Seis e meia da tarde de sábado, o sol já estava se escondendo atrás dos prédios e as luzes da cidade começavam a tomar forma. "Acordei" de uma espécie de transe em um sobressalto quando o celular apitou e vibrou ao lado do computador. Estava meio desnorteado porque me lembrava de estar observando a janela, que fica bem em frente a minha mesa de "estudos", enquanto ouvia umas músicas tristes no notebook e pensava no rumo que minha vida estava tomando. E de repente, naquele susto, pareci ter acordado de um sono profundo...que, porém, não lembro de ter dormido.
A realidade é que ocasiões como essa já eram comum, já que eu tinha me tornado desligado, triste, ansioso e antisocial com o passar dos anos e já nem fazia mais questão de fugir disso. Já considerava uma parte minha viver dessa forma e parecia tão complicado reverter tal situação. Mas adolescentes passam por essas coisas não é? São fases. Bem, talvez não, mas eu não sabia como expressar o turbilhão de coisas que estava sentindo. Quer dizer...na verdade, eu sabia sim.Vamos aos fatos, eu, João Vitor Garcia, 18 anos, componho e (raramente) gravo músicas quando estou triste, e basicamente, tenho passado essa infinidade de dias dessa forma. Então sim, sei como me expressar, mas a realidade é que não mostro nada disso pra quem me conhece, e prefiro me esconder na internet com um nome que ninguém (exceto a Gabi) conhece. Konai é minha "segunda personalidade", é o cara que expõe todos os seus sentimentos, angústias e paixões num perfil de Youtube, é um garoto bem mais corajoso que eu...que acabo sempre no escuro do meu quarto e não falo nem metade das coisas que gostaria. Mas tudo bem, ele faz parte de mim e tenho me esforçado para que se torne a parte oficial do João que aqui habita.
Mas voltando ao momento que meu celular apitou...era a Gabi. Gabriela, Cravo e Canela, é simplesmente a melhor pessoa que pude encontrar em SP. Conheço ela desde que tínhamos uns 09 anos e dividimos nossas mini- trakinas(aliás, saudades) em um recreio cheio de pirralhos chatos e briguentos. Lembro que parecíamos dois velhos em meio aquela multidão de crianças gritando, e que compartilhavamos da mesma sensação de "o que estamos fazendo aqui" e que ela, com aquele jeitinho revoltada de ser me perguntou: "Eu odeio crianças, porque tenho que ser uma delas?"
Com essa frase a Gabi ganhou total a minha confiança, já que eu também odiava aquelas pestes, e desde então a gente nunca mais se desgrudou. Quem me mantém firme nos piores momentos é ela, e eu sou grato por ter uma melhor amiga tão preocupada, paciente e carinhosa que me ajuda mesmo nas piores crises. Então ver que a mensagem era dela, me tirou um sorriso naquele dia tedioso e triste, até então.
-------------------------------------------------Gabizinha ❤️: Mano, tô indo pra Poa. Desculpa mesmo ter avisado em cima, não esqueci do nosso rolê e tô bem chateada por te dar bolo. Mas eu compenso quando voltar te fazendo aquela torta de sorvete que tu ama. Te cuida irmãozinho e não faz nada que eu não faria. Bjo bjo fedorento ✔️✔️
Tudo bem doida,
te cuida por aí, e não vai beber
demais revendo os amigos daí ein, não tô aí pra te cuidar dos PT's. Bjo mulher ❤️-----------------------------------------------
Confesso ter ficado um pouco chateado, pois tínhamos combinado de ir na BDA assistir os amigos do irmão dela batalhar no domingo. Mas devia ter rolado algo sério na família pra resolver e ela não teve como ficar por aqui. Até porque a Gabi nunca desmarca nossos rolês.Voltei então aos sentimentos de antes, aquela confusão e espécie de tristeza que no último mês tinha se intensificado, visto que minha namorada, agora ex, tinha decidido terminar tudo e me deixado numa bad interminável.
Relações são complicadas né? O fato de se envolver com outra pessoa, cheia de medos, opiniões, gostos que podem ser ou não diferentes dos nossos. É uma coisa louca, que quando termina sem uma explicação coerente parece te deixar num beco sem saída, pensando em seguir a vida e por outro lado querendo ir atrás e entender o que fez ela agir daquela forma. Então, eu como romântico apaixonado e bobo, estava aqui...querendo de volta alguém que já não se encaixa comigo e que fez uma decisão, partir da minha vida, sem explicação alguma. O problema maior é que a Letícia, que carrega no nome o significado de "aquela que trás felicidade", passou a ser o motivo pelo qual eu passo a maior parte do tempo dentro do quarto. Já que, pra completar, ela mora apenas algumas quadras aqui de casa.Pensar nisso tudo, encheu meus olhos de lágrimas e fez passar um filme do nosso término novamente na cabeça. Ela, com aquele cabelo colorido na altura dos ombros voando por conta do vento forte, que precipitava um temporal que chegava, no meu coração e na cidade, me dizendo coisas sem sentido sobre porque não dariamos certo e me enrolando ao máximo sobre o fato de não gostar tanto assim de mim.
