Elise P.O.V
Jamais estive tão furiosa quanto agora em toda a minha vida.
Minha marcha até o palácio é dura e apressada, as pessoas e carros passam como se fossem borrões pelo canto de meus olhos. Quem ele, John, pensava que era para sujeitá-la a tal situação?
Pobre de sua querida esposa, que aguardava certamente por ele em vigília toda a madrugada enquanto aquele cão imundo se deitava com qualquer vadias que encontrasse. Sim, ela era uma delas agora. Ela havia se transformado em uma vadia sem coração, que destrói lares com aquela droga de vagina sem controle.
Em meio a uma tomada de fôlego logo na esquina do palácio, trombo com força em um passante, caindo com tudo de cara na calçada fria de concreto.
- Droga... - murmuro baixinho.
- Ei, coincidência nos encontramos novamente.
Aquela droga de voz.
- Oi cara. - tapo o sol brilhante como nunca antes com uma das mãos levemente ralada, sorrindo vergonhosamente para o amigo de John. - Parece que sim.
Ele riu anasalado, dando a mão para que eu me levantasse com gentileza.
- Michael. - se apresenta ele, dessa vez dando nome aos rostos. - E você é...?
- Elise. - estendo a mão em um cumprimento firme. - Diga Michael, onde vai toda vida que está sempre nessa esquina?
- Vou à confeitaria do outro lado do quarteirão. - diz ele simplesmente, dando de ombros de modo descontraído. - Adoro as tortinhas que eles fazem, a massa não se despedaça e o recheio é bom.
Mordo o lábio contrariada, ele até que era realmente divertido.
- Quem sabe queira ir lá comigo. - coçando o nariz, ele aponta para meu corpo. - Para que eu possa recompensar isso.
Olho para baixo e vejo que também ralei o joelho, além de levemente as mãos. Em um suspiro de desistência, concordo com seu convite, afinal de contas o tal John havia acabado com minha experiência anterior e isso me trouxe até aqui.
Poderia ser um sinal.
Caminhamos calmamente lado a lado, Michael sabia ser divertido. Não houve um momento sequer que tenha dito algo malicioso ou com segundas intenções, nós conversamos sobre bolinhos, sobre o campo, cavalos e corridas.
Ele parecia um homem verdadeiramente interessante.
- Vou querer um chá verde. - peço ao garçom que nos ouve atentamente.
- Eu quero somente um café. - diz meu parceiro.
- Diga Michael, como é poder viver e fazer o que quiser? - peço despretensiosa.
- Ah, bem... - após uma cara de confusão, ele toca a xícara e abre a boca para falar algo que não sai. - Acho que não sei muito sobre isso, penso que todos vivemos amarrados em nossos próprios compromissos.
Olho pela janela as crianças passando na calçada com suas mães e pais, um pouco perdida em meus próprios pensamentos.
- E você? Como é viver assim? - ele devolve a pergunta.
- Não sei, eu nunca realmente pude ser quem quero de verdade. - dou de ombros, terminando o chá.
- Que filosófico. - sua risada chega até meus ouvidos, ela me soa agradável e doce. - O John é um cara de sorte, ele sempre fica com as melhores.
Aquela colocação me incomoda um pouco, eu não tinha interesse algum em ser de John, jamais teria.
- Eu não vejo ninguém aqui que pertença à ele. - cruzo os braços, dando-lhe um olhar de tédio. - Talvez beijos sejam sempre sinais mal interpretados a final de contas.
Um olhar faiscante vem até mim, eu via nele o desejo, e via o desejo em mim também. É algo somente carnal, ele era um rapaz bonito e eu podia ter a liberdade que quisesse para aceitar seu convite, desde que ninguém descobrisse.
Aqueles dois, John e Michael, pareciam ter segredos os quais eu tinha demasiado interesse em descobrir. Não parecia somente o desejo de seduzi-lo, mas sim o de chegar até o fundo da razão de um homem casado ter dormido com ela e continuar com aquele teatrinho nojento de bom moço.
- Nesse caso, gostaria de jantar comigo?
Um convite sincero e espontâneo, recheado de esperança, fora dirigido em minha direção. Eu estava começando a adorar a ideia de quem era esse Michael. Nós voltamos para o palácio e ele acaba por parar pouco antes da minha entrada.
- E então, amanhã? - ele pede novamente.
Me aproximo e beijo sua bochecha demoradamente.
- Amanhã. - respondo ao me afastar, sumindo por entre os portões.
Com o coração disparado, vou para o quarto.
Chego até ele e vejo minha irmã sentada na beirada da cama, penteando seus cabelos com uma paciência hercúlea. Ela fazia movimentos ritmados e longos, tudo controlado enquanto fitava seu reflexo no espelho adornado e fazia caras e bocas. Eu sabia que em sua mente havia mil coisas se passando, e ela protagoniza histórias fantasiosas o tempo todo quando adquire aquele olhar distante da realidade.
- Theo, você não vai acreditar. - me jogo no espaço livre ao seu lado, de olhos brilhantes.
Conto tudo que aconteceu, desde Thomas até Michael, John e sua esposa.
Os olhos verdes de Theodora se acendiam em chamas avassaladoras.
- Eu sabia que era uma ideia idiota! - se jogando na cama, ela tapa o rosto para reprimir o som de seu grito de frustração. - A gente nunca deveria ter feito isso. Eu pisei na bola muito feio. Como vamos consertar isso agora?
Rolo os olhos, tocando seu ombro com a tranquilidade de um monge.
- Relaxa Theo, ninguém nunca vai descobrir.
- Eles irão ao baile! - relembra ela, exasperada. - É claro que irão descobrir. Como vamos explicar ao papai tudo que fizemos? Ele vai nos matar.
- Até lá, não terá mais nada que possa ser feito, só curta o momento. - suspiro, mirando seu rosto. - Amanhã é o meu dia, você me cobre?
- Ora, ora, veja só se você mesma não vai se aproveitar da minha cagada. - Theo revira os olhos, mostrando a língua. - É claro que eu te cubro, mesmo que não seja tão perfeita como eu. É melhor que eu penteie seus cabelos para que fiquem lindos como os meus amanhã, nunca se sabe o tamanho da decepção que ele terá quando se deparar com você
Depois daquilo, ela foi para o próprio quarto e eu fiquei perdida em pensamentos.
Eu odiava quando ela fazia essas comparações idiotas. Na cabeça dela, tudo que lhe dizia respeito era perfeito, uma criatura sem defeitos e divina, e costumeiramente acabava por fazer comentários zombeteiros. Nós éramos completamente idênticas, meu Deus. Nem se eu sofresse um acidente e ficasse completamente desfigurada seria possível dizer que há alguma diferença entre nós.
Mas agora, como seria quando todos nos vissem? Talvez fosse verdadeiramente desastroso, mas eu não queria descobrir antes da hora.
Michael, eu espero grandes coisas de você.
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All For Her ✔️
RomanceVocê acredita em amor de outras vidas? Ela se pergunta isso depois de sofrer a maior das atrocidades, ele tenta fingir ser o que não é. A violência resolve tudo. Era isso que Michael Gray pensava até conhecer Liesel, ele nunca quisera ser o bom moço...