Dias de um Passado Esquecido

Quando novas relações se formam.

Depois da lua cheia, Remo sempre ficava um pouco desestabilizado. Sentia-se um tanto fraco e emotivo. As vezes ele ficava bem, as vezes não. Variava muito de uma lua cheia para a outra e aquilo deixava ele maluco, nunca saber como iria terminar na lua cheia seguinte.

De todos os Marotos, Sirius era o que passava mais tempo com Remo. Havia algo de especial na relação dos dois, cujo nenhum dos dois conseguia explicar. Embora não fosse como Sirius não tivesse tentado. Ele dizia que o fato de ele ter se tornado um cão em sua forma animago era graças a Remo, se ele não fosse um lobisomem, segundo Sirius, jamais teria se transformado em cão, o "parente mais próximo" dos lobos.

Remo sempre ria daquela teoria ridícula. Ele dizia que o animago era uma representação da personalidade do bruxo, e Sirius era extremamente impulsivo e rebelde, mas também um bom amigo, por isso sua forma era um enorme cão negro.

— Isso é totalmente ridículo! — Sirius falou enquanto tentava provar, novamente, a veracidade de sua teoria tentando desacreditar a versão de Remo.

Os dois estavam indo para para o Salão Principal, para o almoço, Tiago havia dito ter algo para fazer, Sirius tinha certeza de que iria encontrar a garota misteriosa, e Pedro disse ter que ir a biblioteca. Pedro nunca ficava muito quando Tiago não estava. Sirius tinha uma teoria de que Rabicho tinha algum tipo de paixonite por Tiago.

— Você é que é ridículo. — Remo falou. — Essa sua lógica poderia funcionar com um patrono, mas não com um animago.

— Funciona para os dois. E eu vou rir da sua cara quando conseguir provar! — Sirius falou enquanto se sentava num dos bancos da mesa da Grifinória.

— Divirta-se tentando. — Remo falou sorrindo e começando a pegar as travessas e servindo-se.

Tiago havia ido se encontrar com Severo, é claro. Ele tinha conseguido despistar bastante Sirius, que era seu melhor amigo e seu maior pesadelo. O Black andava bastante distraído com Remo nos últimos dias, Tiago gostaria de perguntar o motivo, mas estava ocupado demais beijando a boca de Severo para se preocupar com aquilo no momento.

Severo amava todos os momentos que passava com o namorado, mesmo que fossem apenas alguns minutos, era bom ter ele por perto. Mesmo que as vezes ficasse a ponto de arrancar os cabelos depois enquanto tentava encontrar uma desculpa para dar a seus amigos da Sonserina.

Eles sempre desconfiavam de Snape, é claro. Para começo de conversa, eles não conheciam a família Snape, e ele tampouco era rico. Se algum dia descobrissem que o pai de Snape era trouxa, não fazia ideia do que poderia acontecer e tampouco estava curioso para descobrir.

Enquanto isso, Sirius arrastava Remo para o jardim, com a desculpa de que queria olhar as garotas passeando por ali.

— Claro, elas não vão nos dar muita atenção sem o Tiago aqui, mas é melhor do que ficar enfiado naquele castelo. — Sirius falou enquanto caminhava ao lado do amigo.

— Temos atividades para responder, e a prova de feitiços para estudar. — Remo falou, embora soubesse que nada faria Sirius mudar de ideia.

— Podemos fazer isso depois, e você com toda certeza já sabe todo o assunto da prova.

— Não diria isso...

— Até parece, Remo. Todos sabemos que você já estava estudando antes mesmo do professor avisar.

— Não custa nada estar preparado.

Os dois se sentaram na grama sob a sombra de uma árvore. Sirius lembrou-se do dia da confusão com Snape. Caramba aquilo parecia ter acontecido séculos atrás. As coisas não eram mais as mesmas. Tiago havia ficado estranhamente complacente algum tempo depois e não queria mais nem pensar em brincadeiras que envolvessem o Ranhoso.

— Estava aqui pensando... — Sirius falou, depois de piscar para uma garota da Corvinal. — Acho que o Tiago está namorando com a Evans.

— O que te faz chegar a essa conclusão?

— A única pessoa que se importava com o que fazíamos com o Ranhoso era ela. E agora, subitamente, o Tiago não quer mais fazer brincadeiras com ele.

— Ele pode ter tomado um pouco de juízo, talvez essa opção não tenha lhe ocorrido. — Remo falou, sempre com seu tom sereno e calmo.

— Não, estamos falando do Tiago. Se fosse você, um lufano incubado, aí poderíamos pensar nisso.

— "Lufano incubado"? — Remo riu. — Essa foi boa.

— Sei que não vai admitir, mas o Chapéu Seletor quis te colocar lá, não foi?

— Ele me pareceu bastante certo sobre a Grifinória.

— Ainda bem. — Sirius sorriu. — Não iria gostar tanto de você se fosse um lufano.

— Ei! Os lufanos também são legais! E você já saiu com várias garotas de lá!

— Isso é o que você acha! — Sirius gargalhou. — Talvez eu tenha saído com uma outra lufana. Mas nunca sairia com uma sonserina. Nem que me pagasse.

— E se eu te desafiasse? — Remo perguntou sorrindo maliciosamente.

— Não jogaria tão baixo.

— Ah, você não tem ideia das cartas que tenho na mão, Almofadinhas.

— Remo, não faria isso.

— Ah, eu posso. E agora você sabe disso.

— Seu filho da mãe desgraçado!

— Olha a língua! — Ouviram a voz da professora Minerva surgindo atrás deles. — Não toleramos esse tipo de comportamento na Grifinória.

— Desculpe-nos, professora McGonagall. — Remo falou, voltando a ficar sério.

Os dois ficaram em silêncio até que a professora desaparecesse dentro das paredes do castelo.

— Como ela consegue sempre aparecer nas horas mais inapropriadas? — Sirius perguntou.

— Ela é um animago.

— O que? Como você sabe?

— Eu presto atenção.

— Como é possível?

— Ela acabou de se tornar. Ainda está se adaptando. Mas é muito boa em sua forma animal. Bastante discreta.

— O que ela é?

— Não vou te contar. Espero que descubra, alguém como você já deveria ter descoberto. — Remo falou com um sorriso ladino.

— O que está querendo insinuar?

— Irá descobrir em breve.

A conversa dos dois foi interrompida por Pettigrew, que os chamava para ir para a próxima aula. No caminho encontraram com um Tiago completamente distraído e que parecia sem saber o que deveria fazer a seguir.

— Ela fez isso com você? — Sirius perguntou rindo. — Anda arrasando corações e sendo arrastado junto, uh?

— Para com isso. Não é nada do que a sua mente maldosa esteja pensando.

— Aham. Sei. Irei fingir que acredito em você.

E os quatro seguiram para a aula de Poções, mal notando a presença de Snape logo atrás dele e tão aéreo quanto Tiago. As coisas haviam ficado um tanto intensas dentro do armário de vassouras, por muita sorte não haviam sido vistos ou ouvidos.