Um dia eu estava deitada em uma das camas em nosso ônibus, já que a minha, como sempre, estava lotada de coisas, quando ela se aproximou, perguntou se podia deitar comigo e antes mesmo que eu pudesse respondê-la, ela se ajeitou no canto da cama.
- O que aconteceu? - perguntei-a. Sabia que ela gostava de estar comigo e eu também gostava de ficar junto dela, mas ela estava estranha.
- Não estou me acostumando com essa ideia de você com ele.. Sabe?
Eu sabia a quem ela se referia, porém, assim como ela, preferi não tocar em seu nome.
- E não precisa. - virei-me para ela. - E não quero que você se acostume. - levei minha mão ao encontro da dela que estava superficialmente gélida. - Não quero que entenda esse momento como real, como verdadeiro.
- Mas é verdadeiro para outras pessoas.. Digo.. De fora..
- O que importa é se é verdadeiro para nós. - insisti. - E sabemos que não é.
- Mas em algum momento você estará com ele e enfim.. As demonstrações..
- Será preciso.. - sussurrei. - Você sabe.
- Eu gostaria que continuássemos como estávamos.. Nossas demonstrações, mesmo que eu estivesse me sentindo pressionada e invadida, porque eu percebi que agora, está sendo bem mais difícil de suportar.
- Meu amor.. - fui aos poucos encostando meu rosto no dela. A cortina da nossa cama estava fechada e sabíamos que assim não éramos incomodada. As meninas respeitavam nossos momentos, mesmo que às vezes elas viessem de brincadeiras e piadinhas, mas sempre saudáveis e nada que fosse saí dali. - Nós estamos passando por essa juntas e assim continuaremos. As coisas irão se acalmar um dia.
- E o meu ciúme? - perguntou-me ela com a voz mais mansa possível.
- Ciúme? E o que você me diz daquela fã, daquela mulher maravilhosa que te abraçou no M&G, que eu pensei: Putz, agora ela me deixa de vez por aquela mulher.
Acabamos em risos.