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Seulgi ♡

Mais uma vez, naquela noite, passava das duas manhã quando finalmente fui para a cama.

E já fazia mais de meia hora que eu me revirava inutilmente sobre ela, em busca de uma posição mais confortável que não era encontrada, muito provavelmente porque não existia. O desconforto - disso eu tinha certeza no meu íntimo - estava na minha mente, e se colocava para fora à cada segundo, através dos meus poros, enquanto eu nada podia fazer para impedi-lo, mas também não conseguia me aquietar com ele. Também já fazia algum tempo desde que eu subira para o dormitório, muito mais do que aquela meia hora, na realidade; saíra do quarto, no andar de baixo, e fora diretamente até Irene lhe informar de que estava indo me recolher mais cedo, alegando estar indisposta. Ela não me pareceu muito convencida, talvez porque a adrenalina dentro de mim fosse audível na minha voz, e visível no meu comportamento quando a abordei, gerando desconfiança,mas permitiu a minha retirada, rápida e ignorando alguns degraus da escada, rumo ao canto onde eu poderia finalmente me encarar no espelho e dizer a mim mesma que estava ficando louca. Sim, louca, porque não fazia o mínimo sentido tudo aquilo que havia acontecido dentro daquelas quatro paredes... embora houvesse acontecido muito menos do que aquilo que eu previa... ou que eu desejava... Ou talvez ambos. Não fazia sentido... recusava-me a crer que, após tanto tempo, após aqueles dois anos, ele finalmente notara a minha existência, e da maneira mais bizarra de todas, logo após uma "seção" com um cliente, enquanto eu não estava vestida... não que fizesse muita diferença estar coberta da cabeça aos pés na sua presença; a aura de tensão que emanava dele, contagiando todo o ar ao seu redor, era tão intensa, os olhos escuros eram tão intensos, que eu duvidara se não poderia ler a minha alma. Então, que diferença faziam as roupas? Uma apenas: despida, eu podia sentir como meus braços se arrepiavam, conforme ele me olhava, ou devorava. Porque eu ainda tinha a sensação de que ele era um predador. Um predador em plena caçada.

Mas não me entrava na cabeça como, entre tantas caças disponíveis, escolhera justo a mim, e não qualquer uma das outras que nunca havia tido... 

Uma batida na porta me tirou do meu estado inútil de reflexão. Virei-me na direção dela, relaxando de uma tensão que eu desconhecia até então ao constatar que era apenas Irene.

- Ainda acordada? Pensei que teria de andar na ponta dos pés para não te acordar... - ela sorriu, meio confusa, ao me ver ali, de frente para a penteadeira, ainda com a mesma roupa com que deixara o salão,mais cedo. Franzi o cenho com suas palavras.

- Como assim "dormindo"? Acabei de chegar aqui... não fazem nem dois minutos... - questionei, abismada; seu rosto se torceu numa confusão ainda maior.

- Seulgi... você subiu à duas horas. Eu é que acabei de chegar... terminei de fechar as contas agora. - disse ela, pausadamente, como se escolhesse cada termo, cada letra de sua fala, para não me assustar. Mas ainda assim foi impossível; duas horas? Era possível que eu me distraíra à tal ponto de não ver o tempo escorrendo pela ampulheta, como acontecera? Observei-a em silêncio, enquanto ela encostava a porta do dormitório, caminhando a passos largos até sua cama e se jogando nela como se não a visse há um século. - Depois que você saiu, ainda atendi um cliente... E esbarrei num dos amigos do Park, enquanto eles saíam. Aquele cara estava completamente bêbado, praticamente caiu em cima de mim e...

- Disse que esbarrou no Park? - a interrompi, fazendo-a desviar sua atenção do espartilho que retirava para mim, o cabelo escuro lhe caindo parcialmente no rosto.

- Não. Eu disse que esbarrei num dos amigos dele. - corrigiu-me, logo voltando a executar a tarefa de antes. - Acredita que o sujeito me chamou de "Anjo"? Devia estar vendo estrelas de tão bêbado... - tagarelou, suspirando ao retirar a peça, logo partindo para o vestido, na mesma agilidade. - Até onde contei, pediu uma sete garrafas... mas deve ter sido mais... ficou fora da minha vista por um tempo, e quando tornei a vê-lo, estava babando na mesa. E pensar que demoramos tanto para limpá-las... - lamentou, prendendo o cabelo num coque frouxo no alto da cabeça.

Just one more - Seulmin FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora