Água rasa,
Morna,
Líquido dos deuses em seu ventre
“Que entre!”, ela disse
E eu surgi entre a poeira e o plasma
Mediante a força de sua carência
Conduzido à esse mundo através de seu canal de egoísmo
E eu cresci e me rebelei criatura nas entranhas de seu corpo
Ela era mãe, e eu era infortúnio
Ela, desejo e sonhos
E eu, a partir daquele instante, prisioneiro da miséria
Depois de nove meses, escapei de sua flor, morada de meu eterno desamor
Cravei as unhas em terra, e engatinhei pela primeira vez por essa terra ardente e carente
E então chorei
Pois me vi condenado à esse mundo
Imundo!
E por ódio, cresci
E hoje, sou amante da revolta, o conturbado
O pecador injuriado
Gritando em show aberto para nenhum espectador que entenda
Que sou contenda!
Pois nunca houve liberdade
Sou um eterno escravo da casualidade
Fruto de um matrimônio e sua infelicidade
Nunca pedi por essa viagem
Mas aqui estou
O Decadente
O Indiferente
O Irreverente
O Sobrevivente?
De seu ventre, mãe, nasci para sofrer
E morrer
E nem mesmo morro
Então o que faço?
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Insônia: O Canto das Poesias
Poetry'... E eis que nasci, e em mim, vertigens da alma, e o coração acelerado sem entender a peça. O espetáculo era eu, e as cortinas que então se abriram, era todo o mundo em exuberante tragédia em existir, brilhando feito água do mar diante meus olhos...