Capítulo Vinte e Três

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CAMILA SANTIAGO RUTHERFORD

"Tem certeza que não quer uma bolsa de gelo?" A garçonete pergunta quando volta com meu suco.

Hesito em rir, porque sei que Frederic está desconfortável em admitir que o soco que levou vai realmente deixar um hematoma. Ele assegurou durante todo o caminho que já teve pancadas piores no rinque durante o colegial, e como um jogador oficial da NHL, isso não passa de uma coisa que ele já lida todos os dias em treinos.

Mesmo com os treinos, quando ele chegou, a pele estava em um perfeito e uniforme bronzeado. Agora o olho está quase roxo e um pouco inchado, preocupando até mesmo a garçonete.

"Não acho que seja necessário", mais uma vez, ele nega e sorri com educação "De qualquer forma, obrigado."

A garçonete não consegue evitar e cora como uma adolescente. Apertando a bandeja contra o abdômen, ela arruma imediatamente uma mecha de cabelo atrás da orelha e apressa o passo para voltar à cozinha.

Pego um sachê de açúcar e coloco no suco "Acho que você vai ganhar um número no guardanapo."

"Você sempre esteve certa quanto a Rocky Hill" ele brinda o café com meu suco "as pessoas são mais hospitaleiras por aqui."

"Está aqui tem muito tempo?", pergunto casualmente.

"Cheguei ontem à noite, mas não te encontrei no alojamento que sua mãe indicou. Então, esperei até amanhecer para procurar pela cidade."

Não fico surpresa em saber que mais uma vez, minha mãe contribuiu para esse encontro repentino. Na verdade, Frederic contou que ela devia ter avisado antes e ele não iria aparecer de surpresa como um maníaco.

Mais uma vez, minha mãe quis deixar o destino brincar por meio de situações que ela mesma criou.

"Pelo menos você veio, dessa vez."

"Não fica brava comigo", pede, segurando minha mão "Sei que deveria ter avisado que nã conseguiria ir ao Arizona, mas eu estava com tanta vergonha de falar com meus pais que..."

"Que preferiu ignorar a situação por um ano e meio?", recolho minha mão e bebo meu suco.

Meu corpo responde a sua presença, mas não da maneira que eu esperava. Frederic ainda é o mesmo –o cabelo está um pouco maior e a pele mais bronzeada que o comum, mas ainda tem os olhos castanhos profundos, um hematoma e a mania irritante de sempre cheirar a loção pós-barba; afinal, ela está sempre perfeitamente aparada. Mas vê-lo outra vez, não faz meu coração nem palpitar.

Na verdade, é quase nostálgico. Como se sua presença me fizesse ter vontade de comer alcaçuz e jogar videogames a tarde toda.

E claro, um pouco de irritação.

"Eu mereço isso", ele concorda e balança a cabeça. "Mas você foi minha melhor amiga durante tanto tempo, que senti que deveria resolver isso tudo em algum momento."

Faço cara feia. "E minha mãe não tem nada a ver com isso?"

"Na verdade, sua mãe e a minha mãe, tem a ver com a primeira tentativa" admite. "Não tenho nada a dizer quanto aquilo. Sei que fui um tremendo babaca e sei o que elas achavam de tudo aquilo, chamavam de crise, e eu sabia que simplesmente não queria mais e não te disse isso. Sinto muito."

Inspiro fundo.

Não sei porque tudo parece tão simples agora. Talvez sempre fosse e na época vê-lo me lembrava não só ao casamento, mas a tudo que passamos juntos da infância ao colegial, até New Jersey.

Objetivo MútuoOnde histórias criam vida. Descubra agora