Track 6. I'm falling again;

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''𝘞𝘩𝘢𝘵 𝘢𝘮 𝘐 𝘯𝘰𝘸? 𝘞𝘩𝘢𝘵 𝘢𝘮 𝘐 𝘯𝘰𝘸? 𝘞𝘩𝘢𝘵 𝘪𝘧 𝘐'𝘮 𝘴𝘰𝘮𝘦𝘰𝘯𝘦 𝘐 𝘥𝘰𝘯'𝘵 𝘸𝘢𝘯𝘵 𝘢𝘳𝘰𝘶𝘯𝘥?''

ALERTA GATILHOS

Andei tendo fins de semanas horríveis, descontando toda a agonia perante a semana ruim, me jogando em buracos que antes não me atrevia a entrar.

Conscientemente não sei o que estava fazendo comigo... Estava chegando tarde, com a mesma ressaca de bebidas misturadas entre Rum River Antoine Royale Grenadian com Vodka Balkan 176, me atrevendo a tomar meus antidepressivos depois entre tragadas em meu cigarro, sem me importar com os efeitos de surtos psicóticos. Já conseguia ouvir a voz da minha terapeuta: ''Beatrix, você sabe que o local do cérebro que os remédios vão é o mesmo que o da bebida e que isso pode te prejudicar?'' E eu ria, debochadamente, na mera lembrança do quão fodida estava. Talvez eu não quisesse saber, talvez não quisesse mais nada.

Já era tarde, então apenas me jogava novamente na cama desforrada, onde o branco se destacava de forma suja, eu estava suja. Desabotoei minha camisa por um momento e deixei entreaberta... Escutava aquela mesma canção tocar, desafiando o meu humor que já estava inconstante, para variar. Foi então que pensei nela, novamente. Peguei o meu celular para stalkear seu twitter, já havia dois dias que não postava sobre nada. Eu estava acostumada a não ter tantas notícias... Comecei a me lembrar daquela noite onde explodi.

Já havia brigado com algumas pessoas da minha família, com outras pessoas no trabalho e estava saindo da terapia quando ouvi algo horrível sobre mim. Eu deveria apenas aceitar que sou uma miserável egoísta, do tipo que as pessoas temem; Que não sou o padrão certo sobre ser boa; A malandra que vem como furacão, numa cabeça dura; Sim, eu sei disso. Nunca duvidei do quão destruidora e tóxico era. Mas ela me prendia, e enquanto estive me afundando ela tinha que me resgatar? Não, estava errado.

E então precisava acabar com isso, encontrei com a garota após minha consulta. E ela parecia querer tirar um tipo de satisfação sobre algo que não me fazia bem, não queria pensar em nada naquele momento. Talvez fosse o momento ideal para não ser mais paciente, eu precisava abraçar minha face, libertar minhas profundezas sombrias. Ela não parecia entender, enquanto franzia a testa num tom de voz solene, pronto a emudecer. Por alguns segundos, pareceu querer rebater, nunca havia visto ela tão séria diante de mim... Acho que estava funcionando. Veio em defesa de algo que não me importava, parecia que nada mais importava, nem ninguém. Agora sim a loira gesticulava irritada, o que as vezes era engraçado, sendo tão alta e graciosa, mas naquele momento foi algo que me partia o coração. Seu olhar triste, enraivecido, transbordava decepção a meu respeito proclamando que eu a tinha (no passado), algo que finalmente conseguiu enxergar depois de tantos anos. Ela finalmente me conheceu, pôde ver que sou uma pessoa perturbada e canalha, sem coração. Mas... Não era bem assim, meu coração só estava quebrado em mil partes possíveis, já havia me perdido de mim e agora ninguém me salvaria nem mesmo Stella. Eu a conhecia bem, lancei palavras cruéis sobre suas dores em um momento vulnerável nosso, provavelmente a única pessoa que acreditava em mim fora para longe. Eu não sou o tipo de pessoa confiável. Estava virando minhas costas, indo embora depois de ter levantado a voz e sido agressiva, minhas lágrimas estavam aparecendo mas não virei para trás... Ela puxou meu braço e se pôs diante de mim, pedindo que voltasse por alguns instantes, explicou seus sentimentos e ainda não era suficiente para eu me sentir melhor e isso doeu. Já tinha feito o estrago, mas ela colocou suas dóceis mãos ao redor do meu rosto, me segurando com firmeza, chorando um pouco entre sua raiva. — ''Lembre-se de quem você é.'' — Dizia, com a bravura de uma grifinória em seu peito, tentando ativar meu melhor ângulo. E retruquei, me colocando para baixo como de habitual, embora ela não tenha desistido.

