Capítulo Único

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A xícara de café esfriava na mesa, alguma música com melodia triste preenchia o pequeno apartamento, se misturando com a atmosfera fria e melancólica. Jaehyun encarava o celular com uma esperança ingênua de quem sabia que não encontraria nada do que esperava, mas se recusava a acreditar nisso. O café estava amargo e desceu desconfortavelmente pela garganta, mas, pelo menos, ele sentiu seu sabor. Como queria sentir os sabores do mundo, mas, por algum motivo desconhecido, algo o privava disso, negando o sabor daquele beijo que o garoto nunca mais daria.

  A vida parecia estar em letargia, porém, nunca parava. A cafeína impulsionou os batimentos cardíacos e fazia Jaehyun despertar da inércia e contra todas as leis físicas e sentimentais ele saiu em direção à rotina. O som da cidade o preenchia, as buzinas, propagandas, a fumaça. O transporte público carregava diversas histórias e um coração partido. O dele.

Jaehyun não resistiu a uma visita à cafeteria da faculdade, local onde conhecera Doyoung. Ah Kim Doyoung! Como Jaehyun sentia falta daquele sorriso, do beijo, das carícias e das tardes preguiçosas em que se aconchegavam um no outro e faziam juras de amor eterno. Uma xícara de café, duas, ele precisava de cafeína para que seu coração batesse tanto quanto precisava de oxigênio, porém, todo o ar saía de seus pulmões fazendo com que seu peito ardesse toda vez que Doyoung vinha em sua cabeça. O garoto deixara Jaehyun viciado nele, o vício em café foi apenas um efeito colateral de tantos beijos carregados daquele amargor adocicado.

O coração partido fazia Jaehyun refletir. Como o amor era endeusado, fantasiado, retratado como uma glória da humanidade se era tão contraditório a si mesmo? Camões já dizia sobre como "Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente", sobre como é solitário andar por entre a gente. Doyoung dera a Jaehyun desde a mais pura alegria até a mais miserável tristeza. O amor dos dois foi realmente fogo, um incêndio avassalador que destruiu tudo antes mesmo de que Jaehyun se dessa conta. Mas, a ferida aberta em seu coração doía tanto que latejava, pulsava, e não havia nada que o garoto pudesse fazer para diminuir essa dor.

Foi Jaehyun que havia tomado o primeiro passo, ele decidiu conversar com o garoto bonito que estava sempre com um livro na mão. Doyoung amava ler. Talvez se Jaehyun fosse um livro ele o amasse mais, ou talvez ele acabasse empoeirado na estante da vida de Doyoung como estava agora. Jaehyun não lembrava se havia se apaixonado no primeiro sorriso ou no primeiro beijo, talvez ele já estivesse apaixonado antes mesmo de conhecer o mais velho, como se o vazio que ele sentia só pudesse ser preenchido por Doyoung, e foi de fato o que aconteceu. Tudo nos dois encaixava: as mãos, os corpos, os lábios, os sonhos. Jaehyun se sentia incrivelmente inteiro na presença do outro, ele quase podia ver a linha vermelha que os conectava. Ele sabia que Doyoung era sua alma gêmea, o universo queria os dois garotos juntos, era o destino. Mas Doyoung não era o destino. Jaehyun não fazia ideia que tudo aquilo podia ser tão frágil. O castelo de sonhos, feito de areia, derrubado pelas ondas da realidade, não deixando nada para trás.


  A noite caiu sorrateiramente, trazendo com ela as luzes coloridas da cidade e o som descontraído da vida noturna que brotava de bar em bar. A ideia de uma bebida era um tanto quanto sedutora, porém o cansaço no corpo e alma guiaram Jaehyun para o conforto do lar. Ela desejava que cada gota de água do banho lavasse um pouco da vontade de ter Doyoung por perto.

  A pior hora do dia era aquela, quando Jaehyun deitava na cama e todos os seus anseios e sonhos se tornavam vulneráveis. A dor invadiu seu peito, fazendo-o rolar nos lençóis, inquieto, desejando arduamente que o mais velho estivesse ao seu lado. A ideia causou-lhe arrepios, fazendo lembrar todas as vezes que Doyoung estivera naquela cama e de tudo que fizeram. O ritmo dos corpos, os atritos, os gemidos, o prazer. Jaehyun achava que tudo que fazia com Doyoung era especialmente maravilhoso, o sexo não era uma exceção, mesmo quando feito no banheiro da faculdade, às vezes a vontade que um tinha do outro era tão grande que não havia como esperar por uma cama. Um olhar do mais velho já era o suficiente para fazer Jaehyun ceder a todas as suas vontades, em qualquer horário e qualquer lugar.

A insônia persistiu, carregando junto à ilusão dos dois juntos, acelerando mais os batimentos cardíacos do que qualquer dose de cafeína. Todas as vezes que Doyoung acariciara o cabelo do mais novo até o mesmo adormecer. Sempre que o mais velho parecia triste Jaehyun movia o mundo para colocar um sorriso novamente em seu rosto. Uma vez aparecera na casa de Doyoung às 3 da manhã levando flores e sorvete, na verdade, havia feito isso mais de uma vez e não se arrependera, a felicidade do garoto era sua felicidade, seu sorriso iluminava seu mundo e sentia que o tempo parava em seu abraço. Aquelas conversas de madrugada eram um universo exclusivo dos dois garotos. Agora, Jaehyun não tinha mais nada, seu pequeno universo acabara e ele estava sozinho.

Pela casa, estavam espalhados porta retratos, cheios de lembranças, lembranças que o mais novo não havia conseguido jogar fora e jamais conseguiria apagar. Jaehyun não havia mexido nas fotos, nas cartas e nem mesmo nas mensagens.

A casa não tinha mais a presença do outro e nem seu perfume. No guarda roupa ainda havia algumas peças de Roupa de Doyoung que Jaehyun às vezes vestia apenas para se sentir cercado do seu cheiro. Algumas semanas atrás os dois garotos até chegaram a discutir a hipótese de morarem juntos.

Jaehyun se sentia vazio, como se já não soubesse nem o próprio nome. Rolou mais uma vez pela bagunça do lençol, as palavras pulsavam em seu peito, pedindo para serem gritadas à escuridão.

Doyoung era seu maior vício. O mais novo sentou na cama e olhou através da janela, para a noite, pensando no que o rapaz estaria fazendo. Será que Doyoung ainda o amava? Será que ele voltaria atrás em sua decisão? Jaehyun faria de tudo para ter o mais velho novamente, ele precisava do outro, mas Doyoung não precisava mais dele.

O garoto apenas desejava que tudo voltasse a ser como era antes, agora ele sentia a realidade pesada e a vida sem graça. As lagrimas desciam livremente por seu rosto, acompanhadas do som de soluços, e assim Jaehyun adormecera novamente entre lagrimas e soluços, desejando sonhar com um mundo que ainda tinha Doyoung ao seu lado.

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