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Seulgi♡

A manhã que se seguiu ao incidente no dormitório, ao contrário do que eu esperava, foi tranquila. Era como se nada daquilo houvesse acontecido.

Não houve um único comentário à respeito de todo o ocorrido, o que contribuiu para a manutenção do meu bom estado de humor durante o café da manhã, e até mesmo durante a seção de limpeza do salão - local que abrigava nossas refeições, uma vez que a sala de jantar em si não comportaria todas as quase trinta mulheres que trabalhavam ali -, e as dezenas de louças lavadas durante a mesma. Não era uma tarefa rápida, muito menos prática, mas quando realizada em grupos de três, como o foi, até que poderia ser encerrada mais cedo; assim, uma hora e meia depois da dispersão da primeira refeição do dia, eu já me encontrava novamente no quarto, dessa vez entretida com a limpeza semanal que fazia em minhas coisas. Apesar de possuir relativamente poucos pertences, a quantidade de poeira que estes poderiam acumular em sete dias, para mim, era inacreditável. Dessa forma, uma vez por semana, eu me dedicava à reorganiza-los, limpando o pó que se acumulava sobre livros e potes de cristal, e encaminhando peças de roupas quase esquecidas para um passeio nos tanques de roupa suja, nos fundos da casa. E era em meio a isso que eu me encontrava, quando uma batida na porta me tirou dos meus devaneios.

Ergui o rosto do livro em minhas mãos, o qual sem perceber me pegara lendo, completamente absorta nas linhas que retratavam heróis e criaturas míticas; mais batidas vieram, fazendo-me me apressar a descer da cama, tropeçando em roupas emboladas no chão, como a desastrada que às vezes se apossava de mim, e atender quem quer que fosse. Para a minha não surpresa, na verdade, era Irene.

- Seulgi... eu não queria te atrapalhar... - se desculpou ela, com um sorriso tímido; certamente vira a confusão dentro do dormitório e supora que eu estava ocupada com algo. Me apressei a negar.

- Não... não era nada de importante... - retribui o sorriso, limpando as mãos na saia do vestido, já completamente imundo pelas duas faxinas seguidas. O sorriso de Irene se ampliou. - Em que posso te ajudar, Baechu? - perguntei, em um tom de voz animado.

- Bem... recebi uma carta do meu primo há alguns dias... - começou ela, ao que assenti, aguardando que continuasse. Irene era uma das poucas de nós que ainda tinha contato com alguém da família, no caso, um primo de segundo grau que não morava no país, mas que ainda assim escrevia à ela. - Ele disse que me enviaria um pacote pelo correio, e que deveria chegar nessa semana... mas eu não recebi nenhum recado, de ninguém de lá, e estou começando a temer que tenha sido extraviado... eu... queria perguntar... se você não se importa em ir checar se ele já chegou... Eu mesma iria, mas há tanto trabalho naquela cozinha. Se eu sair por um segundo aquelas cabeças ocas podem por fogo em tudo! - ri de seu exagero, no entanto, tendo de concordar. Realmente, algumas das meninas encarregadas de preparar o nosso almoço eram verdadeiros desastres com panelas. Haeyon poderia por fogo mesmo numa tigela de água.

- Tudo bem, Irene. Eu vou, sim. Só preciso trocar de roupa... meu vestido está parecendo um pano de chão. - me critiquei, olhando para a quantidade de manchas pretas no tecido que um dia fora claro, mas que agora beirava à um tom de madeira. Demoraria anos para limpar aquilo.

- Hum... pior, né, Seulgi? - riu a outra, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha. Contive o impulso de lhe mostrar a língua no último instante, a parte sã da minha consciência me alertando de que isso só lhe daria mais corda para me provocar. - Obrigada, amiga...

- Me agradeça descendo e evitando que o meu almoço carbonize. - brinquei, sorrindo, levando-a a sorrir, também. Com um aceno rápido, como que indicando que precisava correr, a vi desaparecer pelo corredor. Não esperei muito para tornar a fechar a porta, mas sem passar a chave, caminhando de volta até a minha cama, me ajoelhado diante do baú aos pés da mesma, vasculhando em busca de algo para vestir; tornei a fechá-lo, após encontrar aquilo que procurava, um conjunto composto por uma blusa de mangas no tamanho médio, branca, e uma saia em um tom bonito de vinho, feita para mim por Irene no meu último aniversário, como presente. Despi-me, sem me importar com eventuais interrupções, reunindo o vestido sujo aos seus parentes com destino à água e sabão, colocando em seu lugar as peças escolhidas, ajeitando a saia ao posicionamento correto e fechando os botões da blusa com firmeza; o conjunto em si dispensava o uso de espartilhos, o que era um grande ponto positivo no quesito tempo. Na saída, passei rapidamente pela penteadeira, dispondo as mechas do meu cabelo de uma forma que não sugerisse que nas últimas horas eu me enfiara num universo empoeirado, prendendo-as num rabo de cavalo frouxo.

Just one more - Seulmin FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora