Tiara ◌ pov
Pessoas de peixes. Planeta regente: Netuno, o que, no entanto, não nos torna frios. Representam o último estágio de aprendizado da Escola da Vida, ou seja, sempre tem muito a te ensinar. Seja defeito ou qualidade, somos marcados por forte sensibilidade e imaginação. Nas minhas atuais circunstâncias, defeitos, talvez até o que me manteve apaixonada pelo idiota do Peter, meu atual... ex.
Eu precisava descontar toda aquela raiva.
É claro que eu me sentia mal por ter saído de casa daquela forma, eu nem sempre gostava de irritar Pandora, até porque obviamente já estava bem encrencada, mas eu tinha motivos para tudo isso: há poucos dias, boatos correram de que Peter havia beijado uma outra menina (não estou com vontade de falar dela agora), então meditei até encontrar uma forma de descobrir se era verdade. Enfim, nessa noite, mandei uma mensagem a ele questionando, e sua resposta foi um simples "sim, me desculpe", sem um pingo de sentimentalismo. Havia tempo que se concretizada em mim a ideia de que meu namorado não me queria mais. Agora tudo estava claro, e só eu estava sofrendo.
Com lágrimas nos olhos, afastei lembranças boas ao lado de Peter, e, como costumava fazer sempre, girei nos dedos a pequena pedra de ágata conalina que tinha no meu colar favorito, com um lindo pingente de satuno. Era meu talismã. Eu nunca o tirava.
Não havia percebido o quanto a noite estava fria, e estava apenas com um moletom leve (meu favorito, a propósito, mostarda com desenhos de girassóis), então me sentei em um ponto de táxi vazio e escuro, com a companhia de pequenas aranhas que me obrigaram a levantar bem rápido. Pelo menos ainda havia a cobertura me protegendo da garoa que se iniciava.
Sem pensar duas vezes, liguei para meu melhor amigo Kaique, para
fazermos algo juntos como distração, e, claro, para eu contar o que aconteceu. Ele, como sempre fazia, concordou na hora em me encontrar.***
O garoto chegou logo. Como era domingo, havíamos nos visto há longos dois dias, então corri e lhe dei um abraço forte, mais contente.
-- Nossa, amiga, parece que faz o maior tempo que a gente não se vê. E aí, novidades? -- ele perguntou, ajeitando os cabelos na tela do celular. Kaique era bem mais vaidoso que eu.
Pensei um pouco.
-- Na verdade, sim. -- para verificar a chuva, saí do ponto de táxi coberto -- Olha, a chuva parou, mas ainda está muito frio. Vamos para... hm... comida chinesa, que tal?
-- Ah, eu apoio, vontade de comer aqueles temakis cheios de cream cheese, sabe? Hm, mas e você, mana? Não tinha virado vegetariana?
Como as ruas estavam cheias e, consequentemente, aconchegantes, caminhamos num ritmo lento, colocando a conversa em dia.
-- Eu sei, é que hot roll é a melhor comida do mundo. Eu posso ser só um pouco vegetariana, então.
-- Nada a ver, amiga, vegetariana é vegetariana, e também... -- mas ele se calou ao olhar para mim. Tensa e meio desanimada. Ele sempre percebia. Droga. -- Ai, o que foi? Caramba, o que o Peter fez dessa vez?
Kaique não era tão confortável com meu relacionamento com Peter (o qual, dito de passagem, tinha apenas seis meses). No começo, ele dizia que era porque meu namorado era do tipo que ficava com todas as garotas do colégio, mas mais tarde descobri (por Kaique, mesmo) que ele tinha se descoberto gay numa paixonite por Peter no sétimo ano, e havia até sofrido bullying por isso. Durou pouco, agora, quanto à sua sexualidade, tudo estava bem.
-- Terminamos... Ele ficou com a menina, mesmo, a Jade... me traiu, né -- não escondi o quanto estava decepcionada.
-- Ah, não. Aí já é demais... vou ligar para esse cavalo e falar umas verdades!
-- Não, deixa quieto, amigo, sério.
Um minuto silencioso instalou-se.
-- Mas, sabe, o universo te livrou dele assim. Ele não te merecia, amiga.
-- O pior é que metade da escola sabe que ele ficou com a Jade naquela festa, e se eles começarem a falar disso para...
-- Olha, amiga, saiba que eu vou esmurrar a cara do primeiro que te falar alguma coisa -- em uma pausa, ele jogou para traz as cordas do moletom rosa-bebê. Suas próximas palavras saíram como sussurros -- só que no começo vai ser um pouco difícil, mesmo.
Nervosa, comecei a mordiscar de leve o pingente de satuno.
-- Ah, daqui a pouco isso passa, sério. Mas agora você vai relaxar um pouco, eu pago seus hot rolls.
Kaique sabia me ler de uma forma única. Aliás, "única" é uma palavra ótima para descrever nosso relacionamento, que eu tinha certeza de que vinha de vidas passadas. Nós dois nos conhecemos apenas no ensino médio, ou seja, há quase dois anos, mas mesmo assim éramos totalmente conectados, acho que desde o primeiro dia de aula na escola nova, onde fizemos dupla na aula de Química e então nunca mais nos desgrudamos. Enfim, eu o amava muito, de uma forma especial que ultrapassava até o plano terrestre.
Após mais conversa, chegamos ao nosso confortável restaurante chinês favorito. A comida era ótima. A vibração era revigorante.
Kaique escolheu uma mesa qualquer e nos sentamos. Ele estava animado, mas disse que me contaria o motivo mais tarde. Me senti grata por tê-lo por perto, tendo um bom humor contagiante e tornando o término menos triste.
-- Olha só, você já está até rindo, amiga. Falei que terminar com aquele safado ia ser a melhor coisa.
-- Tá bom, mas, agora você me conta o que ia falar -- ele sorriu timidamente -- E aí, qual é a novidade? -- poderia ser qualquer coisa, as histórias de Kaique eram sempre incríveis.
-- O Leo me chamou pra sair. Amanhã. A noite.
Prendi a respiração, e, em uníssono, soltamos gritinhos histéricos.
Leo era um dos sete crushs de Kaique. Era, deles, o mais agradável, atleta e muito, muito engraçado. Eu torcia para dar certo, e a chance de isso acontecer era muito grande.
-- Ai, meu Deus! E para onde vocês vão? Que horas?
-- Ai, amiga, não sei! Você tem noção do que é ir para um encontro com o Leo del Mont? Nem roupa para isso eu tenho!
Continuamos conversando animados pelo resto da noite, então dividimos a conta e resolvi ir para casa. Eram onze da noite e Pandora já havia ido dormir, apenas Millie estava jogada no sofá assistindo Stranger Things. Ela não quis conversar muito.
-- A Pandora ficou brava e não deixamos pizza para você.
Antes de ir para meu quarto, portanto, fiz um bilhete pedindo desculpas à minha irmã mais velha. Não era algo que eu costumava fazer, mas sei que ela não merecia se estressar dessa forma por minha causa.
Naquela noite, não pensei mais em Peter.
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◌ Pequeno Feito Saturno
Любовные романыeu amo nossa intimidade eu amo seu olhar eu amo nosso jeitinho único de amar