Um

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Honestamente, Sasuke não se importava. Ele não era o tipo de vizinho rabugento, intrometido, que queria dar uma opinião ou fazer um comentário sobre tudo o que o resto das pessoas naquele prédio faziam. Sério. Ele não se importava se Kurenai trazia um namorado diferente toda semana, ainda insatisfeita com o término do casamento de 5 anos. Não dava a mínima se Gai passava tempo demais na academia e rezingavam que ele parecia ocupar todos os equipamentos de uma vez – celular aqui, toalha lá, garrafinha próxima ao peso. Ele nem sequer sabia que Asuma, alguns andares abaixo, fumava 3 maços de cigarro por dia, ou que Konohamaru tinha, mais uma vez, feito xixi dentro de um dos brinquedos do playground. Ele era a pessoa mais paciente do mundo quando se tratava de seus vizinhos – todos eles.

Mas tudo mudava drasticamente quando sua mais nova vizinha, do andar de cima, ouvia música alto e fazia sexo ao mesmo tempo. Ele dá uma olhada para os vários livros espalhados na sua escrivaninha; faltava pouco para as provas finais de engenharia. Muito pouco. Então ele podia aguentar um dos dois: cama rangendo ou música alto; estava disposto a abrir mão do silêncio por um dos dois, mas só um. Sinceramente, Sasuke merecia um prêmio da ONU. Ele se esforçava muito pela paz, já sua querida vizinha...

Mesmo quando ele se levanta e deixa a cadeira meio de lado, a música continua. O ranger da cama também. Já faz 25 minutos, pelas suas contas, então ele acredita que ela teve felicidade o suficiente e que já pode interromper – de alguma forma, isso o faz se sentir mal; odiava quando atrapalhavam uma de suas transas. E pensar que essa garota não tinha cara de quem fazia tais coisas de forma tão barulhenta...

Hinata tinha chegado fazia duas semanas. Eles se encontraram no elevador e, um pouco constrangida, ela interrompeu os pensamentos dele sobre colocar as séries em dia para dizer que era a vizinha nova, do oitavo andar. Um pouco contragosto, Sasuke se virou para ela e disse que era do sétimo. Foi só olhá-la que até simpatizou; era pouco mais baixa, corpo bonito, cabelos escuros e longos. De bochechas coradas, parecia o tipo de pessoa que não o traria problemas. Por isso foi fácil balançar a mão dela e dizer que ela podia passar no Nº26 se precisasse de algo – mesmo que ele fosse fingir que não estava em casa, muito provavelmente.

Então, quem diria? Sua mãe sempre dizia que não se pode julgar pela aparência. Ino parecia o tipo barulhenta, mas todas as vezes que ele a trouxera para seu apartamento, a loira tinha preferido deixar de usar a cama. Talvez esse seja o problema, Sasuke pensa enquanto sobe o lance de escadas, sem paciência para esperar o elevador. Talvez Hinata nunca tenha morado em um apartamento, vai ver ela não sabe que não pode fazer esse tipo de coisa numa cama mais ou menos velha sem que todo mundo do prédio escute. De verdade, ele não ouviu nenhum gemido, só alguns poucos gritos alegres. Então, pensa orgulhoso, ela está com sorte. Pelo menos é ele e não o velho Sarutobi; imagina que constrangedor ser interrompida por aquele cara?

Sim, de fato, Sasuke está fazendo um favor à moça e ao cara, ou outra moça, com quem ela está. Ele semicerra os olhos quando enfim chega ao corredor. Talvez o favor seja maior ainda, quem escolhe essa música para fazer sexo? Não que Sasuke seja um especialista em sexo – humildade de lado, ele é bom, mas especialista seria demais. Ou especialista em música – de quem é aquela...? Aquela lá, assim, tantantan...? Daquele cantor, aquele lá, sabe. Ou especialista em música para sexo – não vamos lembrar do dia que Karin resolveu escolher uma playlist esquisita e o quadril de Sasuke às vezes tinha que se mexer ao som de Evanescence, o que não é exatamente o melhor estimulante sexual. Mas, certamente, se ele tivesse que escolher algum sonzinho para o momento H, não seria O Baile Todo.

De frente à porta dela, ele só consegue encarar a madeira com uma expressão estranha. De verdade, ele não se importa. É o que repete para si mesmo. Por mais estranho que seja, Sasuke não liga se Hinata está dando uma (!) ao som de a O Baile Todo (!). Na verdade, ele nunca nem sequer a incomodaria se fosse só o som. Estranho, ok. Mas talvez ela gostasse de ser a cachorra ou a popozuda e isso não era problema dele. Ele nem sequer a incomodaria se Hinata estivesse só fazendo sexo. Mais uma vez, o problema é os dois. Não dá para focar em dezenas de fórmulas com todo esse barulho.

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