Não acredita?

377 32 3
                                    

Lica

Foi bem difícil me arrumar para a festa de inauguração com Samantha e Clara. Primeiro porque elas realmente são patricinhas e eu ficava sobrando horrores nas conversas sobre maquiagens, cabelos e penteados. Segundo que Lica 26 não parava de falar mal de mim um segundo sequer:

— Já disse que você tem que cuidar dessa palha ressecada que você chama de cabelo. — Disse tocando as minhas mechas. A parte mais difícil da existência dela era nesses momentos em que eu não estava só e por isso não podia mandar ela tomar no cu sem ser considerada surtada.

E terceiro: Samantha se trocando na minha frente era de certa forma muito... Como eu posso colocar? Me distraía. Distrai todo o meu corpo, entende? A risada dela, a forma como dançava pelo quarto enquanto "Dancing Queen" tocava e ela cantava a plenos pulmões. Para que você tenha uma certa ideia do que estava acontecendo comigo, cheguei até a imaginar que minha calcinha tinha ficado molhada vendo aquilo. Fui correndo no banheiro checar, desacreditada, mas soltei um suspiro de alívio e frustração quando vi o sangue:

— Eu sempre morro de rir lembrando disso. — Lica 26 brotou, como sempre, me assustando. Quase me fez cair da privada com a calcinha no calcanhar o que seria bem vergonhoso.

— O quê? — Perguntei irritada enquanto me limpava. Se fosse há alguns dias eu teria vergonha, mas já havia desistido de tentar qualquer privacidade com ela.

— Você achando que estava com tesão, mas na verdade era menstruação. — Gargalhou de novo, pegando outro cigarro de sua bolsa. — Nós somos um caos mesmo que vergonha.

— Você é muito irritante, sabia?

Sorriu pretensiosamente.

— Somos.

Depois disso o resto foi mais tranquilo, tive que ouvir Samantha reclamando do tempo que eu passei no banheiro e como eu havia atrapalhado a sua rotina de beleza. Honestamente, eu tinha que começar a gostar logo de uma patricinha.

Fiquei pronta horas antes das madames, mas confesso que certo momento foi mágico. Aconteceu quando Clara estava se arrumando no banheiro enquanto eu estava meio deitada meio jogada na cama as observando de saco cheio.

— Que foi? — Samantha me perguntou conforme me fitava pelo espelho. — Que cara emburrada é essa agora?

— Vocês demoram muito! — Reclamei, de novo. É uma das minhas únicas funções: ser gay e reclamar.

— Você que terminou muito rápido, Heloísa! Não passou nem um pó nessa cara pálida.

Lica 26 parou de tomar seu café (de novo, não sei de onde ela tirava essas coisas, provavelmente do cu, porque não vejo outra explicação) e se ajeitou na cadeira no meu lado.

— Ai é agora. — Tentei ignorá-la e manter meu foco na garota de cabelos cacheados em minha frente.

— Eu vou dar um jeito nisso. — Sam anunciou. Pegou alguns produtos da penteadeira de Clara – sim, ela tem uma penteadeira, elas são patricinhas assim – e se aproximou de mim. Ajoelhou na ponta da cama e ficou me encarando, se deparando com uma Lica muito confusa.

— Que é?

— Deita direito. — Eu é que não iria negar algo do tipo vindo dela. Me deitei totalmente na cama e para a minha surpresa essa garota se sentou em cima de mim, colocando os bagulhos de maquiagem no meu peito.

— O gay panic tá tenso, né? — Lica 26 deu um sorrisinho cúmplice. Como se quisesse dizer que me entendia. E entende mesmo, porque ela sou eu. Ah, você entendeu. — Espera só que vai piorar.

Amanhã - LimanthaWhere stories live. Discover now