Consequence 2

1. Sinto Muito Dar a Notícia Dessa Maneira

O som do celular era incessante, Lisa caminhou em direção a sua mesa e o pegou, atendo-o.

– Lisa Ruiz? –– A voz masculina e completamente desconhecida ecoou do outro lado da linha.

– Sim, quem gostaria?

– Eu me chamo Guilherme Chaves, sou comandante da linha área onde a senhora Anne Montgomery embarcou essa madrugada –– Lisa sentiu o coração acelerar, prendeu a respiração não querendo pensar no pior.

– Algo... –– Respirou fundo –– Algo aconteceu?

– Sinto muito dar a notícia dessa maneira –– Lisa sentiu o corpo tremer com essas palavras –– O jatinho particular que a senhora Montgomery estava, teve uma falha no sistema, o piloto entrou com contato conosco avisando que uma das hélices havia explodido, mas isso foi antes de perdermos o contato, estamos mandando uma equipe de buscas, mas... Não há previsão de sobreviventes.

Lisa sentiu todo o ar lhe faltar, aquilo deveria ser alguma brincadeira de mau gosto, Anne sempre fizera isso quando ainda eram casadas, suas lágrimas começaram a cair sem terem permissão, sua cabeça pareceu girar, seu estômago embrulhou, céus, aquilo era loucura, uma brincadeira cruel.

Nem mesmo sentiu quando o celular caiu de suas mãos, nem como conseguiu sentar-se na cadeira sem cair no chão, tapou a boca abafando o gemido sôfrego que escapava de sua garganta.

– Senhora Ruiz? Senhora Ruiz ainda está ai?

O mundo parecia mudo a sua volta, as palpitações que seu coração dava, pareciam lhe causar um ataque cardíaco de tão fortes.

– Lisa, eu preciso... –– Cassidy parou ao ver o estado da amiga, aproximou-se preocupada –– Lisa o que houve?

Lisa não lhe olhou, não lhe responde, simplesmente não fez dada além de chorar ainda mais desesperadamente. Cassidy procurou algo que pudesse ser a causa de tal desespero e encontrou o celular caído no chão.

– Alô? Senhora Ruiz?

– Alô, aqui é Cassidy Barrett, amiga dá Lisa, pode me dizer o que aconteceu?

....§....

Um dia antes...

Anne encarou Lisa que arrumava as coisas de Matteo com certa brutalidade, era sempre uma discussão quando a ruiva chegava para pegar o filho.

– Você não tem o direito de se envolver na minha vida, com quem eu me envolvo ou deixo de me envolver.

– Matteo também é o meu filho, eu não vou deixar que você deixe aquele homem, se aproximar dele.

– Aquele homem é a pessoa que nos deu o Matteo.

– Ele praticamente abusou de você quando isso aconteceu, mesmo que você tenha se aberto pra ele literalmente e se dado por vencida minutos depois, apenas por sentir o que era um pênis dentro da sua...

– Você não tem o direito de dizer nada –– A interrompeu.

– Você está dormindo com ele outra vez?

– Não interessa a você se eu estou ou não dormindo com Sean outra vez, eu sou uma mulher adulta e solteira, durmo com quem eu quiser.

– Ótimo, então continua a dormir com ele, espero que ao menos um mísero orgasmo ele saiba dar a você.

– Você é ridícula, eu nem mesmo sei porque estou discutindo com você, nós não temos nada, Anne, nada! –– Enfatizou.

– Eu estou indo viajar essa madrugada, quando eu voltar, eu não quero esse homem perto do meu filho, senão...

– Senão o que Anne? –– A interrompeu –– Vai mandar alguém mata-lo? Isso não seria difícil pra você, nem mesmo você própria fazer o serviço.

– Eu tiro Matteo de você –– Disse com raiva.

– Tente.

– Não brinque quando sabe muito bem que pode perder.

– Para o inferno você e seu poder, Anne –– Disse com a mesma raiva da mais velha –– Você não vai tirar o meu filho de mim –– Lisa saiu do quarto com a bolsa e Anne fechou a mão com raiva, sentindo a veía da testa pulsar.

....§....

Lisa aproximou-se da cama onde o filho dormia e o abraçou, encolhendo-se junto ao pequeno corpo e chorou novamente, chegará em casa por conta de Cassidy que havia lhe levado, seu coração estava doído, sua cabeça parecia que iria explodir.

Havia vomitado após a ligação que receberá de Guilherme Chaves, não tinha mais nada em seu estômago e as palpitações do coração continuavam ali.

Esperava que o que estava acontecendo não passasse de um terrível engano, esperava que logo Anne aparecesse por ali e que elas começassem uma briga como faziam nos últimos três anos, elas nunca precisavam de um motivo real para brigarem, apenas brigavam, talvez sua mãe tivesse razão, aquilo era só amor pausado, as brigas que terminavam da mesma maneira que começavam.

O ódio mantendo o desejo oculto, haviam tido algumas noites após a separação, noites tão interessas quando qualquer outras que tiveram, Lisa sentia ódio quando dominou Anne e a mulher mais velha não se opôs a apenas receber e corrender-se com a intensidade de gemidos.

Parecia tudo tão vazio, novamente Lisa sentiu-se deixada, assim como no dia do nascimento de Matteo quando Anne lhe deu o divórcio, — mesmo que naquele momento não tivesse exatamente só, pois Anne apenas havia lhe dado espaço — era tão estranho pensar que o que ela sempre quis se tornou seu pior pesadelo quando o teve, havia se apaixonado como louca, como jamais foi nem mesmo por Sean e agora não a tinha, nem mesmo para uma briga sem sentido.

....§....

Marcus olhou para Lisa em completo silêncio, a ruiva encarava atentamente a tela da televisão na esperança de que alguma coisa fosse dita sobre Anne.

– Na madrugada dessa sexta-feira o jatinho particular que transportava Anne Montgomery sofreu um grave pane no sistema, o piloto conseguiu contar a base aérea poucos minutos antes da hélice explodir e perderem o sinal caindo no meio da floresta, as equipes de buscas ainda procuram pelos três que estavam a bordo, entre eles estavam, o piloto do avião, Alfredo Vasconcelos, a aeromoça Flávia Devil e a empresária Anne Montgomery, o jatinho ainda não foi encontrado assim como não há sinal de sobreviventes.

– Lisa... –– Marcus lhe chamou calmamente, vendo-a secar às lágrimas –– Meu bem, eles irão entrar em contato assim que encontra-la –– Disse se aproximando e sentando ao lado da ruiva.

– Você não entende, Marcus, eu... Eu amo a Anne, amo como jamais ninguém em toda minha vida, é tão simples tê-la por perto, mesmo que a gente não estaja mais juntas como antes, eu... Eu suporto viver sabendo que vamos brigar em todos os momentos em que estivermos juntas e que vamos nos beijar ou passar a noite juntas após essas brigas mesmo repetindo que não vai mais acontecer, mas eu não posso viver com a ideia de que Anne está morta, eu não posso –– Marcus a abraçou vendo-a soluçar em mais um choro forte.

Lisa estava extremamente sensível desde que recebeu a ligação no dia anterior, malmente havia comido e só havia desgrudado de Matteo naquele momento para ver o noticiário.

– Vai ficar tudo bem –– Ele sussurrou, não tinha certeza de tal coisa, mas esperava que sim, por Lisa e por Matteo que mesmo sendo tão pequeno, era muito apegado a mulher.