Não-Convidados

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Era uma vez um comerciante muito rico, que tinha seis filhos: três meninos e três meninas. Como esse comerciante era um homem inteligente, não poupou recursos na educação de seus rebentos, dando-lhes todo tipo de professores. Embora todos os suas filhas fossem bonitas, a caçula era a mais admirada, sendo chamada por todos, desde bebê, de Bela. O que sempre despertou a inveja de suas irmãs.

Além de mais bela, a caçula era mais ajuizada do que elas. As duas mais velhas gostavam de ostentar sua riqueza, bancando as damas e se recusando a receber as filhas dos outros comerciantes. Iam todos aos dias ao baile, ao teatro, ao passeio, e zombavam de dela, que dedicava a maior parte de seu tempo livre à leitura de bons livros.

Como todos sabiam que as moças eram muito ricas, vários comerciantes poderosos pediram sua mão em casamento. As duas mais velhas responderam que jamais se casariam, a menos que encontrassem um duque ou, pelo menos, um conde. Quanto a irmã mais nova, agradeceu sinceramente aos que desejavam desposá-la, mas alegou ser muito jovem e querer fazer companhia ao pai por mais alguns anos.

Porém, algo sempre pareceu diferente em relação à irmã mais nova. Ela tinha uma beleza natural, por onde andava encantava a todos e todas, independente de saberem de sua condição financeira, entretanto, ela parecia odiar suas características mais adoradas. Seus cabelos negros grandes e brilhantes, ela cortou assim que teve idade para saber manipular uma tesoura. Seu corpo esculpido e esbelto, era sempre escondido pelas roupas grandes de seus irmãos mais velhos, mesmo sempre tendo a sua disposição os vestidos mais belos, feitos dos melhores tecido e pelos alfaiates mais caros da região.

Suas irmãs mais velhas encorajavam seu comportamento, pensando que se talvez sua irmã tola continuar com essas características anormais, os aldeões vão ver a beleza superior delas, isso nunca aconteceu. Ela recusava a usar seu nome de nascença, preferindo por Jimin, e o que começou com apelido infantil, foi se tornando seu nome conhecido pelos de fora. Ninguém parecia se importar com essas características da criança, sempre tão gentil e educada.

De uma hora para outra, o comerciante perdeu todos os seus bens, só lhe restando uma pequena casa no campo, bem distante da cidade. Chorando, ele comunicou aos filhos a necessidade de se mudarem para lá e de viverem do trabalho agrícola. As duas primogênitas declararam que não cogitavam deixar a cidade e conheciam rapazes que adorariam desposá-las, mesmo após a ruína da família. Coitadas, estavam enganadas: seus amigos não olharam mais para elas depois que elas ficaram pobres.

Como ninguém aturava mais sua empáfia, todos diziam:

– Tadinhas! Dá gosto vê-las no fundo do poço! Que banquem as damas guardando carneiros!

Simultaneamente, diziam:

– Mas estamos muito tristes com a desventura de Jimin: é uma pessoa tão boa! Era tão gentil com os pobres, tão meiga, tão honesta!

Diversos fidalgos, inclusive, pediram sua mão, mesmo cientes de sua pobreza, mas ela = respondeu ser incapaz de abandonar o pobre pai no infortúnio e iria para o campo com ele a fim de oferecer consolo e ajuda.

Instalados em seu novo lar, o comerciante e seus três filhos dedicavam-se à lavoura, enquanto Jimin, de pé às quatro da manhã, limpava a casa e preparava o almoço para a família. Apesar da situação adversa que sua família se encontrava, Jimin se viu mais livre. E lentamente começou uma mudança que estava a tempo em seus desejos mais profundos, porém por conta da atenção que atraia por conta de sua riqueza e seu desejo de não desonrar essa fortuna, nunca pode realizar.

Iniciou pequeno, se chamando algumas vezes no masculino, apenas o suficiente para parecer um erro. Até que, lentamente, encontrou coragem para falar sobre si mesmo da maneira que se sentia. Ele não disse nada aos seus parentes, que pareciam confusos com a mudança, mas muito ocupados se preocupando com a perda da fortuna para se importar com isso, pois se ele continuasse sendo a mesma pessoa gentil e inteligente que sempre foi não havia necessidade de se preocupar.

O Belo e a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora