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Seulgi♡

Ódio.

Uma palavra tão curta, tão corriqueira, e tão cheia de significados. Eu já vira o ódio se manifestar de várias maneiras diferentes. Numa simples raiva, por algum vaso ou pote de cristal que num descuido viera ao chão, ou num ressentimento por uma certa atitude vinda de alguma pessoa; tantas formas, tantas maneiras de se expressar, mas nenhuma sequer vagamente semelhante àquela que eu via nos olhos dele, naquele instante. Aquela, eu tinha certeza, era a manifestação mais crua, mais pura, mais bruta que eu já presenciara em toda a minha vida. A forma como aquele olhar, tão sombrio, se projetava sobre nós - eu e Yoongi - , aquilo certamente levaria bastante tempo, antes de se esvair dos meus pensamentos. Simplesmente aterrador.

E isso, antes que ele se pronunciasse. Os segundos que passou ali, imóvel a não ser pelas orbes escuras nos medindo de alto à baixo, minuciosamente, me pareceram verdadeiros e longos séculos, mas a fluidez lenta de sua fala, como se ele escolhesse pacientemente as palavras, visando um maior impacto sobre seu pequeno público, certamente me causaram um desconforto maior.

- Pelo que vejo, os meros dois minutos que me atrasei a chegar até aqui me foram uma grande perda. - ele sorriu, um sorriso desprovido de qualquer emoção, a não ser a mesma dureza que estampava seu olhar, e que agora aos poucos se espalhava pelo restante de seu rosto. Ele se moveu em nossa direção, os passos suaves demais para uma pessoa furiosa, que eu sabia ser exatamente o que ele era, naquele instante, embora a razão para tal ainda me fosse um meio mistério. Uma hipótese absurda, infundada, começava a se formar na minha mente, mas eu a suprimi antes que pudesse se desenvolver por completo. - Espero que nada de muito divertido tenha se passado na minha ausência. Detestaria perder algo do gênero... - pontuou, agarrando o encosto de uma das cadeiras e a arrastando pelo chão de madeira. O barulho agonizante que as duas entidades primas produziram, ao entrarem em atrito uma com a outra, feriu meus ouvidos, o arranhar agudo logo morrendo em meio aos outros sons que dominavam o ambiente. Um pouco tarde demais eu percebi para onde ele arrastava aquele móvel. Para o meu lado direito, exatamente entre mim e Yoongi. Naquele espaço, que não era exatamente pequeno devido às dimensões da mesa, sempre arrumada para três pessoas, ele se acomodou, sem parecer notar ou se importar com o olhar rígido que o outro dirigiu a si.

- Não se preocupe, Jimin... as coisas divertidas só começam no momento em que você chega... É sempre assim... - suspirou Yoongi, tomando a iniciativa de romper o nosso silêncio perante a chegada do terceiro, seu tom de voz tedioso, quase arrastado. Ali tive a confirmação do que Minah havia berrado aos meus ouvidos na noite anterior. De fato, o nome dele era Jimin. Porque aquilo parecia exercer um peso maior naquela situação? Uma risada, sarcástica e ácida, cortou o ar, chamando de imediato minha atenção para o homem ao meu lado.

- Não sabe o quanto me alegra saber disso. - sorriu, sua postura relaxando mais na cadeira, mas de um modo tão teatral, que me perguntei se ele não estaria se obrigando a aquilo. Sua irritação ainda me parecia palpável.

- Como se você não soubesse disso... - rebateu Yoongi, revirando os olhos, um sorriso de escárnio ameaçando irromper por seus lábios.

Touche! - Jimin riu, uma risada um tanto mais... leve, dessa vez, o que sequer fez cócegas sobre a superfície daquilo que ainda se sustentava naquela mesa. O desconforto se movia pelas minhas células numa velocidade inquietante, uma espécie de alarme soando no meu subconsciente, querendo me despertar para algo... algo que eu não fazia ideia do que era. Ele se moveu, seu olhar ainda cortante, ainda frio e duro como uma lâmina de uma adaga se direcionou a mim, a sombra de um sorriso bailando pelos seus lábios. - Está tão quieta, Rose. - comentou, e lá estava mais uma vez, meu nome sendo pronunciado na voz dele, com uma calidez que percorreu a minha coluna como se de uma carícia se tratasse. - Por acaso o gato comeu a sua língua? - acrescentou, em tom de provocação, a travessura ameaçando pontuar suas palavras. E como se de um encantamento se tratasse, eu não consegui responder-lhe. Minha língua pareceu se colar ao céu da boca, o conhecimento de como articular simples sílabas se esvaindo da minha mente. Os segundos se passaram, e seus olhos, ainda queimando na mesma irritação de antes, continuaram sobre mim. Crescia no meu íntimo a sensação de que, se ele continuasse a me olhar daquela forma, esqueceria meu próprio nome.

Just one more - Seulmin FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora