O Irmão

13 - Fabiana

Ajudei o meu sogro nos preparativos da festa de aniversário de casamento deles. Trinta e cinco anos juntos. Fico pensando por quantas adversidades que esses dois já passaram. Meus pais estão juntos há vinte e sete anos e eu já vi diversas fases, mas por maior que tenha sido o problema, eles sempre souberam batalhar lado a lado, com muito carinho e respeito. Estava no buffet organizando as coisas junto com o Danilo, quando parei para admirá-lo. Ele parecia tão feliz. Os cachos estavam mais compridos, porém seu corpo parecia um pouco mais magro.

– Você está emagrecendo, amor. – Comentei.

Danilo parou o que estava fazendo e olhou para si.

– Você acha? Eu não mudei meus hábitos alimentares, nem os treinos.

– Mas você parece um pouco mais magro.

– Vou me pesar. – Ele disse e sorriu.

Continuamos a arrumar as coisas juntos com o pessoal do buffet e quando tudo já estava em seu devido lugar, fomos para o apartamento dele para nos arrumarmos.

Meu sogro fará uma surpresa, ele a convidou para jantar e depois do jantar eles virão para o salão, onde todos os convidados aguardarão.

Tomei banho e comecei a me produzir. Ouvi um som vindo do banheiro. Era Danilo, ele parecia vomitar. Dei dois toques na porta.

– Amor? Está tudo bem?

– Sim, só senti um pouco de enjoo.

– Tem certeza?

– Tenho sim. Vou tomar banho e já saio.

Continuei a me arrumar. Escolhi um vestido vermelho com o corpete justo e a saia rodada. Escolhi um sapato estilo boneca. Deixei os cabelos lisos e coloquei uma tiara dourada para sobressair nos meus cabelos platinados.

Quando Danilo saiu do banho, ele parecia mais pálido do que o normal.

– Tem certeza de que está tudo bem? – Perguntei acariciando seu rosto.

– Estou sim, amor, foi só um mal-estar. Devo ter comido alguma coisa que não me caiu bem.

– Acho que deve ser algo que você não comeu. Não te vi comer nada hoje.

– Não estou com apetite. Agora teremos a festa e eu vou comer tudo o que tiver.

– Acho bom mesmo.

Seguimos para o salão. Alguns familiares já estavam por lá, minha família chegou logo em seguida.

– Olha quem chegou! – Danilo falou alegremente.

Olhei para a porta e vi Daniel entrar de mãos dadas com uma linda mulher morena. Fiquei de queixo caído, aquela era Jaqueline, o ser mítico. Ela sorria com doçura e certa timidez, e em nada pareceu o monstro que haviam desenhado. Fomos recepcioná-los. Danilo deu um abraço no irmão que pareceu feliz em ver o caçula.

– Como vocês estão? – Daniel perguntou com um sorriso enorme, porém não me deu um beijo ou um abraço. – Viemos direto do aeroporto.

– Por que não me disse que viria? A gente teria ido buscar vocês no aeroporto.

– Não, o pai me disse que vocês estavam ocupados demais organizando tudo. Bom, você já conhece a Jaqueline. – Ele falou para o irmão com a mão nas costas da namorada.

– Claro, como vai? – Danilo perguntou um pouco sem jeito.

– Estou bem. Feliz em poder compartilhar com vocês. – Ela disse e eu novamente não vi nada de mal naquela mulher.

– Essa é a Fabiana, a minha namorada. – Danilo me apresentou.

Jaqueline me deu um beijo no rosto e segurou minha mão.

– Bom, espero tê-la como aliada no meu recomeço com os sogros.

– Pode contar comigo. – Falei para ela cheia de empatia.

Recepcionamos os outros convidados e cada um já estava em sua respectiva mesa. A nossa mesa era compartilhada com os noivos e Daniel e Jaqueline.

Quando o carro estacionou em frente ao salão. Apagamos as luzes e ouvimos dona Clara perguntar o que estava acontecendo. Então as luzes acenderam e gritamos "SURPRESA!".

Minha sogra chorou de emoção e recebeu nossos beijos e abraços. Ela o marido estavam muito felizes. Cumprimentaram os convidados e quando enfim se juntaram a nós em nossa mesa, ela me olhou e segurou minha mão.

– Eu sei que tudo isso tem a sua mão, sua danadinha. – Sorri cheia de amor por aquela mulher.

– Não há nada que eu não faça pela senhora.

Nos abraçamos e eu vi a forma como Jaqueline ficou desconfortável com a nossa demonstração de afeto. Puxei minha sogra de lado e pedi.

– Dê uma chance para ela, por favor. Ela não parece uma má pessoa e está disposta a fazer as pazes.

– Eu sei disso, meu amor. Vou me entender com a garota, está bem?

– Ficarei muito feliz.

Durante a festa, dona Clara por diversas vezes conversou com Jaqueline, as duas chegaram até a dar muitas risadas juntas.

– Você convenceu a velha a dar uma chance para a chata, não foi? – Danilo me puxou para seu colo e beijou meu rosto.

– Eu não fiz nada.

Bebi e comi de tudo, mas vi que Danilo não estava com muito apetite.

– Ainda está ruim?

– Acho que a minha gastrite está me pegando de jeito.

– Você tem gastrite?

– Já tive diversas crises quando adolescente. Mas fazia muito tempo que eu não sentia nada.

– Precisa ver um médico. Não pode ficar se alimentando tão pouco.

– Vamos procurar um, essa semana.

Dei um beijo em seus lábios e fomos dançar. Fiquei muito feliz por ver a família do meu namorado reunida e feliz. Fiquei feliz por estar com a minha família fazendo parte da família dele.

Percebi que Daniel me evitou a todo momento e eu me senti péssima por nossa discussão por telefone. Depois daquilo nós não nos falamos mais, e a forma distante com a qual ele me cumprimentou demonstrou que ainda estava chateado comigo. Bom, pelo menos a briga surtiu algum efeito, pois algumas semanas depois do acontecido, ele e Danilo começaram a se falar com frequência.

– Oi. – Falei ao me sentar ao lado dele quando ele estava só na mesa.

– Olá. – Ele falou e virou o rosto antes de tomar um gole do seu uísque.

– Eu queria te pedir desculpas pela última vez em que nos falamos, acho que eu me intrometi demais na sua relação com o Danilo. Você teve razão ao me chamar de intrometida.

Ele me olhou sério e disse:

– Você ama o meu irmão e quer que ele seja feliz, eu te entendo. Está tudo bem.

– Está mesmo? – Perguntei sentindo uma barreira enorme entre nós.

– Claro que está.

– Ok. Obrigada. – Falei me sentindo desconfortável e me afastei dele.