Capítulo 1 - Desligue a TV!

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(Dezoito anos antes, em Albuquerque...)



"Eram sete da noite e na 'Fazenda Boi de Perto' todos procuravam por Dora que havia desaparecido. Havia muito a ser feito por ali, e eles precisavam da ajuda da caçula."



Maria: Ondi será qui sa pirraia si infiô, mia nossa sinhora?


Antônio: Tamo chei di serviço. Si Dora pensa qui vai ficá hoji di papo pru ar, ah, mai ela tá muitu inganada! Constança, vá atrais di sua irmã! Prucure direitu den di casa. Im algum lugá ela tem di tá.


Constança: Sim sinhô, meu pai.



"Constança desce correndo do curral em direção a casa. Chegando lá, ao entrar na sala vê Dora sentada no chão assistindo novela, extremamente concentrada na tela da TV. Na TV uma cena de grande tensão. Dora até roía as unhas."



TV: (uma mulher falava aos berros) ... Era tudo mentira! Eu te fiz de otário!!! Sabe qual é a verdade? Eu vou te contar toda a verdade agora...



"Constança desliga a tomada da TV."



Dora: (nervosa) O que pensa que está fazendo?! Liga a TV de volta! É o último capítulo da novela!


Constança: Isqueceu qui o pai pruibiu que ligue a TV, qui gasta muita nergia? Us único qui podi ligá sum ele e a mãe, pra sisti o jornar!



"Contrariada Dora levanta para ligar a TV novamente, mas quando ela foi pegar o plug no chão Constança pisou em cima dele."



Dora: Mas o que é que há?! Me deixa assistir, é o último capítulo!


Constança: Arre! Largue mão di bobage. Tem serviço te esperando. Pai mandô chamá.



"Dora revira os olhos."



Dora: Inferno de fazenda!


Constança: Óia essa boca!!


Dora: Vocês não cansam dessa vida não? Tudo é só trabalho, trabalho e trabalho.


Constança: Se avie! Ande. Cê tem o que fazê! Cê num é fia di rico, não. Tem trabaio la fora.


Dora: Um dia eu me mando daqui, escreva o que eu tô te dizendo!



"Dora começa a dar risada."



Dora: Ou melhor, deixe pra lá. Eu tinha me esquecido que você não sabe escrever Constança!


Constança: Ocê num me provoque!


Dora: Pelo menos de uma coisa eu posso me orgulhar, não é mesmo? Eu não desisti da escola no primeiro ano do fundamental.



"Constança enfrenta Dora."



Constança: I daí qui ocê sabe os beabá? Issu num faiz a minó diferença. Sua instrução num servi pra nada aqui. Purque cê nasceu aqui e vai morrê aqui, igual a eu.



"Constança empurra Dora no chão."



Constança: E iscuta aqui, nóis somo tudo vaso do memo barro. I ocê tem qui mi respeitá...



"Constança se inclina sobre Dora de uma maneira intimidadora."



Constança: ...eu sô a mais véia!



"Furiosa Dora cospe na cara de Constança e sai correndo para fora onde encontra sua mãe antes de Constança lhe alcançar."



Maria: Aí tão ocês. Té qui infim. Teu pai i eu precisamo da tua ajuda, Dora. Vem!

diva - a vida e a arteOnde histórias criam vida. Descubra agora