Capítulo Único

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Agora posso finalmente olhar para o alto e encarar aquele céu tão azul e farto de nuvens, e enquanto faço isso, fecho os olhos suspirando e agradeço por ter de uma vez por todas encerrado o bendito Ensino Médio.

Após essa sessão de agradecimentos ao céu, viro nos calcanhares querendo encarar pela última vez o colégio a minha frente. Era bem grande, no topo tinha a bandeira dos Estados Unidos chamando muito a atenção de qualquer um que ousasse passar por essa rua.

Sempre ouvi dos meus pais o quanto devo ter respeito e seguir as regras do nosso país, principalmente em agradecer a bandeira quando a visse. (Eu já deixo os meus pais cuidarem demais da minha vida, pelo menos isso não irei obedecer).

Ainda encarando o colégio presto atenção nos detalhes de sua estrutura, os bloquinhos laranjas das paredes, a faixada bem grande na entrada contendo o nome da escola, e logo abaixo a escada de poucos degraus, que estava entre dois muros que tinham mais ou menos 2 metros de largura os distanciando.

E sentados em um dos muros estavam os meu amigos, (em total cinco, composto por duas meninas e quatro meninos, dois deles são gays, assim como eu). Eles resolveram sair para comemorar e nesse momento eu estava indo para casa pedir a permissão dos meus pais.

Se tratando da minha sexualidade, sempre fui bem resolvido, não tive o momento de dúvida com o assunto, até mesmo já contei aos meus progenitores, minha mãe chorou, fez uma grande drama porque se um dia tivesse netos não seriam legítimos, eu até tentei explicar alguns métodos de como poderia ter um filho, mas meu pai cortou minha fala antes mesmo dessa dar as caras.

Lembro muito bem dele dizendo para esquecermos o assunto, pois já havia passado constrangimento demais só em eu dizer que sou gay. Mas apesar disso ele não mudou seu tratamento comigo, sempre foi rígido e assim continuou.

Uma de suas frases fica ecoando na minha cabeça:

Meu pai: "Você não é uma menina só por ter escolhido ser gay, continuará tendo o mesmo tratamento de sempre."

E após dizer isso ele saiu da cozinha indo de volta a sala ver o seu jornal. Ele é sim um homem meio ignorante, não posso esquecer de dizer intolerante também, por isso na pressa deixo de ficar pensando e aceno chamando um táxi que para do meu lado.

* * *

Entrando em casa já posso sentir o cheiro maravilhoso do almoço, apesar de meio azeda minha mãe tem uma ótima mão para cozinhar. Caminho pelo pequeno corredor e encontro meu pai no sofá da sala, seu olhar inclusive estava na minha direção, ele com certeza ouviu o som da porta, e mamãe também, pois logo apareceu sorrindo.

Feliz da vida tirei uma cópia do boletim (que pedi na secretaria) de dentro da minha bolsa e estendi na direção de papai, que desconfiando pegou o papel e passou seus olhos lentamente.

- Pode ver, minhas notas estão perfeitas. - falei com entusiasmo querendo o deixar orgulhoso.

- Muito bem, fez o seu dever. - falou sorrindo sem mostrar os dentes.

Frustrado deixei meus ombros caírem e peguei de volta o boletim quando ele me entregou.

- É... Hoje os meus amigos estão querendo sair para comemorar o fim do...

- Não, você não irá sair Andrew. - falou se pondo de pé. - Precisa começar agora a se preparar para o vestibular e entrar na mesma faculdade que um dia eu entrei. Por tanto trate de subir e começar seus estudos.

- Depois o chamo para almoçar. - disse minha mãe.

Apenas assenti e subi para o quarto me controlando para não bater a porta quando fechei. Raiva. Esse é o nome do sentimento que tomou conta de mim nesse momento. Dei um duro danado nos meus estudos para os agradar, os deixar orgulhosos, esperava no mínimo um abraço e palavras calorosas. Minha rotina sempre foi essa: colégio, casa, colégio, casa, colégio, casa; nesse meio nunca existiu a palavra festa ou diversão.

O Refúgio Veio Do Inesperado (Conto Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora