Clichê sobre Clichê

Capítulo 1

Victória

Sentia a brisa acariciando o meu rosto e meus cabelos se esvoaçarem pelo ar, meus olhos ardiam por conta das lágrimas que insistiam em cair. Nunca imaginei que estaria um dia aqui olhando meus pais serem enterrados.

Tantas lembranças.

- Você vai cair - Dizia papai quando soltei as duas mãos da bicileta, para mostrar que eu sabia andar. Sorri pra ele - Cuidado - Disse, mas ja era tarde. A bicileta bateu contra uma árvore me fazendo cair de cara no chão. Olhei para cima e meu pai estava segurando a risada e eu olhei de cara feia pra ele que rapidamente mudou a expressão para sério.

Não consigo não da risada com essa lembrança, e lógico que mamãe ficou uns dois dias sem falar com meu pai por ter me deixado andar sozinha. Ah, que saudades que vocês dois me fazem...

Irei sentir tantas saudades daquele café fresquinho, do pão quentinho recém saído do forno que mamãe fazia, e até mesmo do perfume preferido do papai, apesar que eu e a mamãe odiavamos por ser muito forte.

Sorri com esse pensamento.

Senti um frio e imadiatamente abracei meu corpo, como se fosse me proteger. Tentei ser forte, mas era impossível, e como poderia? Perdi as pessoas que mais amava. Minha alegria estava indo com eles naquele dia.

- Querida? - Disse uma voz doce me fazendo olhar para cima, e sorrir para minha tia - Vem, temos que ir - Disse de uma forma acolheadora.

Tia Janne veio assim que soube do acidente, e desde então tem me ajudado com o...velório. Ela tenta não demonstrar o quanto ta sofrendo, mas sei que esse sorriso no rosto é só fachada.

Estávamos tão felizes, papai havia recebido uma proposta de emprego em Seatle, e iríamos ja na outra semana. Mamãe estava radiante, ja que ficaria ao lado da irmã que faziam um tempo que não se viam e estavam morrendo de saudades uma da outra.

Olhei para os lados procurando Gustavo e não o encontro, e Lívia que estava do meu lado a poucos minutos tambem havia desaparecido.

Estranho.

Vou andando a procura deles para que possa me despedir. Lívia é minha melhor amiga desde que me entendo por gente, e ficou do meu lado quando tudo aconteceu. Não sei o que faria sem ela. Quando comecei a namorar com o Gustavo, há cerca de 8 meses atras, ela foi totalmente contra, e não cansava de me dizer que ele não era pra mim, que não prestava...E sempre que os dois estavam no mesmo ambiente, ficavam se fuzilando com o olhar. Nunca entendi essa implicância dos dois.

Onde esses dois se meteram? Estou andando ha alguns minutos, e nem sinal deles. Preciso me apressar se não quiser perder o vôo.

Droga... Praguejei quando senti os primeiros pingos de chuva, me fazendo sair correndo até a igreja que havia ali perto. Assim que entrei vi duas pessoas la dentro se beijando, e me senti envergonhada por presenciar aquilo. Estava tão desnorteada, que nem conseguia olhar para os dois naquele momento, e eles pareciam não ter me notado ainda, ja que continuavam a cena.

Que vergonha...

Já estava me preparando para sair quando algo me chamou a atenção. Um bracelete... Do mesmo que havia dado para o Gustavo de aniversário. Isso me fez sorrir, e por instinto acabei levantando meus olhos ate seu rosto, ja me arrependendo assim que olhei quem era, pior ainda foi ver minha melhor amiga em seus braços.

Não pode ser.

Como tiveram coragem?

Meus olhos se encheram de lágrimas, e assim que os dois me viram se olharam assustados e tentavam falar alguma coisa, mas sai correndo não dando chances de se explicarem.

Sai correndo sem rumo e mesmo que os dois gritassem meu nome, não parei. A chuva forte molhava todo meu vestido, mas já não me importava com isso. Só queria ir embora. Como tiveram coragem de fazer isso? Numa igreja, e ainda nem respeitaram a morte de meus pais.

Nojo... É o que sinto ao me lembrar daquela cena, e mais uma vez sinto as lágrimas cairem.

Eu os odeio.