Capítulo 16

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A campainha tocou por cima da minha cabeça quando eu entrei na Coffee Express, uma loja perto do limite da cidade que vendia café e lembranças de Portland.

Uma garçonete com um bloquinho amarelo e cabelo preso com caneta esferográfica preta se dirigiu até mim, quando me sentei em uma mesa ao fundo.

Ela tinha os cabelos ruivos e enormes olhos verdes manchados com lápis de olho preto.

-Deseja tomar ou beber algo? -sua voz lembrava a Sandy Bochechas de Bob Esponja.
Balancei a cabeça.
-Por enquanto não. Obrigada.

Após Sandy sair, o sininho tocou novamente e eu me encostei na cadeira, observando meu pai entrar com seu terno cinza giz da Marc Jacobs e seus óculos de tartaruga.

Ele me avistou e levantou a mão, vindo até minha mesa.

-Já pediu algo?
Balancei a cabeça negativamente.
-Não estou aqui para lanchar.
Considerei falar mais alguma coisa, porém, meu pai falou primeiro.
-Eu entendo que esteja chateada, não a culpo, pois toda a parcela de culpa foi minha. -ele tirou um lenço do bolso do terno e limpou as lentes do óculos -Eu devo milhares de desculpas para você e sua mãe e sei que não irá adiantar nada por enquanto, mas é a única coisa que posso oferecer. Um prato grande e cheio de culpa e arrependimento.
-Você escondeu isso da gente por tanto tempo? Da mamãe? - cruzei os braços sobre o peito -Como pôde fazer isso com ela? Era a melhor amiga dela!

Meu pai abaixou a cabeça, olhando para os lados para ver se alguém tinha escutado meu escândalo. Eu aposto que sim.

-Eu errei, Grace. Tenho plena certeza disso e não há desculpas pelo que fiz. Eu fui fraco e covarde, não há justificativa alguma para a traição que cometi contra você e sua mãe. Mas eu preciso que você entenda: Eu nunca abandonei vocês duas. Nunca deixei de amá-las em momento algum.

Uma lágrima escorreu por meu rosto e eu passei a mão com força para enxugá-la.

-Eu não tenho nada para dizer agora. Principalmente à você. Você tem noção do que fez? Mamãe vai para a casa da vovó e me levará junto. E o colégio? O time de Lacrosse? Você não vai fazer nada quanto à isso?

Richard batucou os dedos da mão em cima da mesa e olhou nos meus olhos por um momento, antes de desviar.

-Não é um bom momento para pedir algo à sua mãe, filha.

Cruzei os braços mais uma vez.

-E quando será, hein?
-Eu preciso que as coisas esfriem um pouco antes...
-Antes de fazer o quê, pai? Nada? É isso que você irá fazer? Jantamos com aquela família, comemos batatas e bebemos vinho com elas.
Suspirei antes de soltar.
-Me apaixonei pela Amy.
Meu pai arregalou os olhos.
-E você não tem direito de fazer algo contra mim novamente.

Richard abaixou os olhos e olhou para as mãos, enquanto eu me levantava.

-Espero que você conserte isso tudo, pai. Até lá, fique longe da sua família. Se é que pode chamá-la assim.

Saí da loja digitando furiosamente em meu celular. Amy respondeu imediatamente.

Grace: pode me encontrar na livraria?
Amy: claro. Chego em dez minutos.

E quinze minutos depois, ali estávamos no carro da mãe de Amy, em silêncio há exatamente cinco minutos. Eu estava pensando se ela sabia sobre a traição. Mas não tinha certeza. Minha cabeça doía e eu não tinha noção do que dizer para quebrar o silêncio.

Amy falou primeiro. Sua voz estava rouca.

-Minha mãe me contou sobre...
Assenti com a cabeça.
-Meu pai saiu de casa e minha mãe e eu vamos nos mudar para Vancouver.
Amy se gesticulou para o lado rapidamente, olhando para mim com os olhos arregalados.
-Como assim?
-Ela não quer mais ficar perto do meu pai, da sua mãe, de ninguém dessa cidade. E vai me arrastar junto com ela! - bati no encosto do assento com força.
Amy segurou minha mão esquerda, entrelaçando nossos dedos.
-Ei. Vai ficar tudo bem. Nossos pais vão se entender.
Revirei os olhos.
-Tenho certeza que não. Minha mãe está possessa com essa traição. Quando foi que tudo ficou desse jeito, Amy?
Amy balançou a cabeça.
-Agora eu entendo o porquê do meu pai ter saído de casa tão de repente.

Ficamos ali mais alguns minutos em silêncio.

-Eu não quero voltar para casa hoje.
Amy me olhou de soslaio.
-Pode dormir na minha, se quiser.

Meu coração pulou quando vi seus olhos verdes sorrirem e suas bochechas corarem. Como eu poderia largar tudo isso e ir para Vancouver?

BROKED - Concluída Onde histórias criam vida. Descubra agora