Há muito tempo que eu não sabia o que acontecia em Valazia, tudo o que me restava eram as lembranças que tinha de antes de deixar o país para trás.
Era só eu e meu pai vivendo em uma pequena cabana dentro da floresta, não era tão ruim quanto estão pensando, não me importava em passar o tempo sozinha, só me dava mais tempo para aprender a lidar com a mágica que possuía. Foi um dos motivos de termos deixado Valazia pra trás,
Normalmente as asas dos valazianos eram cinzas, marrom ou amareladas, com exceção de um menino que tinha asas pretas enormes, eu nunca o vi, mas sempre tive curiosidade para saber se eram tão escuras quanto o céu à noite como diziam ser. Minha família nunca me deixou sair de casa sem que eu escondesse minhas asas, tinham medo do que o príncipe faria se descobrisse que as minhas eram diferentes e estavam certos em ter esse medo.Eu eram uma criança quando aconteceu. Lembro-me de chegar em casa com meu pai, que já parecia estressado na hora, eu pensava comigo mesma que o treinamento não devia ter sido fácil, mas enfim, quando chegamos em casa, nos deparamos com a pior cena que poderíamos imaginar, encontramos meu irmão e minha mãe mortos na sala. Meu irmão com uma lâmina em seu estômago e minha mãe eu não consigo me lembrar bem, mas lembro da casa estar destruída, móveis destruídos e jogados por toda parte. Meu pai enlouqueceu! Pegou algumas coisas e nós saímos às pressas para cá.
Lá eu não tinha muitos amigos, pois na visão deles, eu havia nascido sem asas, o que era considerado uma aberração. Não sei porquê nasci com asas brancas, mas um branco que eu poderia assistir por horas. Você deviam conseguir vê-las no pôr do sol, pareciam estrelas em um céu branco e com a magia que mencionei antes, conseguia deixá-las...invisíveis. Se eu me esforçasse um pouco mais, conseguia desaparecer por inteiro! Porém era uma das poucas coisas que eu conseguia fazer.
Na maior parte do tempo, era uma bagunça. Sentia fortes dores de cabeça, visões aleatórias ( muitas delas eram maneiras de como eu poderia morrer, mas eram tantos jeitos diferentes que acabei por concluir que não eram reais, que eram apenas sonhos horríveis ), tinha vezes que eu olhava meu reflexo e meus olhos estavam brancos por completo e brilhando!! Já causei várias explosões também...é, algumas foram bem desastrosas. Hoje eu já consigo me controlar melhor, as dores de cabeça não só tão fortes quanto antes e eu consigo manter nossa cabana inteira, então eu diria que é uma vitória.
Perto de casa havia uma montanha que um dos lados era um penhasco, gostava de ficar no topo até tarde da noite observando minha antiga casa de longe.
-Vi que está progredindo.- meu pai disse sentando ao meu lado na montanha.
-Sim.-Uma sacola de pano pendurada em um dos seus ombros conforme a força da brisa.- Já vai voltar para lá de novo? - ele assentiu.
- As coisas em Valazia estão... complicadas.
-Como sempre foram.- falei desviando meu olhar dele para o chão.
- Volto logo...Dessa vez não demorarei muito.
-Tudo bem.
Meu pai costumava a voltar para o reino de vez em quando, diz que deixará algumas coisas não resolvidas quando saímos de lá. Não é como se eu não soubesse me virar, mas essa sensação de não saber o que pode acontecer com ele realmente me incomoda.
Algumas vezes enquanto observo o país, vejo algumas explosões no alto da cidade, imagino que estejam passando por uma fase difícil. Uma guerra civil.-Já sabe, Gwen...
- Já sei, já sei! Não ir muito longe da cabana, não me arriscar e todos o resto.
Ele coloca a mão sobre meu ombro em um gesto de despedida e em outro instante já se encontrava a metros de distância, o perco de vista depois de alguns minutos assistindo se distanciar. Volto a sentar na grama pousando a palma da mão na superfície. Um broto aparece da terra um instante depois, não sei que espécie de planta é, se é uma árvore ou apenas uma flor.
Levanto me direcionando de volta a cabana. A caminhada não é longa então ando calmamente até meu destino..
Quando era menor, conseguia escutar as árvores conversando entre si. Lembro que ficava até tarde da noite escutando seus cochichos. Um dia, estava no topo da montanha, lugar em que sempre ficava, quando percebo que uma parte do castelo havia desmoronado, dando início à uma luta entre os civis daquelas terras. Foi esse exato dia em que as árvores se calaram.O silêncio se estabeleceu e tudo o que podemos escutar enquanto caminho de volta para a cabana são os barulhos de meus passos, que quebravam os galhos secos do chão. Nunca notei a presença de animais por aqui, o que sempre achei muito estranho.
Abro a porta de madeira da pequena casa, tudo estava em seu devido lugar. Pego uma maçã de cima da mesa e Caio sobre minha cama olhando para o teto. Raios de luz alaranjados desapareciam entre as frestas do telhado, a noite chegou. Estava sozinha mais uma vez, pensei em praticar um pouco mais, mas aqui dentro é perigoso demais para eu fazer isso. Da última vez que inventei de praticar magia dentro de casa, tive que ajudar meu pai a reconstruir uma parte do telhado, que não havia aguentado o impacto da explosão que causei aquele dia...sem querer.
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Valazia (não finalizada)
Fantasy"Há muito tempo que eu não sabia mais o que acontecia em Valazia, tudo o que me restava eram as lembranças que tinha de antes de deixar o país para trás. Era só eu e meu pai vivendo em uma cabana dentro da floresta, não era tão ruim quanto e...