Lembro que ela simplesmente virou as costas e me deixou sentado na mesa da nossa sorveteria preferida em meio a uma chuvarada que iniciava. E saiu, correndo, como quem corre por medo...e acho que na verdade, a Lê tinha mesmo medo, medo de amar.
Essas cenas rodavam infinitamente na minha cabeça e eu decidi começar a compor novamente...escrever o quê sinto agora, o quê sinto quando esbarro com ela sem querer na rua e o que sinto sobre amar e não ser amado de volta...e finalmente acho que a música começa a tomar forma na minha cabeça, tornando os meus sentimentos sobre a Letícia mais doces do que amargos, porque a realidade é que vivemos uma história boa, mesmo no curto período em que ela se permitiu sentir algo por mim. As coisas funcionam assim, e talvez, não seja tão ruim transforma-las em música não é?Pego a caneta mais perto na escrivaninha e sinto as palavras fluírem para aquele papel.
O espelho no canto do quarto mostra um menino de cabelos escuros curtos e bagunçados, por conta do calor e da soneca da tarde, usando uma camiseta preta com pequenos desenhos estranhos e coloridos espalhados sobre ela, uma caneta na mão e um rosto pálido com piercings na sobrancelha e no canto das têmporas, que carrega um ar cansado e ao mesmo tempo ansioso para produzir e postar, isso mesmo, postar a quinta música do canal, e com toda certeza, a música que mais carrega um pouco de mim.Enquanto cantava e lia a letra recém escrita, senti as lágrimas rolarem, e o sentimento sendo passado para dentro das caixas de som do meu quarto...e quanto ouvi novamente, torci para que tocasse os corações dos jovens românticos e tristes como eu, em algum quarto em SP ou em qualquer outro estado...eu queria que minha música tocasse esses corações, especialmente, e fizessem eles entender que todo mundo passa por essas coisas em algum momento, e isso não é o fim do mundo. Dei o nome dela de "Te vi na rua ontem" e em silêncio, dediquei ao meu amor não correspondido...esperando que a Letícia em algum lugar por aí escutasse e lembrasse de mim, tolo?sim...eu sei.
Fechei os olhos no meio de um trecho da música já pronta e simplesmente, apaguei.🎶🎶🎶🎶🎶🎶🎶🎶🎶🎶🎶🎶
"Ainda penso muito em ti
A vida não tem sido justa
'Cê sabe, ainda 'tô aqui
Sua falta ainda me assusta..."
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Acordei no meio da madrugada em um salto, e dessa vez quase caí da cama. Eu podia jurar ter escutado um barulho de carro batendo, um estrondo gigantesco, tão grande que corri pra janela ver se tinha acontecido um acidente ali perto.
Senti um vento frio invadir meu quarto ao abrir a cortina, e um arrepio percorreu todo meu corpo. Acho que meus sonhos estavam se tornando muito reais ao ponto de eu alucinar e ouvir coisas. Eu era uma pessoa sensitiva e acontecimentos como esse me deixavam extremamente preocupado. Mas era de madrugada e eu não poderia fazer nada naquele momento, exceto deitar e tentar voltar a dormir, o quê, provavelmente, seria impossível naquela noite.Decidi dar uma olhada em como estavam as views da minha música recém postada e acabei me surpreendendo muito, já tinham uns 300 e poucos acessos (eu só tinha conseguido uns 150 nas músicas antigas) e vários comentários positivos de pessoas com corações partidos de todo Brasil. Aquilo foi suficiente pra sossegar um pouco meu coração angustiado e arrancar um sorriso do meu rosto cansado. Talvez eu estivesse conseguido completar meu objetivo, de tocar as pessoas com a música e isso já era suficiente pro dia de hoje. Fechei os olhos e "flutuei" para um outro universo.
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❗❗Gente, quero pedir desculpas por não postar sempre. Eu me senti insegura achando que ninguém estivesse gostando, mas vocês vem comentando pra eu voltar a escrever que até me animei a continuar nossa história.
Obrigado por lerem até aqui, sério, fico muito feliz ❤️❗❗Espero não decepcionar ninguém...bjos
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Quando A Rima Nos Uniu
Teen FictionO tempo passa, os romances aparecem, as amizades mudam e tudo se torna tão novo e diferente. A adolescência nunca foi fácil e agora quando um amigo corre perigo é necessário se juntar para encarar os perrengues da vida. Quando a rima nos uniu, conta...