Nada Supera

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Observo com adoração minha esposa brincar de cavalinho com nosso filho em seus ombros. Acabamos de pegá-lo na escola, ele parecia cabisbaixo quando chegamos. Senti-me mal por ter permitido que nos atrasássemos. Então para vê-lo alegre outra vez, ela o pegou no colo e o jogou em seus ombros. Funcionou, porque é possível ouvir a risada dele ecoar pela rua.  

Quem vê Ludmilla e Rafael interagindo na rua deve pensar que ela é a irmã mais velha dele, não somente porque eles se parecem, mas também pelo modo que os dois se comportam. Mas isso é adorável, ela é uma ótima mãe.

A melhor na verdade.

— Ludmilla, cuidado. Não fica girando muito, vocês vão acabar se machucando. 

— Sua mommy está brigando com a gente, carinha.  

— Não briga não, mommy.  

Os dois me olham com carinhas tristes, pequenos bicos em seus lábios. Reviro os olhos para essa chantagem emocional. Coloco as mãos dentro dos bolsos de meu casaco e passo por eles, ainda ouço-os choramingando. Mereço mesmo conviver com dois chantagistas. Eles jogam sujo, muito sujo.

— Brunna.. - Ignoro o chamado dela e continuo a ir em direção ao carro. Os sons de seus passos apressados ressoam pela rua quase deserta, essa região costuma a ficar assim uma hora dessas. — Brunna.

Olho por cima do ombro apenas para ver uma Lud emburrada com Rafael ainda sentado sobre seus ombros. Nego com a cabeça... Sei bem o que ela está tentando fazer. Quer me persuadir a aceitar sua chantagem emocional e entrar na brincadeira dos dois.

"Que droga!" escuto Ludmilla resmungar a poucos metros de distância, prendo a risada. 

Ganhei mais uma, Ludmilla Oliveira.

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Abocanho mais uma das batatas-fritas que Lud me oferece na boca. Estamos em casa, os três jogados no chão da sala comendo besteiras. Decidimos fazer uma quarta-feira sem restrições, passamos em uma lanchonete e compramos sanduíches, fritas e milk shakes. Nem preciso dizer que Ludmilla e Rafael amaram isso? 

Por falar nos dois, minha esposa realmente acreditou que eu estava chateada com eles já que os ignorei durante todo o trajeto até nossa casa. Foi divertido vê-la tentando chamar minha atenção. E agora ela está me bajulando para ter toda minha atenção. Confesso, gosto disso 

— Tem ketchup... - Viro a cabe direção. Ela sorri e coloca a ponta de seu polegar na boca, retira o dedo de lá e o trás até o canto esquerdo de minha boca. Depois ela leva o mesmo dedo de  volta para a boca e recolhe o ketchup da ponta. — Bom.  

Nego com a cabeça e solto uma risada nasal. Minha esposa dá de ombros, come algumas batatas e depois presta atenção em nosso filho. Ele está esperando ela para comer seu sanduíche. Os dois sempre fazem isso, acabam com as fritas primeiro para depois comerem o sanduíche por último. Eu já sou mais prática, como tudo ao mesmo tempo mesmo. 

Depois de lancharmos, ou melhor, jantarmos. Lud recolhe o lixo e o leva para cozinha, brinco um pouco de fazer cócegas em Rafael e depois o pego no colo. Sento-me no sofá com meu filho, segundos depois ela volta e se junta a nós. Ficamos assim até tarde da noite. Eu sentada entre as pernas de Lud e Rafael sentado entre as minhas. Não existem palavras capazes de definir a felicidade que momentos simples como esse me causam. 

Eu achei que tinha um tremendo azar por tudo isso que aconteceu comigo, mas na verdade descobri que sou a pessoa mais sortuda do mundo por ter esses dois na minha vida. 

Mesmo que minha memória nunca volte por completo, eu me sinto feliz com a vida que tenho. Já me conheço mais do que antes, estou cada vez mais satisfeita com o rumo que minha vida tomou. Lud é a pessoa que amo mais do que tudo nessa vida, claro, depois de Rafael. O amor que sinto por ele é imenso, tão grande que nem cabe dentro de mim. E o amor que sinto por ela... Bom.  

Stupid Wife - Versão BrumillaOnde histórias criam vida. Descubra agora