00. óculos escuros com aro vermelho em formato de coração.

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a minha vida se tornou um inferno porque eu quis e depois de tanto tempo eu admito. mas eu bem que na verdade nunca sonhei em estrelar um filme pornográfico, já que os meus filmes favoritos são os conspiracionistas de ficção científica e a mamãe pôde em algum momento da sua miséria aidetica, me provar que a pornografia te rasga de dentro pra fora e que se você ficar muito tempo esperando pelo extase, talvez ele finalmente venha, só que fantasiado num pacote pequeno com pequenas pílulas em seu interior.

eu sempre tive vontade de fugir do meu próprio set de filmagens porque eu aparentemente jamais seria expulsa daqui. um dos diretores passa as mãos quentes e sujas pelas minhas pernas quando eu decido tomar um pouco de cerveja durante o expediente e eu sei que se estivesse em completa sanidade eu cortaria os seus membros um por um e o faria comê-los no almoço e no jantar até que ele se sinta satisfeito o suficiente do seu próprio abuso. mas então, naquele banheiro químico improvisado nos fundos do set, em algum momento eu simplesmente empalideci mais do que o aceitável ao passar aquela grande quantia de corretivo nas minhas olheiras fundas, frutos das minhas noites em claro e de ensaios diários. eu passei boa parte da minha vida querendo um papel num filme que valesse à pena, nem que eu precisasse chamar o diretor set com olhar pútrido, de anjinho.

nem que por pelo menos uma noite.

mas eu não precisei.

quando eu acordei daquele desmaio fantasiado de sonho, o dourado ainda não havia deixado os meus olhos escuros e ao fundo daquele galpão eu conseguia facilmente discernir que toda aquela maluquice não passava de uma sessão de bruxaria clandestina de fundo de garagem, o que nem de longe é engraçado e começou a lentamente extrapolar as barreiras do impossível. mas o meu pesadelo não acabou por aí. nem por lá.

não tão cedo assim, kim yerim.

entre o portão de embarque e o meu próprio nemesis objetificado havia apenas uma pequena linha com uma palavra escrita em letras garrafais amarelas. um grande e sinalizador "CUIDADO".

a selva nunca deixou de ser um lugar grande e opressivo para se tornar uma acolhedora fazenda de coelhos, e ao pôr os pés em los angeles, eu já não tinha mais tanto medo de leões famintos se mordendo por uma fatia de alguém com o meu tamanho exato, mesmo que eu soubesse que não passava de um aperitivo. o meu medo não tinha forma exata e nem um nome fácil de ser pronunciado porque ainda estava perdido em algum momento onde sua conceição seria proclamada. entretanto, por enquanto eu ainda me contentava em sentir toda aquela penumbra com gosto de bala de goma sem sabor - daquelas que na verdade só te deixam com mais fome ainda - enquanto do outro lado da rua, as coisas simplesmente seguiam seu rumo em me deixar amedrontada e com saudades de casa.

se é que algum dia eu tive uma casa que não fosse semelhante à uma jaula com monitoramento 24h de aves de rapina com terno preto e gravata vermelha. eu achava que eles eram tão inofensivos quanto pinguins, mas na selva tecnológica de seoul, até pinguins conseguem voar sob o mar para pescar quantas garotas fossem necessárias para que as suas barrigas fossem no mínimo forradas com uma boa primeira refeição diária.

tudo aqui tem cara de filme de hollywood, o que é até cômico, porque de fato você pode simplesmente pegar um táxi e ir parar na frente do próprio letreiro filho da puta e famoso por nenhum motivo especial - cercado, minado, infestado de flashes em qualquer lugar que você mire os olhos. mas cuidado! não se pode esquecer de um bom par de óculos de sol extravagante para fazer par com os seus olhos castanhos de insônia e velha e boa cafonice californiana.

alguma hora você se rende ao show de horrores que é de fato, essa cidade.

foi assim que eu entrei numa loja de bugigangas qualquer, em busca de algo que me fascinasse mais do que a ganância dos turistas e a minha propriamente dita, cuspida, escarrada e estampadinha - impressa! - ao meu rosto cínico. eu mesma assinei o meu contrato para um filme de fundo de garagem. mais supersticioso do que isso?

somente um par de óculos escuros de aro vermelho em formato de coração e um pirulito de cereja silvestre com aquele gostinho característico de medicamento clandestino, haha!

seja bem vinda à california, kim yerim!

🌴

//ola amigos 😔✌
essa shortfic pra mim é como se fosse um delírio porque eu dei tudo de mim e mais um pouco escrevendo isso então os personagens meio que consequentemente se espelham em mim, mesmo que um pouco.

a yeri é 100% inconsequente mas não é de propósito e pra quem não pegou já agora talvez só consiga pegar lá pelo 3 ou 4 capítulo mas sem problemas, inclusive, dêem amor à ela e para o jisung!! os dois são o meu mundo inteirinho e eles não merecem ódio ok 😔

segundamente, eu dedico essa história unica e exclusivamente à kimlipstick, que é com certeza, todos os meus surtos de madrugada pensando em um futuro meio utópico onde eu sei dirigir e que a gente pode voar as tranças pela california, que por mero acaso é o pior lugar possível pra se querer ir mas tem algo nesse estado que me atrai e eu não sei o que é (??)

e por último, essa história tem uma playlist e eu ficaria muito grata se vocês lessem a história ouvindo ela!! (não tem uma ordem exata, são só músicas que me fazem sentir como se eu fosse parte desse universo doido da yeri, ok?) o link dela tá no meu perfil, yay

e que comece o show de horrores!!

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