na primeira noite em que eu cheguei aqui, eu sonhei com um leão e com uma macieira. a wikipedia me disse que em vidas passadas eu possivelmente era obcecada pela história do jardim do eden, aquela enrolação sobre maçãs muito, muito, muito saborosas e também tem a tal da eva, que pra falar a verdade, eu acho que gostava mesmo era de correr certo perigo ao aceitar qualquer pecado de mão beijada com uma cobra que poderia matá-la rapidinho.
aos poucos o ser humano foi se auto-condenado pelos seus dejesos pútridos de cairem em tentação por mais de uma mulher ou por quem sabe, um homem.ou uma criança.
mas veja bem... eu nunca vi um californiano comendo uma maçã desde que eu cheguei aqui, pra falar bem a verdade!
eu odeio o meu diretor.
agora eu tenho um emprego no teatro e eu sequer preciso mais ensaiar para entrar em cena atrás daquela cortina vermelha fantasmagórica. eu não quero ser a julieta de porcelana daquele romeu de 16 anos que fugiu de casa pra tentar a vida na arte antes de cair no crime organizado. mas olhando de outra perspectiva, pelo menos ele nunca tentou me beijar. 16 anos sabe? é uma criança... sem eira e nem beira
camisola de cetim, penteadeira de camarim e lábios cor de carmim.
é desse tipo de coisa que os filmes adolescentes tanto falavam quando eu era pequena? isso me soa tão falsamente doce que de alguma maneira eu poderia ter formigas e insetos perambulando pela minha boca nesse exato momento e eu nem ligaria. ninguém liga de fato.
ninguém liga para garotas criadas de primeira viagem num apartamento do suburbio indo de repente para a própria rede de pesca torcendo para o show de horrores começar logo. em los angeles, da pior forma você querendo ou não, acaba descobrindo que até os cafés sem açúcar do starbucks mais próximo de você ainda assim tem o gosto ferroso de estevia em planta - doce, açucarado, diabético e mágico. são mentiras embaladas com cor de nuvem e com gosto de maçã do amor artificial feita de palha de aço.
os meus dentes estão rangendo tanto que se uma banda de rock psicodélico me chamasse para uma audição do mesmo jeito que fazem com garotinhas de minissaia e lábios de cereja que estão paradas no meio de uma avenida no deserto estadunidense com um mapa na mão tentando entender qual o caminho correto para a disneyland, eu poderia tocar acordes metálicos com os meus próprios dentes apodrecidos de açúcar logo no meu primeiro café da manhã.
tudo é mágico até que a penumbra te captura pra ela e te põe em cárcere. agora, a única coisa que pinga de maneira lenta e tortuosa dos meus lábios é o silêncio sepulcral. nada diferente do habitual.
eu, em frente ao espelho do meu próprio camarim com balinhas de fruta e garotos bonitos que podem atender à qualquer um dos meus pedidos mais insanos, eu não sinto que poderia pedir algo melhor do que um café sem açúcar.
eu preciso tanto da cafeína quanto em algum momento da minha vida eu vou chegar à precisar de álcool e cocaína.
a vida é um teatro e a minha é uma releitura mal interpretada e cafona da divina comédia que se eternizou no purgatório! eu quero quebrar com os próprios dentes todas as lâmpadas da minha penteadeira e mastigá-las até chegarem arrancando todas as partes do meu esôfago e por aí afora. eu sei que algo jamais penetraria no meu coração tão forte como uma bola de canhão.
porque eu já cheguei aqui sem pretensão de ser consertada.
ninguém disse que ser famosa seria assim tão repentino e extravagantemente melancólico, o diretor é um asqueroso uma das vontades que eu não tenho é a de autografar os seios de adolescentes, porque eu quero mesmo é parar no meio da avenida principal do deserto e esperar que um trailer de algum idiota de acampamento me atropele como quem não quer nada.
los angeles é o pior sonho possível.
se eu fosse você, teria medo de andar por aí com esses cabelos ao vento dirigindo esse mustang alugado e eu imediatamente pararia de procurar pela sósia do leonardo dicaprio. o máximo que se pode encontrar em circunstâncias assim é um cantor de cover do elvis mais pra lá do que pra cá, e novamente: se eu fosse você, não confiria tão cegamente em bêbados que vendem cigarros batizados no sinal. alguma hora eles vão te sequestrar, mas eu vou te contar isso noutra hora. por enquanto eu vou só esperar a sua bola baixar um pouquinho, espertona.
eu ultrapasso todos os sinais vermelhos, mas eu não tenho um carro. deve ser por isso que pedestres me olham com uma cara de espanto tão egocêntrica quando eu quebro as portas do teatro e saio correndo com o meu vestidinho vermelho de cabaré rua afora. romeu achava que julieta tinha se matado, e ao chegar do outro lado, ele não viu nada sob seu corpo quente. mas em outras palavras aqui, se você quiser uma chave de cadeia com muitas lágrimas à serem feitas de liquor de cereja e uma carreira que eu mesma arruinei... muito prazer!
os sinais de transito escondem a vermelhidão e o rubor da linha corrida até bem longe do teatro.
suor.
calor.
& essas coisas.
a califórnia deveria se parecer menos com uma selva a cada grande passo da tecnologia na sociedade mas a única mudança que tivemos na longa jornada milenar da natureza foi a substituição dos coqueiros pelos arranha céus, luzes neon a cada esquina e claro, um bando de filhos da puta a mais. e ninguém se salva. ninguém mesmo. haha.
mas reviravoltas acontecem, e então, eu o vi.
🌴
vamo que vamo caraio agora o bagui vai fica brabo !
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CALIFORNIA
Fanfiction[레드벨벳 + 스트레이 키즈] a selva nunca deixou de ser um lugar grande e opressivo para se tornar uma acolhedora fazenda de coelhos, mas ao pôr os pés em los angeles, eu já não tinha mais tanto medo de leões famintos. [kim yerim (yeri) × han jisung (han) ✧ re...