"Tens a certeza que queres fazer isto?"
"Claro que tenho."
"Mas será uma boa ideia?"
"Ter-te por perto, é sempre uma boa ideia"
Não os conseguia ouvir, mas imaginava as suas vozes lamechas a cantarolar estas mesmas palavras. Os meus olhos rolaram sem noção.
A minha mãe sorriu para ele beijando-o apaixonadamente.
Queria poder dizer-lhes para arranjarem um quarto. Mas as palavras simplesmente não saiam.
Nunca saiam.
Era o momento perfeito para entrar no carro cheio de caixas com os meus pertences e lamentar a minha vida.
Eu e a minha mãe íamos mudar de casa, e morar com o seu namorado, na Califórnia. Não podia encontrar-me mais alegre.
Eu gostava do Paul, mas ele tinha um problema. Não era o meu pai.
As minhas mãos no meu colo a lutarem por qualquer coisa. Os meus dentes superiores cravados no meu lábio inferior fabricando feridas. Os meus pés a livrar-se dos all start brancos.
Eu ia chorar, sabia disso. Coloquei os pés agora descalços para cima do banco. O meu peito à mesma medida que os meus joelhos. Descansei a cabeça por cima dos joelhos e olhei para a janela. As lágrimas já não saiam.
Apercebi-me que a minha mãe e Paul já estavam no carro, quando este começou a entrar em movimento. Achava-me nos bancos atrás deles, logo não conseguia observar os seus lábios para compreender o que estes diziam. O meu aparelho auditivo localizava-se numa daquelas caixas.
E não me apeteceu procurá-lo.
Eu não queria ouvir ninguém. E isso era algo que os meus ouvidos conseguiam fazer muito bem. Fechei então os meus olhos. Finalmente algo em que eu tinha controlo.
Seria uma viagem de 11 horas de Phoenix até Berkeley Hills, logo poderia dormir um pouco. Permanecendo com os pés por cima do banco, mas desta vez com as mãos cruzadas sobre a minha barriga. Estava encostada à porta do carro e nada confortável.
Os sonhos não demoraram a dominar-me a mente.
"Não te preocupes querida que vamos passar pelo McDonalds para comprar o teu Happy Meal." Sorriu-lhe.
Não podia descrever a felicidade que sentia por ela quando olhou pela janela e logo identificou as palavras escritas em grande.
McDonald's diziam elas.
"Vou receber um brinde?" Daqueles que o Happy Meal trás.
Os seus olhos num brilho indecifrável.
O homem mostrou-lhe um ar surpreso. "Achas que não mereces?"
Colocou as mãos por cima do seu colo enquanto ele a observava através do espelho do carro. Para ele, estes eram todos os seus sinais de culpa.
"Amor," começou "Não te portas-te mal hoje."
Quando reparou que o hábito dela continuava a debater-se no seu colo, acrescentou.
"De facto," sorriu, "até penso que irás receber não um, mas sim dois brindes."
As feições pequenas dela a transformarem-se em felicidade. Os seus lábios a sorrir de orelha a orelha.
Os olhos do seu pai não paravam de brilhar. "Não deixes esse sorriso desaparecer nunca," ele teve tempo de dizer.
Os meus olhos abriram-se lentamente. O meu corpo estava a reclamar a minha posição.
Deixei os pés caírem no tapete do carro. 'Ahh, o meu braço está dormente' queixei-me massajando o mesmo. Bati-me mentalmente. 'Ninguém te pode ouvir'.
Com dores no pescoço olhei para o GPS no carro. Faltavam 3 horas e 26 minutos para chegarmos ao destino. Dormi 8 horas? Suspirei silenciosamente.
Esta menina e o seu pai iriam atormentar os meus sonhos sempre?
Quando percebi que não estávamos muito longe da Califórnia pois a placa verde assim o dizia, bufei.
Já só faltavam 3 horas até Berkeley Hills.
'Adeus Arizona.' Olhei pela janela.
'Bem-vinda a Califórnia.'
Com os braços cruzados sobre o meu peito, o meu corpo encolhido no meu lugar; eu fechei os olhos.
'Yah. Bem-vinda.'
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Aqui está o primeiro capítulo. É pequeno, pedimos desculpa, mas o segundo já irá ser maior.
Esperamos que tenham gostado (:
* Trailer na multimédia *
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Breathe || H.S
FanfictionUma rapariga surda, e um rapaz numa cadeira de rodas. O que pode correr mal? --------------- Uma história onde claramente prova ser difícil perder hábitos aos quais o coração não se quer desapegar.