* Nathalia*
Rejeitada.
Argh! Como eu odeio essa palavra. Se um dia eu me tornar presidente, esse será o meu primeiro decreto: retirar a palavra "rejeitar" do dicionário de língua portuguesa.
E aí estarei rejeitando o rejeitar. Legal, agora sou uma hipócrita! Essa palavra não é mesmo do bem, pelo contrário, imagino que o meu inferno esteja repleto de letras e todas formam a mesma palavra. Rejeitada.
- Sua escrita é muito boa, Nathalia, para uma garota de 21 anos é muito surpreendente. Acredite, muitos autores demoram até chegar ao seu nível. Mas... - Sempre tem um Mas, reviro os olhos mentalmente, talvez essa palavra seja amiga da Rejeitada. – Eu sinto como se fosse muito do mesmo, entende? Falta vivencia aos seus personagens, mais personalidade própria. Quero publicar algo seu, só me traga algo inovador.
Ou seja, com isso ele quer dizer que eu não tenho personalidade própria.
- Tudo bem, senhor Cardoso, se eu planejar mais alguma coisa te aviso. – Murmuro me levantando da cadeira em frente à dele, separada apenas por uma mesa de madeira bruta.
- Não! É isso, ai está o problema! Você planeja demais Nathalia, precisa sair um pouco dessa sua caixa lacrada.
Balanço a cabeça, não querendo abrir a boca e correr o risco de dizer algo mal-humorado. Quer dizer, ele nem merece, não é culpa do senhor Cardoso que minhas histórias não sejam criativas.
- Bem, obrigada. – Tento dar o meu melhor sorriso antes de sair da sala ( de decoração extremamente brega, devo ressaltar) do diretor da editora.
Sinto-me decepcionada, é a décima sexta vez que sou rejeitada por alguma editora e o mais deprimente é que todas dizem a mesma coisa: falta de personalidade. As vezes me pergunto se as editoras da região fizeram uma reunião para padronizar as resposta às minhas obras.
Vamos revisar, senhores e senhoras. O que devemos dizer quando recebermos um dos livros de Nathalia Sphoier? (imagino o coordenador da reunião perguntar)
Sua escrita é muito boa, Nathalia, mas falta personalidade! (os outros responderiam em coro)
Contudo, a minha imaginação logo descarta essa possibilidade. Até mesmo para isso precisa-se valer a pena.
As vezes faço trabalhos de revisão freelance para essa editora, por isso quando passo pela sala verde musgo onde os editores trabalham, obrigo-me a continuar sorrindo e paro para cumprimentar todos, principalmente Janice que foi quem me chamou para o trabalho de freelance.
- E ai? Alguma novidade? – Ela se aproxima animada, sua caneca de café com a cara do Harry Potter balança quase respingando café para todos os lados.
- Nenhuma. – Solto um longo suspiro. – Mas essa é a última vez que sou rejeitada.
- É isso ai, garota! Pensamentos positivos. – Ela ergue a caneca como em um brinde, dessa vez fazendo algumas gotas realmente saírem voando por ai, acho inclusive que uma delas atingiu o monitor de outro editor, mas não viro o rosto para conferir.
- Você entendeu errado, Janice, estou desistindo. Depois de dezesseis rejeições acho que finalmente entendi o recado: não sou feita para a escrita.
- Mas sua escrita é ótima! Você só precisa se encontrar.
- Parece que isso não vai acontecer tão cedo, vou me concentrar no meu trabalho e seguir minha vida. Falando nisso, preciso ir para o trabalho ou vou me atrasar. Mande um oi para a sua mãe por mim! – Dou um abraço nela e saio antes que ela comece seu discurso sobre nunca desistir.
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Em Busca De Um Lugar Desconhecido
RomanceNathalia se vê em situação de desespero quando perde seu emprego, sem nenhum familiar por perto para ajuda-la, ela precisa se virar para pagar o aluguel do minusculo apartamento que divide com outras garotas. Mas a loucura só começa realmente quand...