Capítulo Único

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Maldito ano novo! Malditas festas! Não aguento mais ter que ouvir a cada vez que saio de casa e encontro com um conhecido ou vizinho ou qualquer um que me venha "E tenha um feliz ano novo, viu!". Eu entendo a educação, mas não entendo por que comemorar o fato que a terra deu um volta inteira ao redor do sol. Isso realmente merece sete ondas para pular? Ou você ter que postar foto com seu namorado dando beijo a meia noite? Sim, estou falando com você Bianca. Ninguém quer ver.

O Natal a gente atura, a gente celebra tranquilamente. Agora a ideia do ano novo você não me obriga a engolir! A vida não vai mudar porque você vai usar uma cor, tampouco sua vida inteira só pela ideia de que você precisava de uma nova você para um novo ano. Piegas. E por isso me recuso comemorar! Não vou a nenhuma festa. Não preciso delas.

Ok. Ninguém me convidou para nada. Todas as minhas amigas e amigos estão passando com seus namorados. Meus pais estão na nossa cidade natal em casa provavelmente esquecidos que começa um novo ano. É isso. Sozinha na virada porque não sou a opção de ninguém e está tudo bem. Eu não preciso disso. Usar uma roupa nova branca e dourada. Brindar pelo o que vem. Ter alguém para abraçar. Besteira! Vou passar a virada com Friends, mas não vendo o episódio da virada deles, isso é pedir demais.

- Ei dona! – Virei para trás achando que era comigo, mas quem seria? Eu e apenas eu nesse apartamento escuro, já que tenho que economizar energia. – Você mesmo! Joga a bola, por favor!

Olhei para a varanda, onde vi uma bola bem parada no meio, me provocando. Suspirei, me levantando e jogando de voltar para o menino da varanda da frente. Ele saiu correndo para dentro, enquanto eu me apoiei no parapeito de minha linda varandinha, olhando pelas janelas as pessoas já animadas.

- Besteira... – Murmurei, voltando a entrar.

E aí a minha vida deu errado e o cósmico riu. Me assustei com a sombra da minha própria palmeira e dei um passo rápido pra trás, caindo da merda da minha varandinha! Sorte a minha que eu moro no segundo andar e cai em cima do canteiro de flores do prédio.

- Tudo bem! Estou bem! – Exclamei, me apoiando nos meus cotovelos. – Não tá tudo bem não.

Resmunguei não conseguindo pisar no meu pé esquerdo. Respirei fundo. Mancando, voltei para o meu apartamento xingando literalmente qualquer pessoa ou ser que exista. Me joguei no sofá e subi a calça e vendo meu tornozelo inchar e inchar e ficar horrível e enorme.

- Será se devo ir no pronto socorro?

Olhei para o nada e decidi que era melhor do que ficar deprimente em casa de tornozelo torcido, é ser deprimente no hospital com o tornozelo tratado. Agarrei minha bolsa e meu celular e desci, pedindo um uber. Entrei rápido quando ele chegou.

- Boa noite, moça! – O motorista animadamente exclamou. – Indo para uma festa?

Olhei para ele com uma sobrancelha arqueada. Sim. Vestida com essa suéter branco de vó, calça moletom preta e pantufas.

- Não, para o hospital. Torci o tornozelo.

- Poxa! Mas não tinha ninguém pra te levar? Cadê seus amigos, teu namorado? Ou namorada né. – Ele deu um risinho.

- Não tenho. – Disse, em tom de que não quer mais conversar e ele entendeu.

Não demorou muito para chegar no hospital, ele desceu do carro e me ajudou a chegar na recepção do pronto socorro e se despediu com um, pasmem, feliz ano novo. Respirei fundo.

- Boa noite. – A mulher olhou para mim entediada, ou puta, não saberia dizer. – Eu torci meu tornozelo...

- Senta lá naquela maca que o plantonista já vem.

Happy New WhateverWhere stories live. Discover now