Sentamos por algum tempo diante da lua, onde conversamos sobre nossa situação, sobre nossas mágoas, nossas brigas, tudo estava quente agora... Me senti sufocada. Eu não imaginava que depois daquela haveriam mais, que teríamos um certo tipo de problema de comunicação, não depois de termos nos acalmado. Mas sim, abri a deixa para algo incomum em nossa ligação acontecer, propositalmente enfurecida; Me rasgou a alma.

Finalmente me despedi, com os mesmos eu te amo's de sempre e alguns sorrisos descarados, observei aquela franjinha cobrir seu olho azul diante do vento e mirei no seu rosto delicado antes de dar meus passos em frente. O clima permaneceu esquisito.

— 

E agora vinha o sentimento de que ela nunca iria precisar de mim novamente, que não sou o tipo de pessoa que ela irá confiar ou querer perto. Eu não sei se sou o tipo de pessoa que quero por perto agora, nem sei se fui em algum momento, mas havia tudo menos orgulho sobre mim.

Eu só estava desabando de novo, tentando não me envolver com meus sentimentos, eu tinha sentimentos?
Estava caindo naquele vão, refletindo sobre cada erro que cometi na vida, insegura, permaneço desgostosa e sozinha. Mas não posso me permitir chorar se provoquei todo esse tumulto, se eu mesmo criei esses muros.

Sai do twitter, discando o número dela... Desisti. Já haviam problemas demais em sua vida, mesmo sabendo que estava tão próxima, que queria abraçá-la como nunca, não poderia força-la a se encontrar comigo. As vezes precisamos abrir mão das pessoas para o bem delas, foi o que fiz. 

Me levantei em direção ao banheiro, molhei meu rosto na pia, deixando meu cabelo ruivo molhado sobre as pontas, decidi respingar água de vez com minhas próprias mãos, tentando despertar um pouco. Voltando para cama agarrada a uma xícara fria de café, entre goles, pegava meu caderno e começava a escrever... Meu caderno era tudo que havia restado naquele quarto fedido e vazio. E nem sei se me sentia sóbria, mas cuspia palavras sobre aquela garota novamente, como um refúgio, como se Stella fosse ler um dia. 

E coçando meu olho já ardido, a insônia me roubava a paz, eu estava em queda livre sem paraquedas, pensando em algo como a morte. Nenhuma mensagem no telefonema, alguns insultos no whatsapp, numa exceção dos mesmos garotos apaixonados que ainda me chamavam para transar. Percebia no quão desmotivada me sentia para as coisas, o meu trabalho me chamava para voltar e eu nem poderia parar para me recompor. Alguém batia na porta, mas não estava disposta a atender, talvez minhas irmãs viriam me buscar depois do meu sumiço, mas não eram elas, nós também havíamos brigado... Foi uma briga feia num momento que eu precisava delas, num momento que precisava de alguém.

Deixava aquela carta amassada perante a mesa, um pouco suja de café, ao lado do meu celular... Me levantei em direção a varanda, observando o barulho e trânsito, observei o céu que estava em negrito, um tom amargo tanto quanto meu café gelado, mas havia uma estrela brilhando tanto quanto a lua que estava ao seu redor, dei uma gargalhada rouca, enquanto olhava para os carros lá embaixo ecoando buzinas de forma estrondosa. Comecei a sentir uma puta agonia na garganta, num refluxo indo e vindo, entre as pílulas, as bebidas e o café, então respirei fundo, colocando meus pés diante da sacada, me apoiando num momento de equilíbrio, abri meus braços e sorri de forma sarcástica, como uma anti-heroína falida, me joguei na esperança de libertação ou na punição subconsciente por toda crueldade que já fiz em todos os dias da minha vida, experimentava do fracasso em bom tom.

Agora já não sentia mais nada além do vento, meu coração vinha numa taquicardia imensa, provavelmente minha alma já não estava mais ali... Não estava ali a muito tempo, mas era meu corpo que estava caindo e tudo estava totalmente borrado agora, tudo apagado, abraçado ao meu silêncio perpétuo.


Se estiverem passando por dificuldades e pensamentos assim, procurem o psicólogo e o psiquiatra e sempre conversem com alguém sobre como se sentem. Cuidar da saúde mental é necessário, lembrem disso.

Falling - StellatrixWhere stories live. Discover now