos e minha mãe arrumou seu terno de tweed e saiu pela porta da frente sem se despedir.

Amy apoiou os cotovelos na bancada, enquanto eu pegava duas xícaras de porcelana no armário e as enchia com café preto.

-Sua mãe está estranha.
Eu concordei.
-Sabe o mais estranho disso tudo? -bebi um gole do café antes de falar -Não vejo meu pai desde sábado, depois que ele me deixou naquela boate.
Amy franziu as sobrancelhas.
-Você já tentou ligar para ele?
-Ele não atende.

Neste momento, Amy pegou o celular do bolso e torceu o nariz.

-Minha mãe quer conversar depois da escola.
Eu sorri.
-O que está acontecendo com nossos pais?
Amy tornou sua expressão um pouco séria.
-Você acha que eles sabem sobre a gente?
Balancei a cabeça.
-Óbvio que não. - quando vi que Amy não se tranquilizou, fui até ela -Amy, tá tudo bem.
Ela balançou a cabeça afirmativamente.
-Desculpa, eu só...
-Eu sei.
-Eu gosto de você, Grace. É sério. Eu gosto de você.
Segurei suas mãos pintadas de azul.
-Eu também.
-Só que minha família é muito intransigente em relação a esse tipo de assunto. -Amy abaixou a cabeça.
Dei um beijo de leve em sua boca e senti sua respiração acelerar.
-É melhor nós irmos para a escola, não acha?

Depois do seminário sobre os micro-organismos durante a aula da Srta. Parker, Lauren Antony voltou ao seu lugar com um semblante triunfante.

Olhei para o lado e observei Amy, enquanto rabiscava algo em seu caderno com a capa amarela da Sharpie. Coloquei uma mecha atrás de sua orelha e Amy se assustou, olhando para mim.

Escutamos o sinal do intervalo soar, e acompanhei Amy e as outras garotas em direção ao refeitório. Após nos sentarmos em nossa mesa, Kristin foi a primeira a falar.

-O que vocês tomaram naquele bar?
Cristina deu um sorriso discreto e mexeu no piercing em formato de coração na orelha.
Amy piscou sem entender.
Lisa pigarreou antes de morder um pedaço de sua maçã farinhenta.
-Estavam tão doidas que até se beijaram.
Observei Amy corar e olhar para as mãos em seu colo.
-Eu bebi bastante vodca. -me intrometi, tentando direcionar a atenção de Kristin para mim Eu tenho certeza que alguém misturou algo na minha bebida.
Cristina soltou uma risada.
-Com certeza tinha algo na sua bebida. Você beijou a Amy!
Amy fez "Shhh" para ela e olhou ao redor, parando o olhar envergonhado em mim.
Me senti magoada.
-Calma, foi só um beijo. -retrucou a garota.
Torci o nariz e me levantei da cadeira, ajeitando minha mochila holográfica nos ombros.
-Eu preciso ir, minha mãe está me esperando.

Após chegar em casa, jogar a mochila no sofá e ignorar as três ligações de Amy, fui em direção à geladeira e peguei uma garrafa d'água, ignorando o quase engasgo ao tomar o primeiro gole.

A porta da frente abriu com um baque e eu pus a mão no coração, ao ver minha mãe com sua mala de couro falso e desabotoando seu terno da Saks.

-Precisamos conversar.
Dei mais um gole da água.
-Eu estou aqui.
Roxana suspirou fundo e jogou as chaves em cima do balcão de mármore.
-Você nunca mais irá falar com a Amy.
Franzi as sobrancelhas e cruzei os braços.
-Ou com ninguém daquela família. Arruma suas coisas porque vamos voltar para Vancouver e ficar na casa da minha mãe.
Antes dela subir o segundo degrau da escada, me posicionei em sua frente com os braços cruzados.
-E eu posso saber o porquê desse drama todo? Assim, do nada?
Minha mãe suspirou.
-Só arruma suas coisas.
Bati os pés.
-Eu não vou à lugar algum com você antes de saber o que está acontecendo, mãe!
Roxana se virou de frente para mim, suas bochechas bronzeadas ficando vermelhas.
-Você quer saber?
Assenti com a cabeça, ainda com os braços cruzados.
-Seu pai nos traiu com aquela mulher! Seu pai me traiu com a Melissa! É por isso que Jonathan foi embora e seu pai foi arrumar emprego longe daqui!
Antes de eu tentar qualquer coisa, meu telefone tocou no bolso e minha mãe subiu as escadas correndo.
A mensagem era do meu pai.

Pai: Precisamos conversar. Me encontra mais tarde?